sexta-feira, fevereiro 02, 2007

FLAGS OF OUR FATHERS

Se há alguém em Hollywood que podemos considerar incansável é - além, obviamente, de Meryl Streep, que tem NOVE filmes em produção para este ano e para 2008 - Clint Eastwood. Ator, diretor, compositor, produtor: o homem simplesmente não pára! Depois da consagração de "Million Dollar Baby" ("Menina de Ouro"), que em 2005 ganhou 4 Oscars, inclusive os de Filme e Direção, ele voltou à tona em 2006 com dois novos trabalhos, visões distintas sobre a batalha de Iwo Jima, uma das mais sangrentas da Segunda Guerra Mundial. O primeiro filme, "Flags of our Fathers", ou "Bandeiras dos Nossos Pais", finalmente entrou em cartaz nos cinemas brasileiros com o equivocado título "A Conquista de Honra". Esta é a versão norte-americana do episódio. O olhar dos inimigos, os japoneses, é exposto em "Letters from Iwo Jima", lançado quase simultaneamente nos Estados Unidos e muito melhor recebido pela crítica: falado todo em japonês, recebeu o Globo de Ouro de Melhor Filme em Língua Estrangeira, além de somar quatro indicações ao Oscar: Filme, Direção, Edição de Som e Roteiro Original.
Não que "Flags" seja ruim. Não. Só não é grande coisa. Além de ser mais um filme de guerra, como tantos outros já vistos anteriormente, sem nenhum destaque. As cenas de batalha são absurdamente bem filmadas, mas nada diferentes do que já foi visto em "Saving Private Ryan", lá no distante 1998. E a trama, a princípio interessante, termina por se revelar numa sucessão de clichês sentimentais e não relevantes, ali colocados justamente para tentar arrancar alguma emoção barata de um espectador em busca de atos heróicos pouco significativos, porém visualmente belos - algo, aliás, discutido no próprio enredo.
A foto do cartaz do filme, bastante conhecida, é o ponto de partida de "Flags". Lá num distante 1945, com o povo norteamericano já cansado da guerra e exausto financeiramente, ver aquela imagem de soldados esforçados em levantar a bandeira pátria numa nova conquista funcionou como um catalizador de esperanças e ânimos. Três dos envolvidos naquela imagem - os que ainda restavam vivos - são chamados de volta ao lar para servirem como 'heróis da ocasião', ou seja, para despertar a atenção do público no sentido de levantar fundos para a manutenção da guerra - que, ironicamente, iria ter seu fim poucos meses depois.
Como o batalhão militar chegou até aquele momento do hasteamento da bandeira, e toda a simplicidade por trás daquele ato até então banal, é narrado simultaneamente à jornada dos três colegas pelos Estados Unidos, já não mais soldados anônimos e sim ídolos nacionais. A posição incômoda que eles enfrentam naquela realidade inesperada e indesejada e como cada um reage é o mais pertinente de toda a trama.
Encabeçado por Ryan Phillippe ("Crash"), Jesse Bradford ("Finais Felizes") e Adam Beach ("Códigos de Guerra") dando vida aos personagens reais John Bradley, Rene Gagnon e Ira Hayes, os três em performances corretas e seguras, "Flags" apresenta ainda um bom elenco de apoio, que conta com nomes como Jaime Bell ("Billy Elliot"), Paul Walker ("Velozes e Furiosos"), Barry Pepper ("Três Enterros"), Robert Patrick ("Terminator 2") e Melanie Lynskey ("Almas Gêmeas"). O que se percebe, no entanto, é que este não é um filme de grandes atuações, e sim de um conjunto de interpretações à altura da história que pretendem contar.
Se há algum astro envolvido, este é Eastwood, responsável por conseguir fazer, praticamente ao mesmo tempo, dois filmes tão marcantes. Provavelmente "Letters" seja mesmo superior, mas para isso teremos que esperar mais alguns dias. "Flags of our Fathers" já demonstra, porém, que a dedicação do realizador - ele não participa como ator - foi intensa, mesmo não proporcional ao resultado final. Inferior aos seus últimos trabalhos e desprovido de um olhar mais cruelmente crítico, o filme tenta uma reflexão até válida, mas vazia diante um contexto global, onde enfrentamentos são necessários, imagens são supervalorizadas e mentiras, de tão repetidas, se tornam verdades. Clint tentou fazer um alerta, e seu pecado foi ter sucumbido à própria mensagem de certa forma. Seu trabalho é lindo e impressionante, mas assim como a fotografia original, não consegue ir muito adiante de uma bela superfície, desprovida de conteúdo.

Flags of our Fathers, EUA, 2006
(Nota: 5)

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