quarta-feira, fevereiro 28, 2007

BREAKING AND ENTERING

Tem um ditado que diz: "um passo para trás, às vezes, não significa necessariamente um retrocesso; pode ser, sim, o movimento preciso no sentido de criar impulso para seguirmos em frente". E este pensamento parece se aplicar perfeitamente ao novo trabalho do premiado diretor Anthony Minghella, BREAKING AND ENTERING (que provavelmente se chamará no Brasil "Invasão de Domicílio", enquanto que em Portugal foi batizado mais apropriadamente como "Assalto e Intromissão"). Apesar de ser bem menos ambicioso que os últimos longas dele, tem resultados artísticos superiores. Um elenco excelente, uma direção cuidadosa e nunca intrometida e uma boa história são mais do que suficientes para entregar ao público uma obra que merece ser descoberta.
Ao contrário dos épicos O PACIENTE INGLÊS (que lhe valeu o Oscar) e COLD MOUNTAIN, em BREAKING AND ENTERING Minghella procura um caminho mais ousado e perverso, com protagonistas de personalidades difusas e com subtramas nada fáceis ao espectador preguiçoso, que espera que tudo seja disposto na tela de mão beijada. Aqui se exige esforço, dividindo com a audiência a tarefa de entender e analisar as ações, sem porém a necessidade de um julgamento moral. O que vemos são pessoas comuns, com seus problemas e angústias, envolvidas em situações igualmente ordinárias, mas que quando vistas com cuidado revelam mais do que as conclusões óbvias podem oferecer.
Assim como em O TALENTOSO RIPLEY (ainda o melhor filme do cineasta na minha opinião), este novo longa se baseia basicamente na força dos atores e na precisão certeira do enredo em atingir a visão proposta. Para não ter margem de erro, Minghella chamou dois antigos colaboradores, Jude Law (visto tanto em RIPLEY quanto em MOUNTAIN, e indicado ao Oscar pelas duas atuações) e Juliette Binoche (premiada com o Oscar por O PACIENTE INGLÊS). Os dois, em desempenhos impecáveis, aparecem ao lado de uma intensa Robin Wright Penn (FORREST GUMP), formando um trio acima de qualquer suspeita.
Law e Penn são um casal em crise. Ele é um arquiteto bem sucedido, que recém abriu sua firma. Ela abandonou o trabalho para cuidar da filha, que possui uma estranha e rara doença. A menina, apesar de não ser dele, recebe tanta atenção quanto se fosse sua. Mesmo assim, mãe e filha compõem um mundo muito particular, excluindo-o com uma força crescente. Quando o novo escritório passa a ser arrombado regularmente, ele decide permanecer à noite como vigia, escondido dentro do carro, para ver quem está lhe causando tanto prejuízo. Quem ele encontra é um garoto habituado a escalar prédios. Pego no flagra, o rapaz foge em disparada. Mas a perseguição tem fim em frente ao condomínio onde mora com a mãe (Binoche), uma exilada da Bósnia, que tenta criar sozinha o filho, visto a ausência paterna. O arquiteto decide investigar com calma o que acontece ali, e antes que perceba estará envolvido romanticamente com a mãe do pequeno delinquente. Mas quando ela descobrir as primeiras intenções dele, será capaz de tudo para defender a honra familiar.
Se o modo como os personagens parecem interagir entre si soa um pouco forçado, na tela tudo discorre numa convincente naturalidade. É totalmente compreensível que Law, mesmo apaixonado pela própria mulher e por aquela família em que insiste em fazer parte, acabe se envolvendo com uma outra pessoa, certamente menos atraente a ele tanto intelectual quanto fisicamente, porém capaz de lhe oferecer algo que carece, a oportunidade de ser importante para alguém. Tal relação está fadada ao fracasso desde o início, mas acreditamos na sua veracidade e apostamos no sucesso da empreitada, mesmo sabendo que esta é uma rota sem saída. A conclusão, entretanto, tão dolorida quanto precisa, é um arroubo de realidade que nos joga de volta à sociedade como a conhecemos, com méritos e defeitos, mas acima de tudo feita a partir das decisões que tomamos diariamente.
Anthony Minghella, também autor do roteiro, faz de BREAKING AND ENTERING um curioso, pertinente e sagaz estudo do comportamento humano e das relações que se formam entre vítimas e heróis, privilegiados e carentes. Lançado internacionalmente no final do ano passado, passou injustamente em branco pelas grandes premiações, tendo conseguido apenas três indicações ao British Independent Film Awards (Atriz, para Binoche e Penn, e Revelação, para Rafi Gavron, que interpreta o filho de Binoche). Isso, somado ao desempenho ínfimo nas bilheterias (menos de um milhão de libras na Inglaterra e pouco mais de 300 mil dólares nos Estados Unidos), fará com que esta pequena preciosidade saia de circulação muito antes de ter tido uma chance de o público descobri-la. Com sorte, entrará em cartaz no Brasil. E mais felizardo será aquele que for atrás com o intento de desfrutá-la em todo o seu potencial. Qualquer esforço será mais do que compensado, pode apostar.

Breaking and Entering, Reino Unido/EUA, 2006
(nota 9)

MOTOQUEIRO FANTASMA

Apesar de ser leitor assíduo de histórias em quadrinhos, acho que nunca li uma do Ghost Rider (ou, como é chamado no Brasil, Motoqueiro Fantasma). Sei apenas que é um personagem obscuro do segundo (ou terceiro...) escalão da Marvel, muito longe da popularidade de um Homem-Aranha ou dos X-Men. É mais ou menos como Blade, com poucos fãs, porém fiéis. E foi baseado no bom resultado da adaptação do caça-vampiros interpretado por Wesley Snipes que decidiu-se levar para a tela grande o "Espírito da Vingança". Entretanto, com um roteiro confuso, um astro em visível decadência, efeitos especiais canhestros e um diretor pouco criativo, o resultado não tinha como ser mais constrangedor. Provavelmente era para ser uma aventura com altas doses de adrenalina, mas o que se vê é uma comédia involuntária pouco inspirada.
Faz um bom tempo que Nicolas Cage não emplaca um grande sucesso. O último foi A LENDA DO TESOURO PERDIDO, de 2004. Desde então ele tem aparecido em uma bomba atrás da outra: O SENHOR DA GUERRA, O SOL DE CADA MANHÃ, AS TORRES GÊMEAS, O SACRIFÍCIO... E quando tudo apontava para mais uma a caminho, a surpresa: MOTOQUEIRO FANTASMA se confirmou, no primeiro final de semana em cartaz, como a maior bilheteria de estréia de toda a carreira do ator oscarizado por DESPEDIDA EM LAS VEGAS (1995). Foram mais de 44 milhões de dólares arrecadados em apenas 3 dias nos Estados Unidos. Se por um lado parece ter agradado a platéia, com a crítica o resultado não foi o mesmo. No site www.razzies.com (o que elege as Framboesas de Ouro, os piores filmes do ano), Ghost Rider foi eleito o "Worst Movie of the Week", enquanto que no www.rottentomatoes.com (que reúne os principais críticos dos Estados Unidos), a nota média que o filme recebeu foi 2,7. E, entre a crítica e o público, eu definitivamente fico com os primeiros!
Os problemas de MOTOQUEIRO FANTASMA são muitos. O roteiro é pra lá de confuso (até agora não entendi direito os propósitos do protagonista, além da conclusão ser uma das mais absurdas dos últimos tempos... eu entendi bem ou ele preferiu continuar amaldiçoado ao invés de ficar com a mocinha?), os atores estão péssimos (se Cage está se confirmando como um notório canastrão, a até então bela Eva Mendes é que desponta como a maior decepção), os diálogos são amadores e os efeitos especiais são muito fracos. A originalidade passou longe da produção.
Com direção do péssimo Mark Steven Johnson (o mesmo do horrível DEMOLIDOR, com Ben Affleck), o filme fica indeciso entre se levar à sério (algo que nunca consegue, permanecendo na intenção) e em se firmar como um bizarro híbrido de comédia romântica de aventura (até chega a comover e provocar alguns risos da audiência mais despreocupada, mas só arranca irritação do espectador atento). Nem coadjuvantes de algum peso, como Peter Fonda (SEM DESTINO), Wes Bentley (BELEZA AMERICANA) ou Sam Elliott (OBRIGADO POR FUMAR) conseguem atrair uma maior simpatia. O desastre é grande demais, e o melhor é esquecê-lo o quanto antes. MOTOQUEIRO FANTASMA deveria servir como aquecimento para um ano em que os heróis dos quadrinhos prometem, e até atinge esta intenção, porém num sentido inverso: a frustração é tamanha que tudo que consegue é nos fazer desejar com ainda mais ardor a chegada de HOMEM-ARANHA 3 e do QUARTETO FANTÁSTICO 2 nas telas.

Ghost Rider, EUA, 2007
(Nota: 2)

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

OSCAR 2007 - Comentários

Bicampeão! Sim, pelo segundo ano consecutivo ganhei o bolão de apostas para o Oscar - tradição de anos entre eu e alguns amigos. Das 24 categorias do Oscar, acertei o vencedor em 13, e em outras 10 o vencedor era a minha segunda opção. OU seja, errei mesmo somente em uma categoria (Melhor Curta de Animação...). Veja abaixo como me saí:

Acertos:
FILME - Os Infiltrados
ATOR - Forest Whitaker (O Último Rei da Escócia)
ATRIZ - Helen Mirren (A Rainha)
ATOR COADJUVANTE - Alan Arkin (Pequena Miss Sunshine)
ATRIZ COADJUVANTE - Jennifer Hudson (Dreamgirls)
DIREÇÃO - Martin Scorsese (Os Infiltrados)
ANIMAÇÃO - Happy Feet
DIREÇÃO DE ARTE - O Labirinto do Fauno
DOCUMENTÁRIO - Uma Verdade Inconveniente
MAQUIAGEM - O Labirinto do Fauno
CURTA-METRAGEM - West Bank Story
SOM - Dreamgirls
EFEITOS VISUAIS - Piratas do Caribe 2
ROTEIRO ADAPTADO - Os Infiltrados

Perceba que acertei todas as principais categorias (Filme, Direção, as 4 de atuação, Animação, Documentário e Roteiro Adaptado), ou seja, os prêmios que verdadeiramente importam! Destes, os mais imprevisíveis eram os de Filme (não havia favorito), Ator Coadjuvante (Eddie Murphy era o mais provável) e Animação (Carros era o mais provável). Os outros eram todos bastante óbvios.

Agora, abaixo as minhas segundas opções que acabaram levando a estatueta dourada:

FOTOGRAFIA - O Labirinto do Fauno (ao invés de Filhos da Esperança)
FIGURINO - Marie Antoinette (ao invés de A Rainha)
DOCUMENTÁRIO CURTA - The Blood of Yingzhou District (ao invés de Two Hands)
MONTAGEM - Os Infiltrados (ao invés de Babel)
FILME ESTRANGEIRO - A Vida dos Outros (ao invés de O Labirinto do Fauno)
TRILHA SONORA - Babel (ao invés de A Rainha)
CANÇÃO - "I Need to Wake Up", de Uma Verdade Inconveniente (ao invés de "Listen", de Dreamgirls)
EDIÇÃO DE SOM - Cartas de Iwo Jima (ao invés de Piratas do Caribe 2)
ROTEIRO ORIGINAL - Pequena Miss Sunshine (ao invés de A Rainha)

Destes, surpresa mesmo foram as vitórias de O Labirinto do Fauno em Fotografia, já que Filhos da Esperança havia ganho o prêmio do Sindicato dos Fotógrafos, Marie Antoinette em Figurino, uma vez que o prêmio do Sindicato dos Figurinistas foi dividido entre Curse of the Golden Flower e A Rainha, A Vida dos Outros, da Alemanha, como Melhor Filme em Língua Estrangeira, quando O Labirinto do Fauno, do México, com seis indicações era o grande favorito, e a canção do documentário Uma Verdade Inconveniente, quando o musical Dreamgirls concorria nesta categoria com três canções! Pequena Miss Sunshine, premiado pelo Sindicato dos Roteiristas, não era improvável, mas como o roteiro de A Rainha era o mais premiado (inclusive com o Globo de Ouro e a Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA) de TODOS os 10 indicados (entre Adaptados e Originais), tal decisão chega quase a ser uma injustiça.

No final das contas, a 79ª entrega dos prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, os Oscars, foi bastante previsível - e, por incrível que pareça, muito justa. Todos os cinco principais indicados ganharam no mínimo uma estatueta, e outros trabalhos de destaque receberam o devido reconhecimento - além de injustiças históricas terem sido desfeitas (não, ainda não foi a vez de Peter O'Toole, que recebeu sua oitava indicação sem vitória!). Mas foi um grande ano, de bons filmes e ótimos desempenhos.

Confira a lista completa de premiados, por filme:

OS INFILTRADOS (Filme, Direção, Montagem, Roteiro Adaptado)
O LABIRINTO DO FAUNO (Direção de Arte, Fotografia, Maquiagem)
PEQUENA MISS SUNSHINE (Ator Coadjuvante, Roteiro Original)
DREAMGIRLS (Atriz Coadjuvante, Som)
UMA VERDADE INCONVENIENTE (Documentário, Canção)
O ÚLTIMO REI DA ESCÓCIA (Ator)
A RAINHA (Atriz)
BABEL (Trilha Sonora)
HAPPY FEET (Animação)
CARTAS DE IWO JIMA (Edição de Som)
MARIE ANTOINETTE (Figurino)
PIRATAS DO CARIBE 2 (Efeitos Visuais)
A VIDA DOS OUTROS (Filme Estrangeiro)

E era isso! Em 2008 tem mais!

domingo, fevereiro 25, 2007

OSCAR 2007 - Apostas

Essas são as minhas apostas para o Oscar 2007. Na segunda-feira, dia 26/02, a gente confere quantos acertos eu tive:

FILME
Os Infiltrados
(ou Pequena Miss Sunshine)

ATOR
Forest Whitaker (O Último Rei da Escócia)
(ou nenhum outro, vai ser o Forest mesmo!)

ATOR COADJUVANTE
Alan Arkin (Pequena Miss Sunshine)
(ou Jackie Earle Haley, de Pecados Íntimos)

ATRIZ
Helen Mirren (A Rainha)
(ou nenhuma outra, vai ser Mirren mesmo!)

ATRIZ COADJUVANTE
Jennifer Hudson (Dreamgirls)
(ou Abigail Breslin, de Pequena Miss Sunshine)

ANIMAÇÃO
Happy Feet
(ou Carros)

DIREÇÃO DE ARTE
O Labirinto do Fauno
(ou Dreamgirls)

FOTOGRAFIA
Filhos da Esperança
(ou O Labirinto do Fauno)

FIGURINO
A Rainha
(ou Marie Antoinette)

DIREÇÃO
Martin Scorsese (Os Infiltrados)
(ou Paul Greengrass, por Vôo United 93)

DOCUMENTÁRIO
Uma Verdade Inconveniente, de Davis Guggenheim
(ou Deliver us From Evil, de Amy Berg e Frank Donner)

DOCUMENTÁRIO-CURTA
Two Hands, de Nathaniel Kahn e Susan Rose Behr
(ou The Blood of Yingzhou District, de Ruby Yang e Thomas Lennon)

MONTAGEM
Babel
(ou Os Infiltrados)

FILME EM LÍNGUA ESTRANGEIRA
O Labirinto do Fauno, do México
(ou A Vida dos Outros, da Alemanha)

MAQUIAGEM
O Labirinto do Fauno
(ou Apocalypto)

TRILHA SONORA
A Rainha
(ou Babel)

CANÇÃO
Listen, de Dreamgirls
(ou I Need to Wake Up, de Uma Verdade Inconveniente)

CURTA DE ANIMAÇÃO
The Little Matchgirl, de Roger Allers e Don Hahn
(ou No Time for Nuts, de Chris Renaud e Michael Thurmeier)

CURTA-METRAGEM
West Bank Story
(ou Éramos Pocos)

EDIÇÃO DE SOM
Piratas do Caribe 2
(ou Cartas de Iwo Jima)

SOM
Dreamgirls
(ou Piratas do Caribe 2)

EFEITOS VISUAIS
Piratas do Caribe 2
(ou Superman - o Retorno)

ROTEIRO ADAPTADO
Os Infiltrados
(ou Filhos da Esperança)

ROTEIRO ORIGINAL
A Rainha
(ou Pequena Miss Sunshine)

Era isso. Resta torcer e esperar. A entrega do Oscar é neste domingo, 25/02, a partir das 22h (horário de Brasília). Até!


quinta-feira, fevereiro 15, 2007

XII GUARANI - INDICADOS 2007

Estes são os indicados oficiais ao XII Prêmio Guarani de Cinema Brasileiro, com os melhores da produção cinematográfica nacional em 2006. O resultado final com os vencedores será divulgado em breve:

FILME
A Máquina
Anjos do Sol
O Ano em que meus Pais Saíram de Férias
O Céu de Suely
Zuzu Angel

DOCUMENTÁRIO
Do Luto à Luta
Estamira
O Dia em que o Brasil esteve aqui
O Sol - Caminhando contra o Vento
Soy Cuba - O Mamute Siberiano

ATOR
Antônio Calloni (Anjos do Sol)
Gustavo Falcão (A Máquina)
Lázaro Ramos (Cafundó)
Marco Nanini (Irma Vap - O Retorno)
Matheus Nachtergaele (Tapete Vermelho)

ATRIZ
Fernanda Carvalho (Anjos do Sol)
Hermila Guedes (O Céu de Suely)
Irene Ravache (Depois Daquele Baile)
Mariana Ximenes (A Máquina)
Patícia Pillar (Zuzu Angel)

ATOR COADJUVANTE
José Dumont (Árido Movie)
Marcos Caruso (Depois Daquele Baile)
Otávio Augusto (Anjos do Sol)
Paulo Autran (A Máquina)
Selton Mello (Árido Movie)

ATRIZ COADJUVANTE
Bianca Comparato (Anjos do Sol)
Darlene Glória (Anjos do Sol)
Léa Garcia (O Maior Amor do Mundo)
Leona Cavalli (Cafundó)
Mary Sheila (Anjos do Sol)

DIREÇÃO
Beto Brant (Crime Delicado)
Cao Hamburger (O Ano em que meus Pais Saíram de Férias)
João Falcão (A Máquina)
José Eduardo Belmonte (A Concepção)
Sérgio Rezende (Zuzu Angel)

FILME ESTRANGEIRO
A Criança (Bélgica)
Caché (França)
Match Point (Inglaterra)
O Homem-Urso (EUA)
O Labirinto do Fauno (México)

ROTEIRO ORIGINAL
Anjos do Sol
O Ano em que meus Pais Saíram de Férias
O Céu de Suely
Tapete Vermelho
Zuzu Angel

ROTEIRO ADAPTADO
A Máquina
Achados e Perdidos
Crime Delicado
Depois Daquele Baile
Wood & Stock - Sexo, Orégano & Rock'n'Roll

EDIÇÃO
A Concepção
A Máquina
Árido Movie
O Ano em que meus Pais Saíram de Férias
Zuzu Angel

FOTOGRAFIA
A Máquina
Árido Movie
Cafundó
O Ano em que meus Pais Saíram de Férias
O Veneno da Madrugada

REVELAÇÃO
Fernanda Carvalho (Anjos do Sol)
Gustavo Falcão (A Máquina)
Hermila Guedes (O Céu de Suely)
Lilian Taublib (Crime Delicado)
Michel Joelsas (O Ano em que meus Pais Saíram de Férias)

TRILHA SONORA
A Concepção
A Máquina
O Ano em que meus Pais Saíram de Férias
O Céu de Suely
Zuzu Angel

SOM
A Máquina
Irma Vap - O Retorno
O Ano em que meus Pais Saíram de Férias
O Veneno da Madrugada
Zuzu Angel

FIGURINO
A Máquina
Irma Vap - O Retorno
O Ano em que meus Pais Saíram de Férias
O Maior Amor do Mundo
Zuzu Angel

DIREÇÃO DE ARTE
A Máquina
Irma Vap - O Retorno
O Ano em que meus Pais Saíram de Férias
O Veneno da Madrugada
Zuzu Angel

MAQUIAGEM
A Concepção
A Máquina
Cafundó
Irma Vap - O Retorno
Zuzu Angel

EFEITOS ESPECIAIS
A Ilha do Terrível Rapaterra
A Máquina
Fica Comigo Esta Noite
Irma Vap - O Retorno
Muito Gelo e Dois Dedos D'Água

A MÁQUINA (15 indicações)
O ANO EM QUE MEUS PAIS SAÍRAM DE FÉRIAS; ZUZU ANGEL (10 indicações)
ANJOS DO SOL (9 indicações)
IRMA VAP - O RETORNO (6 indicações)
O CÉU DE SUELY (5 indicações)
CAFUNDÓ; ÁRIDO MOVIE; A CONCEPÇÃO (4 indicações)
DEPOIS DAQUELE BAILE; CRIME DELICADO; O VENENO DA MADRUGADA (3 indicações)
TAPETE VERMELHO; O MAIOR AMOR DO MUNDO (2 indicações)
DO LUTO À LUTA; ESTAMIRA; O DIA EM QUE O BRASIL ESTEVE AQUI; O SOL - CAMINHANDO CONTRA O VENTO; SOY CUBA - O MAMUTE SIBERIANO; ACHADOS & PERDIDOS; WOOD & STOCK - SEXO, ORÉGANO & ROCK'N'ROLL; A ILHA DO TERRÍVEL RAPATERRA; FICA COMIGO ESTA NOITE; MUITO GELO E DOIS DEDOS D'ÁGUA (1 indicação)


domingo, fevereiro 04, 2007

Guarani 2007

Vai começar a votação da décima segunda edição do Prêmio Guarani, que desde 1996 vem escolhendo os melhores do cinema nacional. Os filmes concorrentes devem ter sido exibidos comercialmente em Porto Alegre, RS, entre o dia primeiro de janeiro e o dia trinta e um de dezembro de 2006. E aqueles aptos a indicações são:

1. Achados e Perdidos
2. Anjos do Sol
3. O Ano em que meus pais saíram de férias
4. Araguaya, A Conspiração do Silêncio
5. Árido Movie
6. Boleiros 2 - Vencedores e Vencidos
7. Brasília 18%
8. Cafundó
9. Cavaleiro Didi e a Princesa Lili
10. Cerro do Jarau
11. O Céu de Suely
12. A Concepção
13. Crime Delicado
14. Depois Daquele Baile
15. O Dia em que o Brasil esteve aqui
16. Didi, o Caçador de Tesouros
17. Do Luto à Luta
18. Estamira
19. Eu me Lembro
20. Favela Rising
21. Fica Comigo Esta Noite
22. O Fim e o Princípio
23. Gatão de Meia Idade
24. Ginga
25. O Homem pode Voar
26. A Ilha do Terrível Rapaterra
27. Intervalo Clandestino
28. Irma Vap - O Retorno
29. O Maior Amor do Mundo
30. A Máquina
31. A Mochila do Mascate
32. Muito Gelo e Dois Dedos d'Água
33. Mulheres do Brasil
34. Outra Memória
35. Se eu Fosse Você
36. Seus Problemas Acabaram
37. O Sol - Caminhando Contra o Vento
38. Sonhos e Desejos
39. Soy Cuba - O Mamute Siberiano
40. Tapete Vermelho
41. Trair e Coçar é só Começar
42. Veias e Vinhos
43. O Veneno da Madrugada
44. Wood & Stock - Sexo, Orégano & Rock'n'Roll
45. Xuxas Gêmeas
46. Zuzu Angel

Se fosse assistiu a mais de 30 destes títulos, eu lhe convido a participar a votação do Guarani 2007. Me mande um email, para robledo@argumento.net. As categorias de votação do Prêmio Guarani são:

Filme
Documentário
Ator
Atriz
Ator Coadjuvante
Atriz Coadjuvante
Direção
Filme Estrangeiro
Roteiro Original
Roteiro Adaptado
Edição
Fotografia
Revelação do Ano
Trilha Sonora
Som
Figurino
Direção de Arte
Maquiagem
Efeitos Especiais

Em breve divulgarei, aqui neste mesmo espaço e no site Argumento.net, a lista oficial de indicados em cada categoria!



sábado, fevereiro 03, 2007

DREAMGIRLS

Considerado, desde o início de sua produção, como um dos favoritos ao Oscar 2007, o musical "Dreamgirls" decepcionou quando foram finalmente divulgadas as indicações. Apesar de ter sido lembrado em seis quesitos (sendo que no de Melhor Canção concorre em três vagas), confirmando-se como o recordista de nominações neste ano, o longa ficou de fora das principais categorias, como Melhor Filme, Direção, Roteiro e Montagem. As esperanças, agora, recaíram nas técnicas, como Direção de Arte, Figurino e Som, além das altas apostas nos dois atores coadjuvantes, Eddie Murphy e Jennifer Hudson, premiados no Globo de Ouro, no Sindicato dos Atores e apontados como barbadas na maior festa do cinema mundial. Um resultado justíssimo. Afinal este não é um dos cinco melhores filmes do ano, apesar de possuir méritos inegáveis, basicamente os apontados pela crítica e pela indústria.
Baseado no musical da Broadway, que por sua vez é inspirado na trajetória real das Supremes, grupo musical dos anos 60 e 70 que tinha Diana Ross como vocalista, "Dreamgirls" é uma visão romanceada da realidade - e é importante destacar, não aprovada pelos verdadeiros envolvidos. Ross chegou a ameaçar a produção com um processo, e em qualquer declaração a respeito afirma categoricamente não ter encontrado no enredo da peça e no do filme nada similar ao que viveu. Porém alguns fatos e similaridades são impossíveis de negar, como a presença sufocante do empresário e o desligamento de uma das integrantes do trio por conflitos internos.
Claro que é tentador analisar o que vemos na tela diante uma perspectiva real - 'será que isso aconteceu de verdade?', nos perguntamos a todo instante. Porém esta não é a forma mais correta. Afinal, trata-se de uma obra de ficção, e como tal deve ser percebida. E dentro do contexto cinematográfico, os resultados são bem compensadores. "Dreamgirls" é um musical envolvente, porém irregular. Possui números de arrepiar, como "And I'm Telling You I'm Not Going", ao lado de outros constrangedores, como "Family". A cada ponto positivo, logo surge outro contrário. No final, fica-se no meio termo, nada demais, nem nada de menos.
Premiado também com o Globo de Ouro de Melhor Filme Musical ou Comédia de 2006, bateu fortes concorrentes, como os superiores "The Devil Wears Prada" e "Thank you for Smoking", além do excelente "Little Miss Sunshine", este ainda indicado ao Oscar de Melhor Filme. Mas seria praticamente impossível ignorá-lo numa categoria dedicada ao gênero musical. Na direção está Bill Condon, autor do roteiro de "Chicago" e diretor dos elogiados "Gods and Monsters" e "Kinsey". Condon faz um bom trabalho, ainda que inferior ao que o seu currículo prometia. O desenvolvimento da trama é muito certinho, tudo acontecendo de forma encadeada, sem grandes lances ou reviravoltas. E os números musicais lembram muito os de "Chicago", quase sempre num palco, com cenários luminosos no fundo. São poucos os diálogos que resultam em canções, e estes terminam por parecer forçados e fora de contexto. Por outro lado, o filme ganha durante as performances vocais dos protagonistas, todos muito bem escolhidos segundo este critério.
Se Beyoncé Knowles, Jamie Foxx e Eddie Murphy foram apostas seguras, que equilibram bem o estrelismo necessário a um projeto desta magnitude e o talento vocal e interpretativo digno da trama, a novata Jennifer Hudson é a grande surpresa. É praticamente impossível não sair após o término da sessão somente com ela em mente. A cada nova aparição ela domina totalmente a cena, e quando está ausente o filme parece ressentir de fôlego. Nem mesmo Murphy, ressurgindo com um desempenho digno de nota após anos esquecido, consegue batê-la. Beyoncé é linda, dona de uma bela voz, e nada mais. Foxx, elogiadíssimo em "Ray", é o elo fraco, não conseguindo equilibrar com cuidado as caretas vilanescas e os momentos de fraqueza e sentimentalismo. Hudson, no entanto, é poderosíssima. Ex-integrante do reality show "American Idol", ela já está com uma mão e meia na estatueta dourada mais cobiçada do mundo cinematográfico, e será uma conquista mais do que merecida. Sua personagem, Effie, é uma verdadeira 'Diva', uma cantora de voz hipnotizante e corpo possante, que entra em sai quando quer, e por se recusar a seguir ordens acaba pagando um preço às vezes alto demais. É no seu arco dramático que o espectador está interessado, e é com o que acontece com ela que nos importamos. Ela É o centro de "Dreamgirls", e ninguém mais.
Do início difícil, quando ninguém as conhecia, até o estrelato nacional, passando pelas dificuldades, arrependimentos e vitórias naturais em uma jornada tão rica, este longa acaba se assimilando por demais a outras cinebiografias do gênero, como os recentes "Walk the Line" e mesmo o já citado "Ray". Ray Charles em 2004, Johnny Cash em 2005 e agora as Supremes: será um ídolo da história da música norte-americana por ano? Quem serão os próximos? "Dreamgirls", por seu passado mais fantasioso e magnetizante, merecia mais glamour, charme e magia, e não a sensação de "to be continued" que experimentamos após sua apressada (apesar dos mais de 130 minutos de duração!) conclusão. E música sem emoção até provoca elogios, mas não encontra lugar no coração de ninguém.

Dreamgirls, EUA, 2006
(Nota: 7)


FLUSHED AWAY

Produzido pela Aardman, a mesma responsável pelos geniais "Chicken Run" e "Wallace & Gromit: The Curse of the Were-Rabbit", "Flushed Away" ("Por Água Abaixo") marca a estréia na direção da dupla David Bowers e Sam Fell (esse também co-autor do roteiro), que ocupam o lugar até então ocupados pelos criadores da companhia, Nick Park e Peter Lord (outro co-autor do roteiro de "Flushed"). Bowers e Fell se saem bem nesta nova responsabilidade, mas não à altura dos seus chefes. O novo filme é bonito, visualmente encantador e bem movimentado, mas desprovido de um humor mais ácido e de um enredo consistente.
Primeira experiência da Aardman no campo da animação digital, "Flushed Away" tenta reproduzir, numa nova tecnologia, o mesmo visual dos filmes anteriores, realizados com massinha de modelar. O resultado é curioso, apesar de ressentir de uma 'autenticidade' artística. Parece ser uma cópia, ao invés de uma inovação.
Se a aparência não chega a ser revolucionária, a trama, por outro lado, também não irá chocar ninguém, quanto mais surpreender. Roddy (voz de Hugh Jackman) é um rato de apartamento - vive sozinho em sua gaiola, numa bela casa londrina - e quando seus donos saem de férias ele acredita estar vivendo num paraíso, cercado de facilidades eletrônicas, brinquedos infantis e outros prazeres. Mas isso tudo acaba quando surge, vindo direto do esgoto da pia da cozinha, um ratão muito malandro e cheio de más intenções. O que acontece em seguida é que o novo inquilino logo toma conta do lugar, com Roddy sendo mandado, literalmente, 'por água abaixo'.
Muitos canos e tombos depois, ele chega a uma cidade subterrânea que é uma réplica da Londres da superfície, porém só habitada por ratos. No desespero para voltar à casa, acaba encontrando Rita (voz de Kate Winslet), e se envolvendo, ao lado dela, numa trama de rubis, sapos mafiosos e um plano mirabolante destes para acabar de vez com o universo dos ratos. E para impedir que isso aconteça, Roddy terá que mostrar seu verdadeiro valor e decidir o que quer para o seu futuro.
"Flushed Away", apesar de algumas boas piadas mais satíricas, deve funcionar muito melhor com o público infantil do que com os adultos. Algumas tiradas são tipicamente inglesas, o que deve limitar ainda mais seu espectro de audiência. Outro fator é a repetição de fórmulas já usadas no gênero, como as lesmas, que apesar de inegavelmente divertidas, são uma nova versão dos pingüins vistos em "Madagascar". Ou seja, a sensação de estarmos diante de um prato requentado é inevitável.
Os fracos resultados junto à crítica (foi indicado apenas ao Bafta, o Oscar inglês, de Melhor Longa de Animação do Ano, tendo sido ignorado nas premiações norte-americanas, como o Oscar e o Globo de Ouro) e nas bilheterias (arrecadou, nos Estados Unidos e na Inglaterra, menos de US$ 90 milhões, apesar de ter custado mais de US$ 140 milhões) comprovam um desempenho bem abaixo do esperado. Pelo jeito, o melhor mesmo seria voltar para as massinhas...

Flushed Away, Reino Unido/Estados Unidos, 2006
(Nota: 7)

HAPPY FEET

Uma das animações mais adoráveis da última temporada é "Happy Feet" ("Happy Feet - O Pingüim"). E o mais curioso a respeito dela, e provável causa dos seus méritos inovadores, é que esta produção não vem de um estúdio tradicional no gênero, além de ser a estréia de um veterano realizador neste universo "animado". Produzido pela Warner Bros., dirigido por George Miller (de sucessos tão díspares quanto "Mad Max" e "Babe") e com roteiro de John Collee ("Master and Commander: The Far Side of the World"), este filme conseguiu se sair bem tanto junto à crítica quanto com o público, mesmo provido de tão pouca expectativa. Apesar de ter tido um custo relativamente alto, US$ 85 milhões, só nos Estados Unidos arrecadou nas bilheterias quase US$ 200 milhões. Isso sem falar das indicações ao Oscar, ao Bafta, ao Satélite de Ouro e ao Globo de Ouro de Melhor Longa de Animação do Ano e da vitória, também no Globo, de Melhor Canção Original ("The Song of the Heart", do Prince).
"Happy Feet" conta a história de Mumble, um pingüim que nasce com um dom especial - e com isso, um problema. Apesar de não saber cantar, como todos os iguais da sua espécie, ele possui uma incrível habilidade com os pés, tornando-se assim excelente sapateador. O drama que enfrenta é que, para conquistar uma companheira, os pingüins-imperadores fazem uso do canto como arma de sedução. Mumble até tenta uma nova tática - o sapateado - mas o preconceito dos demais acaba por lhe expulsar do grupo. Os anciões acreditam que são mudanças como a que ele propõe que estão causando a falta de alimentos naturais. Mas nosso herói tem outra teoria: não seriam "alienígenas" (os seres-humanos) os responsáveis por esta nova condição? Sozinho, ele parte em busca de uma resposta, numa jornada em que irá se deparar com novos amigos, muitos perigos e descobertas e feitos até então inimagináveis para um pequeno pingüim.
Se os talentos apresentados na dublagem original são um caso à parte - estão, entre as vozes famosas, nomes como
Elijah Wood, Hugh Jackman, Nicole Kidman e Brittany Murphy - o destaque, assim como foi em "Aladdin" (1992), da Disney, ou em "Robots" (2005), da Fox, é Robin Williams, que aqui se supera mais uma vez ao se desenrolar em dois personagens: o histriônico Ramón e o mítico Lovelace. Ele consegue construir duas personalidades distintas, e ambas igualmente envolventes. E como "Happy Feet" é um 'semi-musical', Williams consegue ainda demonstrar seus dotes vocais, tendo como ponto alto a versão latina de "My Way", do Frank Sinatra. Murphy, em "Somebody to Love", do Queen, e o dueto entre Jackman e Kidman em "Kiss", do Prince, também são bem marcantes.
Outro ponto bastante positivo é o engenhoso roteiro, que apesar de um pouco longo e repleto de reviravoltas, consegue transmitir uma poderosa mensagem através de muito bom humor e aventuras vertiginosas, sem nunca chegar a cansar, ou pior, aborrecer o espectador. Ficamos grudados na tela a cada instante, e toda nova situações proposta pelo enredo aumenta a tensão e o consequente prazer em sua resolução. Visualmente impecável, com uma perfeição digital assustadora, possui ainda ação ininterrupta, de tirar o fôlego de qualquer um. "Happy Feet" parece ser mais um produto bem embalado para o público infantil, mas é muito mais do que isso: é uma grande lição de humanidade e consciência ecológica, numa história de amor encantadora.

Happy Feet, Australia/EUA, 2006
(Nota: 9)

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

FLAGS OF OUR FATHERS

Se há alguém em Hollywood que podemos considerar incansável é - além, obviamente, de Meryl Streep, que tem NOVE filmes em produção para este ano e para 2008 - Clint Eastwood. Ator, diretor, compositor, produtor: o homem simplesmente não pára! Depois da consagração de "Million Dollar Baby" ("Menina de Ouro"), que em 2005 ganhou 4 Oscars, inclusive os de Filme e Direção, ele voltou à tona em 2006 com dois novos trabalhos, visões distintas sobre a batalha de Iwo Jima, uma das mais sangrentas da Segunda Guerra Mundial. O primeiro filme, "Flags of our Fathers", ou "Bandeiras dos Nossos Pais", finalmente entrou em cartaz nos cinemas brasileiros com o equivocado título "A Conquista de Honra". Esta é a versão norte-americana do episódio. O olhar dos inimigos, os japoneses, é exposto em "Letters from Iwo Jima", lançado quase simultaneamente nos Estados Unidos e muito melhor recebido pela crítica: falado todo em japonês, recebeu o Globo de Ouro de Melhor Filme em Língua Estrangeira, além de somar quatro indicações ao Oscar: Filme, Direção, Edição de Som e Roteiro Original.
Não que "Flags" seja ruim. Não. Só não é grande coisa. Além de ser mais um filme de guerra, como tantos outros já vistos anteriormente, sem nenhum destaque. As cenas de batalha são absurdamente bem filmadas, mas nada diferentes do que já foi visto em "Saving Private Ryan", lá no distante 1998. E a trama, a princípio interessante, termina por se revelar numa sucessão de clichês sentimentais e não relevantes, ali colocados justamente para tentar arrancar alguma emoção barata de um espectador em busca de atos heróicos pouco significativos, porém visualmente belos - algo, aliás, discutido no próprio enredo.
A foto do cartaz do filme, bastante conhecida, é o ponto de partida de "Flags". Lá num distante 1945, com o povo norteamericano já cansado da guerra e exausto financeiramente, ver aquela imagem de soldados esforçados em levantar a bandeira pátria numa nova conquista funcionou como um catalizador de esperanças e ânimos. Três dos envolvidos naquela imagem - os que ainda restavam vivos - são chamados de volta ao lar para servirem como 'heróis da ocasião', ou seja, para despertar a atenção do público no sentido de levantar fundos para a manutenção da guerra - que, ironicamente, iria ter seu fim poucos meses depois.
Como o batalhão militar chegou até aquele momento do hasteamento da bandeira, e toda a simplicidade por trás daquele ato até então banal, é narrado simultaneamente à jornada dos três colegas pelos Estados Unidos, já não mais soldados anônimos e sim ídolos nacionais. A posição incômoda que eles enfrentam naquela realidade inesperada e indesejada e como cada um reage é o mais pertinente de toda a trama.
Encabeçado por Ryan Phillippe ("Crash"), Jesse Bradford ("Finais Felizes") e Adam Beach ("Códigos de Guerra") dando vida aos personagens reais John Bradley, Rene Gagnon e Ira Hayes, os três em performances corretas e seguras, "Flags" apresenta ainda um bom elenco de apoio, que conta com nomes como Jaime Bell ("Billy Elliot"), Paul Walker ("Velozes e Furiosos"), Barry Pepper ("Três Enterros"), Robert Patrick ("Terminator 2") e Melanie Lynskey ("Almas Gêmeas"). O que se percebe, no entanto, é que este não é um filme de grandes atuações, e sim de um conjunto de interpretações à altura da história que pretendem contar.
Se há algum astro envolvido, este é Eastwood, responsável por conseguir fazer, praticamente ao mesmo tempo, dois filmes tão marcantes. Provavelmente "Letters" seja mesmo superior, mas para isso teremos que esperar mais alguns dias. "Flags of our Fathers" já demonstra, porém, que a dedicação do realizador - ele não participa como ator - foi intensa, mesmo não proporcional ao resultado final. Inferior aos seus últimos trabalhos e desprovido de um olhar mais cruelmente crítico, o filme tenta uma reflexão até válida, mas vazia diante um contexto global, onde enfrentamentos são necessários, imagens são supervalorizadas e mentiras, de tão repetidas, se tornam verdades. Clint tentou fazer um alerta, e seu pecado foi ter sucumbido à própria mensagem de certa forma. Seu trabalho é lindo e impressionante, mas assim como a fotografia original, não consegue ir muito adiante de uma bela superfície, desprovida de conteúdo.

Flags of our Fathers, EUA, 2006
(Nota: 5)

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

LITTLE CHILDREN

Enquanto ator, Todd Field nunca chamou muita atenção. Talvez seu papel mais conhecido tenha sido o do pianista amigo de Tom Cruise no kubrickiano Eyes Wide Shut ("De Olhos Bem Fechados"). Porém, enquanto realizador, sua reputação vem atingindo resultados bem distintos. Seu trabalho anterior como diretor e roteirista foi In The Bedroom ("Entre Quatro Paredes"), que recebeu, em 2002, cinco indicações ao Oscar, inclusive para Melhor Filme. Algo meio superestimado, na minha opinião, mas ainda assim relevante. Mas nada comparável ao novo longa dele, Little Children ("Pecados Íntimos"), certamente um dos mais notáveis da safra 2006.
Com um elenco acima de qualquer suspeita, mesmo com as indicações ao Oscar da sempre excelente Kate Winslet (Melhor Atriz) e do até então desconhecido (ao menos para mim) Jackie Earle Haley (Melhor Ator Coadjuvante) acho difícil apontar um grande destaque. Patrick Wilson (Angels in America), Jennifer Connelly (Diamante de Sangue) e a veterana da televisão Phyllis Somerville (de séries como Sex and the City e Lei & Ordem) também entregam ao espectador atento momentos impressionantes. O olhar de desespero silencioso de Wilson, a angústia perturbadora de Haley, o prazer secreto de Winslet, a infelicidade disfarçada em bravura de Phyllis e a determinada luta pela felicidade de Connelly compõe um conjunto de atuações difícil de esquecer.
Contado em tom de fábula e baseado no romance de Tom Perrotta (também co-autor do roteiro), Little Children focaliza sua atenção numa pequena cidade no interior dos Estados Unidos. Como qualquer lugar assim, qualquer pequeno assunto pode chamar muita atenção. Talvez não seja este o caso da liberdade condicional de um pervertido sexual pedólatra (Haley), que voltou a morar na casa da mãe (Phyllis). A tensão em relação à presença no tarado no local contamina todos, principalmente em ambientes infantis, como piscinas públicas e playgrounds. E será num lugar assim que Sarah (Winslet), infeliz no casamento, irá se deparar com Brad (Wilson), um advogado frustrado, que não consegue ser aprovado no exame da Ordem e é sustentado pela esposa (Connelly). Ela leva a filha, ele o filho. E ambos começam a prestar atenção um no outro, a ponto de que um pequeno aperto de mão logo se transforma num abraço, e daí para um beijo é um instante.
Casos de infidelidade no cinema não são nenhum novidade. O grande lance aqui é, além da forma como é mostrado na dela (uma câmera subjetiva, não intrometida, sempre com um olhar perspicaz) é a coragem que os atores defendem seus personagens na tela. Kate chegou a declarar, numa entrevista, que odiaria encontrar na vida real uma mulher como Sarah, que afirma não ter absolutamente nada a ver com ela. Mesmo assim, durante os 130 min de projeção, Winslet É Sarah. O modo como ela se transforma é de deixar qualquer um de queixo caído.
Little Children é mais um daqueles casos de obra que provavelmente só será descoberta daqui há alguns anos. Apesar das indicações ao Oscar (concorrer ainda como Roteiro Adaptado), é quase certo que saia da festa de mão abanando. E isso não tem a menor importância. O relevante é ver a integridade dos artistas envolvidos, a bravura em levar adiante uma história que foge dos padrões mais convencionais, e e inteligência em nos fazer perceber que, muitas vezes, as grandes decisões da vida não são aquelas planejadas e esperadas, e sim aquelas que fazemos em questões de segundo, sem pestanejar. E a grande coragem, no fundo, não está em mudar, e sim em permanecer do jeito que se está.

Little Children, EUA, 2006

(Nota 9)

De volta ao velho fuso horário...

Pois bem, estou de volta ao velho fuso horário -2, da minha querida Porto Alegre. Muita coisa vivi nestes dois últimos meses, e pouco compartilhei por aqui. Em 60 dias percorri sete países totalmente novos para mim. Portugal e Inglaterra, agora, me parecem antigos amigos. Em terras lusitanas estive no sul (Algarve), norte (Porto, Guimarães) e centro (Lisboa, Sintra, Mafra). Foram mais de 20 dias só por aqui, cada um vivido com muito gosto. Já a minha Inglaterra foi o mundo cosmopolita da capital Londres, onde percorri monumentos da humanidade, assisti musicais, encontrei estrelas de hollywood nas ruas, vi preciosidades e encontrei ídolos. Também andei um pouco pelo interior (Cambridge), o que certamente contou para esta experiência ter sido tão válida.
Estive na Escócia e na Alemanha, e acho que tão cedo para estes lugares não volto. Não me entendam mal, adorei tê-los conhecidos. Mas o que vi foi mais do que suficiente. Na Escócia, Edimburgo - Inverness (Loch Ness) - Glasgow me mostraram o melhor do país. E na Alemanha, o destino seguinte, uma semana em Berlim foi tudo de bom. Mas parti sem sentir saudades. Quem sabe da próxima vez volto como convidado para o Festival de Cinema? Ah, a foto aqui ao lado foi na capital alemã, ao lado de um dos tantos ursos símbolos da cidade que estão espalhados por todas as esquinas.
Roma foi um caos. Ou melhor, a Itália é um caos. Mas é também irresistível. Fui embora dando graças aos céus, mas minutos depois já me perguntava quando voltaria. Conheci Roma e Veneza, mas quero muito mais. Nápoles, Milão, Pompéia, Sicília, Florença, Pisa, Verona... na próxima vez, será só Itália. E preparado para aguentar o mal humor e as grosserias dos italianos - ô gente chata! E falo com conhecimento de causa. Afinal, acha que o meu "Milani" vem de onde?
Paris é um sonho. Quero voltar sempre. Madri foi uma surpresa. Não esperava gostar tanto. E Portugal, início e fim desta viagem, parece sempre nos receber de braços abertos.
A partir de agora esse blog não mais acompanhará viagem alguma. Até pq as férias já acabaram. Mas quem sabe numa próxima ocasião?
Estou de volta ao sentido original do blog. "Cineronda". Cinema. Comentários críticos em primeira mão. Prontos? Vamos lá!