segunda-feira, abril 30, 2007

A VIDA É UM SOPRO

"É possível contar a história de um povo através da sua arquitetura?" Com essa premissa bastante ambiciosa começa o material de divulgação do filme A VIDA É UM SOPRO, trabalho de estréia na direção do gaúcho Fabiano Maciel, há anos radicado no centro do país. E tendo essa intenção em mente, o realizador não poderia ter sido mais feliz na escolha do personagem enfocado: Oscar Niemeyer, um dos maiores arquitetos da História e um dos grandes gênios já nascidos no Brasil, reconhecido internacionalmente pela contribuição que sua obra gerou à arte e ao desenvolvimento arquitetônico mundial.
O melhor, como não poderia ser diferente, foi a sábia decisão de Maciel em deixar o próprio Niemeyer como protagonista. Ou seja, apesar de um belo trabalho de pesquisa, o longa não se apóia em imagens antigas, depoimentos de outros e descobertas garimpadas a muito custo. Esse tipo de material e recurso até existe, mas está presente apenas como ilustração, e não como alicerce. Quem oferece esta base é, claro, Niemeyer, que está vivo e bastante lúcido aos 99 anos de idade (ele completa um século de vida no dia 15 de dezembro de 2007). O diretor afirma ter feito várias entrevistas, durante alguns encontros em pouco menos de uma semana, com um total de aproximadamente 400 perguntas. Niemeyer respondeu apenas as que lhe interessava. E, com estas respostas, estava recolhida a matéria-prima para um dos mais interessantes e curiosos documentários nacionais recentes.
Nestes 99 anos, Niemeyer calcula ter feito algo em torno de 1000 projetos, sendo que 600 destes chegaram a ser executados. Todos os mais importantes, que fizeram do seu nome referência mundial, estão presentes: Pampulha, em Minas Gerais, Brasília, a sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, a sede do Partido Comunista, em Paris, a Universidade de Argel, na Argélia, o Museu de Arte Moderna de Niterói, no Rio de Janeiro. Ainda assim, poucos exemplos de uma carreira que quebrou barreiras e gerou novos conceitos, dentro e fora do seu campo de atuação. O espectador interessado neste ponto de vista sairá mais do que satisfeito, pois o filme oferece um amplo painel de quem foi e o que representou o arquiteto. Mas o discurso empregado não se contenta só com isso; há mais, muito mais. E assim temos a chance de nos depararmos com um Niemeyer falível, crítico, por vezes desiludido, desbocado, audacioso, consciente de sua importância e dos feitos que protagonizou.
A VIDA É UM SOPRO é uma aula de história, de cultura, de sociedade e desenvolvimento, mas, acima de tudo, de vida. E além do clichê mais comum do gênero. Não porque iremos nos inspirar nos caminhos percorridos pelo mestre retratado. Afinal, alguém como ele não nasce todos os dias. Mas, sim, por nos mostrar que mesmo os mais sábios são passiveis de erros e de pequenas falhas, como desprezo e orgulho. E, tornando-o humano, Fabiano Maciel conseguiu fazer do Oscar Niemeyer que escolheu ainda mais universal. Uma decisão no mínimo inteligente. E, quem ganha, além dos realizadores e do público, é o filme em si, que adquire uma dimensão ainda mais imprescindível.

Oscar Niemeyer - A Vida é um Sopro, Brasil, 2007
(nota 8)

sábado, abril 28, 2007

MINHA MÃE QUER QUE EU CASE

O que falar de MINHA MÃE QUER QUE EU CASE, título nacional patético, porém totalmente adequado para um desastre como este? Tudo, absolutamente tudo aqui é muito ruim. A começar pelo gênero, uma comédia romântica sem a menor inspiração, que se limita a repetir os mais comuns clichês, sem qualquer preocupação em reciclá-los. Está tudo lá: as trapalhadas inverossímeis, as personagens sem a menor função além de ocupar espaço na tela, o bichinho de estimação engraçadinho... até torta na cara tem! Enquanto isso, a trama vai se desenvolvendo aos trancos e barrancos, da maneira mais previsível possível.
E qual é o enredo? Bem, o nome do filme entrega tudo, já de bandeja. Diane Keaton, péssima em cena, exagerada, repetindo à exaustão todos os seus trejeitos mais irritantes, é uma senhora que criou sozinha as três filhas. As duas mais velhas não passam de estereótipos - a única, com um pouquinho mais de destaque, é interpretada por Lauren Graham, do seriado "Gilmore Girls". Ela é uma psicóloga, e tenta, vez que outra, entender as loucuras da família. A do meio, vivida pela bela Piper Perabo, de DOZE É DEMAIS, praticamente não tem falas, aparecendo apenas para desfilar a bela figura. Já a caçula ganha corpo e voz da também cantora Mandy Moore, aqui investindo na carreira de atriz. Depois de pequenas participações em bobagens inofensivas como TUDO POR UM SONHO (2006), A GALERA DO MAL (2004) e UM AMOR PARA RECORDAR (2002), ela finalmente ganha um papel de protagonista. Melhor seria continuar como coadjuvante.
O problema da mamãe (viúva? separada? desquitada? solteira? não se sabe...) é que, apesar das duas filhas mais velhas estarem bem casadas e encaminhadas na vida, ela não se conforma com os fracassos românticos da menor. E por isso resolve se intrometer, colocando um anúncio na internet para encontrar o par ideal para a pequena. O selecionado é um jovem arquiteto, muito rico, chique, refinado e chato. Um pastel de vento. Neste meio tempo surge outro rapaz no caminho da moça, um músico que cria sozinho o filho. Ele a encanta com seu jeito natural e sincero. Por qual dos dois a garota irá se decidir?
Michael Lehmann, diretor do também chatinho, porém um pouco mais interessante, 40 DIAS E 40 NOITES, com Josh Hartnett, coordena este novo fracasso. Ao invés de tentar se bastar no carisma das atrizes, ele força por demais a barra, abusando da comédia visual e desproporcional, com piadas que constrangem o espectador. Uma atriz como Keaton, vencedora do Oscar por NOIVO NEUTÓTICO, NOIVA NERVOSA (1977), de Woody Allen, e presente em títulos como O PODEROSO CHEFÃO (1972), REDS (1981) e ALGUÉM VAI TER QUE CEDER (2003), não precisaria dessa cataástrofe no currículo (apesar dela ter também uma boa quantia de bombas no passado). Vergonhoso!
MINHA MÃE QUER QUE EU CASE, ou "Because I Said So", é embaraçoso. Sem ritmo, dirigido por descuido com um cineasta amador e defendido por um elenco completamente perdido em suas intenções, se salva apenas pelo interessante Gabriel Macht (UMA CANÇÃO DE AMOR PARA BOBBY LONG), um ator que merece ser descoberto. No mais, a trilha sonora óbvia, o roteiro linear e o figurino assustador terminam por afugentar até o mais bem intencionado da platéia. Evite com todas as forças!

Minha Mãe Quer Que Eu Case, EUA, 2007
(nota 2)

quinta-feira, abril 26, 2007

HOLLYWOODLAND


Até que ponto confundimos verdade com ficção? HOLLYWOODLAND - BASTIDORES DA FAMA, trabalho de estréia no cinema do veterano da televisão norte-americana Allen Coulter (de séries como "Roma", "Six Feet Under", "Os Sopranos", "Sex and the City", "Arquivo X" e "Wonder Years"), trabalha basicamente com este conceito, abordando temas como fama e fracasso a partir de um fato real: o suposto suicídio do ator George Reeves, famoso na Era de Ouro de Hollywood por ser o primeiro intérprete do Homem de Aço da série televisiva "As Aventuras de Superman".
Após a morte, a mãe dele decide contratar um investigador particular, pois acredita que o filho foi assassinado. Duas tramas passam a se desenvolver paralelamente, a do detetive que julga estar envolvido no grande caso de sua carreira e a do intérprete em busca de uma chance de verdade na sétima arte. Nenhum dos dois encontra, realmente, o que espera, mas não sem antes passarem por diversas provações e descobertas.
Reeves era um cara bonito, que começou numa ponta em E O VENTO LEVOU e que teria tudo para ser um astro caso não tivesse virado amante da esposa de um dos maiores chefões da MGM. Ele acaba atingindo o estrelato, mas não da forma de esperava - com um seriado infantil, numa época em que a televisão era vista como a "irmã pobre" do cinema. A frustração - romântica e profissional - se agrava quando encontra uma garota mais interessada no que ele tem a oferecer ao invés do que os dois poderiam construir juntos. Ou seja, motivos para acabar com a própria vida ele teria muitos. Tantos quanto o número de pessoas que o desejavam morto: a namorada, que temia ser abandonada; a ex-amante, que buscava vingança; o marido traído, que queria sua honra.
Por outro lado, o que acontece no passado é só pano de fundo neste filme de várias camadas. HOLLYWOODLAND é, sim, sobre sonhos perdidos e desejos não realizados. E o exemplo em foco é o do verdadeiro protagonista, o encarregado da investigação. Louis Simo não tem um emprego fixo, perdeu a esposa e o filho para outro homem e é traído pela namorada. Mas tem esperança num futuro melhor, numa possibilidade de mudança. E irá se agarrar com todas as forças em qualquer vislumbre deste destino. Assim como a vítima do caso. A diferença é que um está morto, enquanto que o outro - ainda - não.
Se está na direção o ponto mais fraco de HOLLYWOODLAND - Coulter não consegue dotar sua narrativa de um ritmo mais forte, estendendo desnecessariamente o desenvolvimendo do enredo, com explicações óbvias e soluções pouco convincentes - o melhor é a ambientação, noir, muito mais simpática e efetiva que a vista, por exemplo, no recente e pretencioso DÁLIA NEGRA. Outro fator positivo é o ótimo elenco reunido, um conjunto de nomes entregues ao projeto, todos em performances muito acima do habitual. Adrien Brody (vencedor do Oscar por O PIANISTA) é o obstinado perfeito, e cada tombo do personagem é levado até as últimas conseqüências, de modo dedicado e muito competente. É daqueles atores que mostram tudo num olhar, com muita eficácia. Ben Affleck (premiado como Melhor Ator no Festival de Veneza e indicado ao Globo de Ouro como Melhor Ator Coadjuvante por este desempenho) aparece na melhor atuação de sua carreira, em que o visual canastrão que lhe é tão característico se encaixa perfeitamente, conseguindo aprofundar as decepções e tristezas enfrentadas sem exageros ou recursos externos. Já a bela Diane Lane (indicada ao Oscar por INFIDELIDADE) deixa o visual "mulher comum" e se assume como uma femme fatale provocadora e carente, dona de suas ambições e no controle de uma invejada posição. Ela e Affleck funcionam muito bem em cena, enquanto que Brody oferece doses exatas de fragilidade e perseverança no mais obstinado dos retratados.
HOLLYWOODLAND teve uma recepção mista da crítica especializada, além de ter tido um péssimo desempenho junto ao público, tendo sido lançado em poucas salas nos Estados Unidos e faturado menos de dois milhões de dólares nas bilheterias. Performance bastante modesta para um filme que traz nomes de tanto destaque e, principalmente, por ser envolto numa 'embalagem' tão atraente e interessante. Uma tragédia inspirada num fato real, estrelas de Hollywood, um homem em busca da verdade, mulheres fatais e seres desesperançados: como ser mais atraente? Porém, apesar de todos estes dados, esta não é uma obra de suspense ou um longa de mistério barato. Ao invés disso, se coloca mais como uma reflexão sobre o comportamento humano. E o que percebemos é que, quanto mais perto das estrelas, mais difícil é discernirmos a luz da escuridão.

Hollywoodland, EUA, 2006
(nota 7)

quarta-feira, abril 25, 2007

O MUNDO EM DUAS VOLTAS

O documentário nacional tem se revelado, nos últimos tempos, como um campo fértil para as mais diversas experimentações. Há os tratados históricos ("Cartola"), políticos ("Pro Dia Nascer Feliz"), entrevistas ("Oscar Niemeyer - A Vida é um Sopro"), esportivos ("Inacreditável - A Batalha dos Aflitos") e reveladores ("Estamira"). Faltava apenas os turísticos, de descobertas transformadoras. Isso, claro, até o lançamento de "O Mundo em Duas Voltas", o relato da aventura da Família Schürmann, que no final da década de 90 repetiu os passos do navegador português Fernão de Magalhães na primeira volta ao mundo, no início do séc. XVI.
Eles saíram do Brasil, contornaram a Patagônia, entraram Oceano Pacífico adiante, foram até a Ilha da Páscoa, costearam várias ilhas da Oceania, passaram pela África, subiram até Portugal e Espanha, para somente aí, quase três anos depois, retornarem à nação verde-e-amarela. Uma travessia bastante singular, que trouxe consigo diversas revelações e novidades.
A realização de "O Mundo em Duas Voltas" tomou um período de 10 anos, entre concepção da idéia, execução do percurso e pós-produção. Durante a viagem o veleiro Aysso percorreu mais de 30 países, quatro continentes e três oceanos. Foram cerca de 60 mil quilômetros em 891 dias de viagem. E quem coordenou as filmagens foi um dos filhos do casal Schürmann, David. Ele, que já havia vivido no mar dos 10 aos 15 anos ao lado dos pais Vilfredo e Heloísa, estudou cinema e televisão na Nova Zelândia e estréia como diretor neste projeto. Ele apresenta um resultado bastante positivo, principalmente visando o lado cultural e curioso, deixando o cinematográfico num segundo plano, aproximando-se mais de uma grande reportagem ou de um vídeo familiar.
O documentário pode ser acompanhado como uma história de ficção. O espectador é colocado ao lado dos navegadores na estranheza do frio do sul, deslumbra-se com as belezas naturais do oriente e encanta-se com cada nova descoberta, assim como se espanta com os costumes exóticos e com os perigos enfrentados. Desse modo, o filme basta-se satisfatoriamente. Enquanto cinema, por outro lado, não apresenta nada de novo ou extraordinário. Como disse o próprio produtor Fabiano Gullane, durante o lançamento do filme em Porto Alegre, "este longa foi feito para o público, e não para a crítica".
Sendo assim, espera-se que aquele que se aventurar pelos mares de "O Mundo em Duas Voltas" fique tão envolvido pelo que vai sendo vislumbrando nesta fantástica jornada quanto a própria Família Schürmann. Narrado na primeira pessoa pelos próprios protagonistas, o filme ganha com o paralelo traçado à viagem de Magalhães, através das belas ilustrações de Laurent Cardon e pelo competente, principalmente por ser bastante simples e direto, roteiro de Luis Bolognesi ("Bicho de Sete Cabeças"). Sem muitos rodeios, nós próprios somos levados nesta aventura. O que se faz aqui é, sim, uma volta ao mundo cultural, turística, histórica e reveladora. Não é muito cinema, mas quem foi que disse que isso chega a ser um pecado?

O Mundo em Duas Voltas, Brasil, 2007
(nota 7,5)

segunda-feira, abril 23, 2007

Ó PAÍ, Ó

Monique Gardenberg é uma diretora bastante singular dentro do cenário cinematográfico nacional. Ela começou junto com a chamada retomada, em 1995, com o internacional JENIPAPO (que trazia como protagonistas o belga Patrick Bauchau, de O QUARTO DO PÂNICO, e o canadense Henry Czerny, de MISSÃO: IMPOSSÍVEL). Após o resultado bastante irregular da estréia, se aventurou, oito ano depois, em 2003, em adaptar o badalado romance de Chico Buarque, BENJAMIM, revelando ao mundo o talento da filha do ex-casal Glória Pires e Fábio Jr., Cléo Pires. Se o primeiro filme era uma intrincada trama de suspense e intriga, o seguinte apostava mais no instinto e na sensibilidade dos personagens principais. Ninguém arriscaria dizer, então, que ela seria a pessoa certa para traçar um painel popularesco de Salvador em Ó PAÍ, Ó, versão para a tela grande da peça musical homônima levada aos palcos em 1992 pelo Bando de Teatro Olodum. Mas não é que ela dá conta do recado?
Ó PAÍ, Ó é uma gíria baiana que significa "olhe para aí, olhe!", e que é usada na conversação mais ou menos como os gaúchos empregam o "bah". Ou seja, a qualquer momento e por qualquer motivo. O filme assumidamente não tem um roteiro único e fixo, uma trama fechada. Ao invés disso, procura imaginar um cenário representativo da cultura baiana. Roque (Lázaro Ramos, muito à vontade) é um jovem trabalhador preocupado em conquistar uma nova namorada e com o desfile do bloco do Araketu durante o Carnaval. Seu Jerônimo (Stênio Garcia, com uma dentadura incompreensível, numa pequena participação) é o comerciante que quer incentivar o fluxo de turistas em sua loja de antiguidades. Boca (Wagner Moura, exagerado, fora do tom) é um pretenso playboy racista e preconceituoso. A função dele é mais representar um segmento da sociedade dedicado a explorar o lado mais fraco, sem respeito por este. Dona Joana (Luciana Souza, a melhor do elenco e grande revelação) é a beata dona do cortiço que hospeda a maior parte dos personagens, como a mãe-de-santo, o travesti, o taxista e a mulher especializada em abortos. Passa o dia rezando, mas não pensa duas vezes em cortar a água quando os inquilinos atrasam o pagamento. Sua missão é criar os dois filhos pequenos enquanto espera pela volta do marido, que há anos a abandonou. Há ainda Psilene (Dira Paes, sempre competente), que esconde o verdadeiro motivo que a fez abandonar o namorado europeu. Como se pode ver por estas rápidas definições, são todos quase estereótipos, porém apresentados dentro de um contexto definido e com funções específicas, livrando-os de uma superficialidade desajeitada e indesejada.
Montado de forma ágil e inteligente por Giba Assis Brasil (O HOMEM QUE COPIAVA) e produzido com esmero por Sara Silveira (CINEMA, ASPIRINAS E URUBUS), ambos gaúchos, Ó PAÍ, Ó é um belo exemplo da produção nacional, ligado com as tendências que ilustram nossa cinematografia. É um longa alto astral, que só desvia desse caminho no final trágico e anti-climático, que, se necessário para o discurso, parece desafinar do tom empregado até aquele momento. Muito colorido, com boas seqüências musicais e envolvente. é um filme que alegra o espírito, sem deixar de provocar reflexão e análise. Monique cumpre bem a missão de fazer do seu um cinema verde-e-amarelo, conectado com o que aqui se faz e prolifera. Pode, após tanto impacto, parecer meio vazio, mas o mérito está justamente aí: unir conteúdo a algo esfuziante e belo.

Ó Paí, Ó, Brasil, 2007
(nota 8)

domingo, abril 01, 2007

UM BEIJO A MAIS

Apesar do título original ser o mesmo, THE LAST KISS, versão norte-americana do italiano L'ULTIMO BACIO (2001), chega ao Brasil rebatizado como UM BEIJO A MAIS. Até melhor, para que o público não o confunda com o infinitamente superior O ÚLTIMO BEIJO, de Gabrielle Muccino, produtor desta nova versão e que, posteriormente, estreou em Hollywood dirigindo o meloso À PROCURA DA FELICIDADE, com Will Smith. A impressão que passa é que Muccino pensou: "querem me pagar uma grana para estragar um filme que já está bom? Ok, aceito, fico com o dinheiro!" Isso, sem se preocupar com o dano na imagem do filme original que esta refilmagem poderia causar. Porém, com o fracasso de público e de crítica da obra de Tony Goldwin (ALGUÉM COMO VOCÊ), é pouco provável que tal coisa venha a acontecer.
Se Goldwin é mais conhecido pelo seu trabalho como ator em GHOST, outros nomes chamam atenção em UM BEIJO A MAIS. A começar pelo protagonista, Zach Braff, estrela da divertida série SCRUBS e que recentemente estreou na direção com o ótimo HORA DE VOLTAR (2004). Apesar do bom currículo, ele transforma a desorientação do personagem em apatia, fazendo da missão de ser atraente ao espectador uma tarefa inglória. Mas triste mesmo é ver o roteirista Paul Haggins, de MENINA DE OURO e A CONQUISTA DA HONRA e também diretor do oscarizado CRASH - NO LIMITE, envolvido num material que resultou em algo tão pobre e simplório. O texto dele fez de uma trama tão interessante e com diferentes níveis de leitura em algo linear, desinteressante e bastante convencional.
Michael (Braff) é um cara que fez 30 anos há pouco. Ele acredita estar numa encruzilhada na vida, num ponto de decisão. Tem um bom emprego, namora uma boa garota. Mas não pode mais adiar decisões, compromissos. Já é adulto, e como tal deve começar a agir. E onde está a coragem para isso? A noiva está grávida e quer casar, os amigos já têm filhos, estão todos se assumindo, com casas e futuros sendo construídos. Indeciso entre seguir em frente e, ao mesmo tempo, sem poder voltar atrás, encontra uma porta alternativa quando passa a ser assediado por uma menina desconhecida. Jovem, universitária ainda. De forma bastante imatura, resolve aceitar um convite para sair com ela. "Uma última noite de loucuras", pensa. Mas nem tudo será tão simples assim, pois cada decisão que tomamos implica em várias conseqüências, nas vidas de todos aqueles ao nosso redor.
Enquanto que O ÚLTIMO BEIJO se propunha ser um estudo sobre a identidade masculina e as dificuldades que os homens enfrentam no processo de maturidade, de encarar uma postura perante a família e outra com os amigos, fidelidade e relacionamentos amoroso, UM BEIJO A MAIS quer somente ser uma comédia romântica vazia e despretenciosa. Nem a presença de atores tarimbados, como Blythe Danner (ENTRANDO NUMA FRIA) e Tom Wilkinson (ENTRE QUATRO PAREDES) se salva neste desastre anunciado. Sem graça, previsível e nada inspirado, o filme se perde no meio da mediocridade característica da indústria hollywoodiana, desprovido de maiores interesses e/ou méritos. Melhor ignorar.

The Last Kiss, EUA, 2006
(nota: 5)