quinta-feira, fevereiro 01, 2007

LITTLE CHILDREN

Enquanto ator, Todd Field nunca chamou muita atenção. Talvez seu papel mais conhecido tenha sido o do pianista amigo de Tom Cruise no kubrickiano Eyes Wide Shut ("De Olhos Bem Fechados"). Porém, enquanto realizador, sua reputação vem atingindo resultados bem distintos. Seu trabalho anterior como diretor e roteirista foi In The Bedroom ("Entre Quatro Paredes"), que recebeu, em 2002, cinco indicações ao Oscar, inclusive para Melhor Filme. Algo meio superestimado, na minha opinião, mas ainda assim relevante. Mas nada comparável ao novo longa dele, Little Children ("Pecados Íntimos"), certamente um dos mais notáveis da safra 2006.
Com um elenco acima de qualquer suspeita, mesmo com as indicações ao Oscar da sempre excelente Kate Winslet (Melhor Atriz) e do até então desconhecido (ao menos para mim) Jackie Earle Haley (Melhor Ator Coadjuvante) acho difícil apontar um grande destaque. Patrick Wilson (Angels in America), Jennifer Connelly (Diamante de Sangue) e a veterana da televisão Phyllis Somerville (de séries como Sex and the City e Lei & Ordem) também entregam ao espectador atento momentos impressionantes. O olhar de desespero silencioso de Wilson, a angústia perturbadora de Haley, o prazer secreto de Winslet, a infelicidade disfarçada em bravura de Phyllis e a determinada luta pela felicidade de Connelly compõe um conjunto de atuações difícil de esquecer.
Contado em tom de fábula e baseado no romance de Tom Perrotta (também co-autor do roteiro), Little Children focaliza sua atenção numa pequena cidade no interior dos Estados Unidos. Como qualquer lugar assim, qualquer pequeno assunto pode chamar muita atenção. Talvez não seja este o caso da liberdade condicional de um pervertido sexual pedólatra (Haley), que voltou a morar na casa da mãe (Phyllis). A tensão em relação à presença no tarado no local contamina todos, principalmente em ambientes infantis, como piscinas públicas e playgrounds. E será num lugar assim que Sarah (Winslet), infeliz no casamento, irá se deparar com Brad (Wilson), um advogado frustrado, que não consegue ser aprovado no exame da Ordem e é sustentado pela esposa (Connelly). Ela leva a filha, ele o filho. E ambos começam a prestar atenção um no outro, a ponto de que um pequeno aperto de mão logo se transforma num abraço, e daí para um beijo é um instante.
Casos de infidelidade no cinema não são nenhum novidade. O grande lance aqui é, além da forma como é mostrado na dela (uma câmera subjetiva, não intrometida, sempre com um olhar perspicaz) é a coragem que os atores defendem seus personagens na tela. Kate chegou a declarar, numa entrevista, que odiaria encontrar na vida real uma mulher como Sarah, que afirma não ter absolutamente nada a ver com ela. Mesmo assim, durante os 130 min de projeção, Winslet É Sarah. O modo como ela se transforma é de deixar qualquer um de queixo caído.
Little Children é mais um daqueles casos de obra que provavelmente só será descoberta daqui há alguns anos. Apesar das indicações ao Oscar (concorrer ainda como Roteiro Adaptado), é quase certo que saia da festa de mão abanando. E isso não tem a menor importância. O relevante é ver a integridade dos artistas envolvidos, a bravura em levar adiante uma história que foge dos padrões mais convencionais, e e inteligência em nos fazer perceber que, muitas vezes, as grandes decisões da vida não são aquelas planejadas e esperadas, e sim aquelas que fazemos em questões de segundo, sem pestanejar. E a grande coragem, no fundo, não está em mudar, e sim em permanecer do jeito que se está.

Little Children, EUA, 2006

(Nota 9)

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