terça-feira, maio 08, 2007

HÉRCULES 56

Silvio Da-Rin é um profissional bastante reconhecido no meio cinematográfico nacional. Apesar de ter dirigido o documentário em média-metragem A IGREJA DA LIBERTAÇÃO, sobre o trabalho do Frei Leonardo Boff, em 1985, é muito mais conhecido pelo trabalho que desenvolve no departamento de som, tendo aparecido nos créditos de importantes produções, como MAUÁ - O IMPERADOR E O REI (1999), AMORES POSSÍVEIS (2001), SEPARAÇÕES (2002) e QUASE DOIS IRMÃOS (2004), entre tantos outros. Estava, portanto, mais do que na hora de colocar, novamente, o seu próprio ponto de vista em uma narrativa. Por isso, foi com entusiasmo que os cinéfilos brasileiros receberam a estréia de Da-Rin em longas com HÉRCULES 56, que também segue a veia documental explorada anteriormente em suas manifestações mais autorais.
O episódio aqui enfocado não é estranho àqueles acostumados a apreciar o cinema feito no Brasil. Quem lembra de O QUE É ISSO, COMPANHEIRO? (1997) deve estar familiarizado com a história do seqüestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, no Rio de Janeiro, em 1969, por um grupo de manifestantes contrários à ditadura militar. HÉRCULES 56 é a versão em documentário deste mesmo episódio. Sem suspense ou fantasias históricas, temos de um lado os organizadores deste ato de terrorismo e manifestação social e, do outro, os diretamente beneficiados pela ação. Ou seja: os ex-presos políticos que foram soltos em troca da libertação do embaixador. E entre estes dois momentos isolados, uma impressionante pesquisa de imagens e arquivos da época.
Da-Rin constrói seu filme de um modo absurdamente simples: reuniu numa mesma mesa todos os sequestradores e os colocou a discutir o assunto. Sem interferências, deixaram o verbo correr e assim revelam fatos surpreendentes, assim como curiosidades ou pequenos detalhes que até tornam pitoresco um fato de dimensão muito mais séria do que a tranquilidade dos envolvidos poderia sugerir. Esta é a metade mais forte, digamos assim. Da outra destaca-se o árduo trabalho de campo executado em busca dos sobreviventes e na reconstituição dos passos destes após terem sido postos em liberdade: embarcaram no avião da Força Aérea Brasileira Hércules 56 e foram extraditados para o México. Dali, seguiram caminhos diferentes, entre os que permaneceram na militância e os que seguiram trilhas mais pessoais. Aqui o foco fica um pouco distorcido, mais preocupado com a veracidade dos fatos do que com a reflexão que poderiam oferecer.
HÉRCULES 56 é uma obra de grande importância no cenário cultural e político nacional. Com depoimentos de Franklin Martins, Flávio Tavares, Vladimir Palmeira e até do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, traça um painel bastante completo de uma jogada relativamente inocente, mas que obteve proporções muito maiores à medida em que se desenvolvia, adquirindo um relevância até hoje marcante. A se lamentar apenas a falta de uma maior profundidade teórica nos discursos. Nada, no entanto, que vá afugentar o espectador verdadeiramente interessado. Tanto que o filme foi premiado pelo júri popular no Festival de Cinema de Campo Grande e, notoriamente, foi escolhido para ser exibido, fora de competição e sob fortes aplausos, no encerramento do último Festival de Brasília.

Hércules 56, Brasil, 2006
(nota 7)



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