O que é preciso para descobrir o verdadeiro "eu" de uma pessoa? Até que ponto nos fechamos tão dentro de nós mesmos que acabamos nos afastando não somente dos outros, mas de tudo mais, inclusive das próprias emoções? Incomunicabilidade, repressão, traumas do passado e a descoberta do amor no mais improvável dos lugares são alguns dos temas tratados no sensível e comovente A VIDA SECRETA DAS PALAVRAS, segundo longa-metragem internacional dirigido pela impressionante cineasta espanhola Isabel Coixet (o anterior foi o igualmente emocionante MINHA VIDA SEM MIM).
Uma mulher solitária vive num universo tão particular que esquece até mesmo de reinvindicar suas férias. Obrigada pelo chefe a um mês de descanso, acaba indo parar numa vila afastada e pouco povoada. Lá descobre uma oportunidade de reavivar uma antiga ocupação: enfermagem. Estão precisando de alguém para cuidar de um operário numa plataforma petrolífera no meio do oceano. Ele está cego, vítima de severas queimaduras sofridas durante um acidente. Ao chegar neste lugar ainda mais inóspito, nossa protagonista irá de se deparar com pessoas tão isoladas da vida quando ela mesma. As relações entre os presentes é tão escassa quanto se faz necessária. São como zumbis, abandonados numa terra de ninguém, individualmente ocupados com suas responsabilidades e esquecidos pelo resto da humanidade. Mas o contato está prestes a ganhar um novo valor, alterando toda a ordem até então estabelecida.
Se a princípio a convivência entre paciente e atendente revela-se truncada, os códigos de comunicação aos poucos vão se estabelecendo. Ele não consegue vê-la, ela parece estar pouco interessada, mas um jogo vai surgindo e envolvendo-os. Não tardará para a relação evoluir para uma estranha história de amor que, apesar do diferencial que possui, não deixa de possuir elementos em comum a qualquer outro romance: entrega, cobrança, confiança, insegurança, dor e sinceridade. E neste ponto o filme surpreende o espectador pelos novos rumos tomados, em que gestos até então exóticos adquirem novos significados e todo o entendimento do que estava acontecendo fica não só mais claro, mas também dotado de uma intensidade até então insuspeita.
Muito do bom resultado atingido por A VIDA SECRETA DAS PALAVRAS está na sua dupla central de atores, a fenomenal Sarah Polley (que já havia trabalhado com a diretora em MINHA VIDA...) e o oscarizado Tim Robbins (SOBRE MENINOS E LOBOS). Os dois fogem do registro óbvio e estereotipado, atuando com o olhar, com pequenos cuidados e tendo completo domínio dos personagens e das emoções que carregam consigo. Você esquece que por trás estão pessoas com outras vidas e histórias: fica-se diante apenas dos protagonistas da trama, como se estivéssemos literalmente dentro do enredo, naquela realidade. Outros bons destaques são alguns coadjuvantes, como o sempre ótimo Javier Cámara (FALE COM ELA, MÁ EDUCAÇÃO, DA CAMA PARA A FAMA), ciente da urgência de um alívio cômico, porém longe do clichê mais fácil, e da igualmente vencedora do Oscar Julie Christie (DARLING, A QUE AMOU DEMAIS, de 1965, vista recentemente em sucessos como EM BUSCA DA TERRA DO NUNCA, TRÓIA e HARRY POTTER E O PRISIONEIRO DE AZKABAN), numa participação carinhosa e fundamental.
Isabel Coixet é uma súdita exemplar do mestre Pedro Almodóvar, produtor executivo de A VIDA SECRETA DAS PALAVRAS, longa que foi o grande vencedor dos Prêmios Goya no ano passado. Sem incorrer no exagero, ela consegue falar muito dizendo pouco. As expressões, as atitudes, cada ação em todo momento são de relevâncias singulares, fazendo a maior diferença possível. Pelo que vemos nestes seus dois últimos trabalhos, estes são filmes para serem vistos com atenção e carinho, pois transmitem mais do que um única experiência possa se encarregar. É preciso reflexão, análise e uma compreensão maior do que somos e buscamos. Seja através das palavras, das ações ou mesmo do que não é feito. Pois aqui até o que não está tem importância. E esta lição é o maior mérito da obra como um todo.
La Vida Secreta de Las Palabras, Espanha, 2005
(nota 8,5)
domingo, julho 29, 2007
domingo, julho 22, 2007
SANEAMENTO BÁSICO, O FILME
Jorge Furtado é um cineasta bastante singular dentro do cenário cinematográfico brasileiro. Seus filmes conseguem combinar argumentos pertinentes, crítica social, bom humor e entretenimento, em doses bem equilibradas. SANEAMENTO BÁSICO, O FILME, seu quarto longa, repete o bom resultado. Não chega a ser tão interessante quanto O HOMEM QUE COPIAVA, seu mais bem sucedido projeto, mas ainda assim representa um grande progresso em relação ao simpático HOUVE UMA VEZ DOIS VERÕES ou ao curioso MEU TIO MATOU UM CARA. O importante, entretanto, é perceber que o próprio realizador se deu conta que estava começando a se repetir, e ao invés de se acomodar e seguir com o que estava dando certo, resolveu inovar e mudar as regras do próprio jogo. Desta forma, não há mais um narrador em off dividindo com o espectador os acontecimentos e um único protagonista em busca da garota amada. Só por esta inquietute, Furtado já sai ganhando!
Inspirado no arquétipo clássico da commedia dell'arte, SANEAMENTO BÁSICO, O FILME conta com oito personagens principais, todos envolvidos na construção de uma fossa pública na fictícia comunidade de Linha Cristal, no interior do Rio Grande do Sul. O problema é que cada um encara o projeto com um ponto de vista singular, buscando diferentes resultados. E nem sempre estes objetivos serão concordantes com os dos demais.
Marina (Fernanda Torres, repetindo a "Vani", de OS NORMAIS) quer a melhoria do saneamento na cidade para que o marido se cure de uma insistente micose. Joaquim (Wagner Moura, discreto) é o marido que deseja se curar e trazer sua vida sexual de volta à normalidade. Os dois vão à prefeitura solicitar dinheiro para a obra, e lá descobrem que a única verba disponível é para a realização de um vídeo de ficção, uma iniciativa do governo federal. Marcela (Janaína Kremer, do inédito AINDA ORANGOTANGOS), a funcionária, tem uma idéia: que tal usar esta grana para solucionar o problema da vila? Para isso, basta gravar uma história, com um roteiro que tenha o mínimo de sentido! O importante, segundo ela, "é não devolver o que já foi liberado!"
Silene (Camila Pitanga, ótima), irmã de Marina, topa ser a estrela do filme, e chama o namorado, Fabrício (Bruno Garcia, divertido), para emprestar sua câmera. Ele aceita participar, pois vê uma oportunidade de incrementar o turismo por ali - ele é dono do único hotel da cidade! O envolvimento de todos nas filmagens vai ficando cada vez maior e, com novas responsabilidades, decidem buscar alguém profissional! E encontram Zico (Lázaro Ramos, roubando cada cena em que aparece), um videomaker que vê nesta história sua chance de alcançar sonhos maiores. Paralelo a tudo isso estão os dois velhos, Otaviano (Paulo José, comovente), pai das meninas, e Antonio (Tonico Pereira, repetitivo), o amigo/inimigo ideal. Ambos, com suas rabugices, acabam contribuindo para o sucesso da empreitada.
Se há um defeito em SANEAMENTO BÁSICO, O FILME, é a impressão de ter sido feito um tanto às pressas. Há problemas de continuidade (na cena em que Zico e Marina conversam numa lancheria, em cada corte o pastel está num lugar diferente) e de estrutura (a longa seqüência da motocicleta parece estar descontextualizada, além de demasiadamente longa). Isso, no entanto, não chega a afetar no resultado final, que é muito positivo. Repleto de diálogos divertidíssimos, é quase impossível não se envolver com estes "inocentes" que acabam sendo levados pela atração da arte criativa. O problema imediato bate forte nos calcanhares de todos, mas como deixar de lado a imaginação e a fantasia quando esta começa a se fazer presente com uma força até então impensável?
A paixão pelo cinema, a política pública de investimentos culturais, a atenção dada pelas autoridades às necessidades básicas e urgentes e a lógica às vezes invertida estabelecida entre corpo (a higiene) e mente (a arte) são alguns dos pontos levantados com inteligência pelo realizador - Furtado é também roteirista. Com um bom desempenho do conjunto do elenco (apesar de seus altos e baixos) e uma trama enxuta, que surpreende pelo inusitado e convence pela simplicidade, é uma produção que tem tudo para conquistar um público fiel e entusiasmado. E, por que não, fazer deste um dos longas nacionais referenciais de 2007!
Saneamento Básico, o Filme, Brasil, 2007
(nota 7,5)
Inspirado no arquétipo clássico da commedia dell'arte, SANEAMENTO BÁSICO, O FILME conta com oito personagens principais, todos envolvidos na construção de uma fossa pública na fictícia comunidade de Linha Cristal, no interior do Rio Grande do Sul. O problema é que cada um encara o projeto com um ponto de vista singular, buscando diferentes resultados. E nem sempre estes objetivos serão concordantes com os dos demais.
Marina (Fernanda Torres, repetindo a "Vani", de OS NORMAIS) quer a melhoria do saneamento na cidade para que o marido se cure de uma insistente micose. Joaquim (Wagner Moura, discreto) é o marido que deseja se curar e trazer sua vida sexual de volta à normalidade. Os dois vão à prefeitura solicitar dinheiro para a obra, e lá descobrem que a única verba disponível é para a realização de um vídeo de ficção, uma iniciativa do governo federal. Marcela (Janaína Kremer, do inédito AINDA ORANGOTANGOS), a funcionária, tem uma idéia: que tal usar esta grana para solucionar o problema da vila? Para isso, basta gravar uma história, com um roteiro que tenha o mínimo de sentido! O importante, segundo ela, "é não devolver o que já foi liberado!"
Silene (Camila Pitanga, ótima), irmã de Marina, topa ser a estrela do filme, e chama o namorado, Fabrício (Bruno Garcia, divertido), para emprestar sua câmera. Ele aceita participar, pois vê uma oportunidade de incrementar o turismo por ali - ele é dono do único hotel da cidade! O envolvimento de todos nas filmagens vai ficando cada vez maior e, com novas responsabilidades, decidem buscar alguém profissional! E encontram Zico (Lázaro Ramos, roubando cada cena em que aparece), um videomaker que vê nesta história sua chance de alcançar sonhos maiores. Paralelo a tudo isso estão os dois velhos, Otaviano (Paulo José, comovente), pai das meninas, e Antonio (Tonico Pereira, repetitivo), o amigo/inimigo ideal. Ambos, com suas rabugices, acabam contribuindo para o sucesso da empreitada.
Se há um defeito em SANEAMENTO BÁSICO, O FILME, é a impressão de ter sido feito um tanto às pressas. Há problemas de continuidade (na cena em que Zico e Marina conversam numa lancheria, em cada corte o pastel está num lugar diferente) e de estrutura (a longa seqüência da motocicleta parece estar descontextualizada, além de demasiadamente longa). Isso, no entanto, não chega a afetar no resultado final, que é muito positivo. Repleto de diálogos divertidíssimos, é quase impossível não se envolver com estes "inocentes" que acabam sendo levados pela atração da arte criativa. O problema imediato bate forte nos calcanhares de todos, mas como deixar de lado a imaginação e a fantasia quando esta começa a se fazer presente com uma força até então impensável?
A paixão pelo cinema, a política pública de investimentos culturais, a atenção dada pelas autoridades às necessidades básicas e urgentes e a lógica às vezes invertida estabelecida entre corpo (a higiene) e mente (a arte) são alguns dos pontos levantados com inteligência pelo realizador - Furtado é também roteirista. Com um bom desempenho do conjunto do elenco (apesar de seus altos e baixos) e uma trama enxuta, que surpreende pelo inusitado e convence pela simplicidade, é uma produção que tem tudo para conquistar um público fiel e entusiasmado. E, por que não, fazer deste um dos longas nacionais referenciais de 2007!
Saneamento Básico, o Filme, Brasil, 2007
(nota 7,5)
terça-feira, julho 17, 2007
TRANSFORMERS
Antes de mais nada, é bom deixar algo bastante claro: eu odeio Michael Bay! Este é, para mim, um dos piores diretores da Hollywood atual, que representa com exatidão tudo o que há de pior por lá: exageros desnecessários, enredos vazios e histórias tolas e previsíveis. Por isso, quando soube que ele dirigiria a versão para a tela grande do popular brinquedo dos anos 80, TRANSFORMERS, minhas expectativas foram lá embaixo. Após conferir o trailer, o que temia se confirmou: muitas explosões, robôs tecnicamente perfeitos, porém nada atrativos, e uma história aparentemente repleta de clichês. Só que eu estava esquecendo de uma coisa: quem está sentado na cadeira de produtor executivo é ninguém menos do que Steven Spielberg. E, acreditem: isso faz MUITA diferença!
TRANSFORMERS é o filme que Spielberg dirigiria caso houvesse tecnologia disponível 20 ou 30 anos atrás. Já que não foi possível, ele aguardou e, como acredita estar numa idade mais "madura" para este tipo de passatempo, deixou a bola para o jovem Bay. Mas não se enganem: a mão do realizador de E.T., OS CAÇADORES DA ARCA PERDIDA e JURASSIC PARK está por todo o longa. A esperança, agora, é de que o responsável pelos irritantes OS BAD BOYS e A ROCHA tenha ao menos aprendido a lição de como combinar diversão de primeira com bom humor em uma trama que não desrespeite a inteligência do espectador.
Não que a história narrada em TRANSFORMERS seja muito mirabolante. Pelo contrário, pode ser resumida em uma frase: duas raças de robôs extraterrestres - os "Autobots", do 'bem', e os "Decepticons", do 'mal' - fazem da Terra campo de batalha na busca por um Cubo milenar que pode decidir o futuro do Universo. Pronto, é isso, direto e simples. Alguns humanos acabam no meio da briga - um adolescente que só quer pegar a garota mais gostosa do colégio, um grupo de militares, cientistas e o próprio governo norte-americano. Uma conspiração no estilo "Arquivo X" chega a se desenhar, porém sem muito impacto. Ou seja, não há distração - vai-se logo ao que o público quer, gigantescos alienígenas robóticos destruindo meio mundo enquanto assistimos, confortavelmente, digerindo muita pipoca e refrigerante.
Alguns cuidados foram essenciais para o bom resultado do projeto: os roteiristas Alex Kurtzman e Roberto Orci (A LENDA DO ZORRO, MISSÃO IMPOSSÍVEL III) simplificaram a narrativa, porém sem torná-la banal. Conseguimos nos identificar com os personagens de carne e osso, perdidos no meio de um duelo de gigantes. Toda a fotografia do filme é feita sob o ponto de vista humano, o que contribui no nosso sentimento de estarmos, literalmente, dentro do filme - em alguns momentos vemos apenas as pernas dos robôs, em outros a explosão já em andamento! Os efeitos especiais são de primeiríssima linha - cortesia da Industrial Light & Magic, de George Lucas - e, na grande maioria, a ação transcorre em céu aberto, muito bem iluminada e perfeitamente visível. E, acima de tudo, há muito bom humor, ironia e auto-crítica durante todo o desenrolar dos acontecimentos - nenhuma piada é perdida, mantendo alto o astral.
Outro elemento que dá muito certo é a aposta dos realizadores no novato Shia LaBeouf (visto em CONSTANTINE e no ainda inédito por aqui PARANÓIA). O rapaz foge do padrão consagrado de protagonista deste tipo de filme: não é particulamente bonito, nem musculoso ou descerebrado! Mas é, sim, muito simpático, engraçado e bom ator, conseguindo equilibrar a missão que acaba lhe sobrando com as tarefas de conquistar a mocinha e ainda livrar nosso planeta do extermínio. Simples, não? E o que se vê na tela é tão positivo que o próprio Spielberg já o escalou para o próximo projeto dele como diretor: LaBeouf será o filho de Harrison Ford em INDIANA JONES 4!
TRANSFORMERS é muito mais espetacular do que ARMAGEDDON, muito mais romântico do que PEARL HARBOR e muito mais futurista do que A ILHA, para ficarmos em termos de comparação apenas com as frustrações anteriores de Michael Bay. Divertido, empolgante e extremamente competente de acordo com o que se propõe, é um dos mais completos projetos do verão 2007, obtendo bons resultados tanto junto à crítica quanto com o público (mais de US$ 230 milhões nas bilheterias norte-americanas em menos de 10 dias!). Frases feitas, clichês inevitáveis, muito barulho e pouco conteúdo? Sim, tem tudo isso, mas também apresenta entretenimento extremamente bem realizado. E de vez em quando isso já tá mais do que bom, certo?
Transformers, EUA, 2007
(nota 8)
TRANSFORMERS é o filme que Spielberg dirigiria caso houvesse tecnologia disponível 20 ou 30 anos atrás. Já que não foi possível, ele aguardou e, como acredita estar numa idade mais "madura" para este tipo de passatempo, deixou a bola para o jovem Bay. Mas não se enganem: a mão do realizador de E.T., OS CAÇADORES DA ARCA PERDIDA e JURASSIC PARK está por todo o longa. A esperança, agora, é de que o responsável pelos irritantes OS BAD BOYS e A ROCHA tenha ao menos aprendido a lição de como combinar diversão de primeira com bom humor em uma trama que não desrespeite a inteligência do espectador.
Não que a história narrada em TRANSFORMERS seja muito mirabolante. Pelo contrário, pode ser resumida em uma frase: duas raças de robôs extraterrestres - os "Autobots", do 'bem', e os "Decepticons", do 'mal' - fazem da Terra campo de batalha na busca por um Cubo milenar que pode decidir o futuro do Universo. Pronto, é isso, direto e simples. Alguns humanos acabam no meio da briga - um adolescente que só quer pegar a garota mais gostosa do colégio, um grupo de militares, cientistas e o próprio governo norte-americano. Uma conspiração no estilo "Arquivo X" chega a se desenhar, porém sem muito impacto. Ou seja, não há distração - vai-se logo ao que o público quer, gigantescos alienígenas robóticos destruindo meio mundo enquanto assistimos, confortavelmente, digerindo muita pipoca e refrigerante.
Alguns cuidados foram essenciais para o bom resultado do projeto: os roteiristas Alex Kurtzman e Roberto Orci (A LENDA DO ZORRO, MISSÃO IMPOSSÍVEL III) simplificaram a narrativa, porém sem torná-la banal. Conseguimos nos identificar com os personagens de carne e osso, perdidos no meio de um duelo de gigantes. Toda a fotografia do filme é feita sob o ponto de vista humano, o que contribui no nosso sentimento de estarmos, literalmente, dentro do filme - em alguns momentos vemos apenas as pernas dos robôs, em outros a explosão já em andamento! Os efeitos especiais são de primeiríssima linha - cortesia da Industrial Light & Magic, de George Lucas - e, na grande maioria, a ação transcorre em céu aberto, muito bem iluminada e perfeitamente visível. E, acima de tudo, há muito bom humor, ironia e auto-crítica durante todo o desenrolar dos acontecimentos - nenhuma piada é perdida, mantendo alto o astral.
Outro elemento que dá muito certo é a aposta dos realizadores no novato Shia LaBeouf (visto em CONSTANTINE e no ainda inédito por aqui PARANÓIA). O rapaz foge do padrão consagrado de protagonista deste tipo de filme: não é particulamente bonito, nem musculoso ou descerebrado! Mas é, sim, muito simpático, engraçado e bom ator, conseguindo equilibrar a missão que acaba lhe sobrando com as tarefas de conquistar a mocinha e ainda livrar nosso planeta do extermínio. Simples, não? E o que se vê na tela é tão positivo que o próprio Spielberg já o escalou para o próximo projeto dele como diretor: LaBeouf será o filho de Harrison Ford em INDIANA JONES 4!
TRANSFORMERS é muito mais espetacular do que ARMAGEDDON, muito mais romântico do que PEARL HARBOR e muito mais futurista do que A ILHA, para ficarmos em termos de comparação apenas com as frustrações anteriores de Michael Bay. Divertido, empolgante e extremamente competente de acordo com o que se propõe, é um dos mais completos projetos do verão 2007, obtendo bons resultados tanto junto à crítica quanto com o público (mais de US$ 230 milhões nas bilheterias norte-americanas em menos de 10 dias!). Frases feitas, clichês inevitáveis, muito barulho e pouco conteúdo? Sim, tem tudo isso, mas também apresenta entretenimento extremamente bem realizado. E de vez em quando isso já tá mais do que bom, certo?
Transformers, EUA, 2007
(nota 8)
domingo, julho 15, 2007
PARIS, TE AMO
Todo longa composto pela a união de diversos curtas é, por definição, irregular. PARIS, TE AMO não foge desta sina, porém, felizmente, de modo muito positivo. A grande maioria dos curtas - são 18 no total - são excelentes! Claro, tem também alguns muito bons, outros somente bons, e uns dois ou três razoáveis. De fato, apenas um me decepcionou. Isso dá uma média excepcional, não?
Iniciativa da dupla de cineastas Tristan Carné e Emmanuel Benbihy (este responsável pela direção dos trechos de transição entre uma trama e outra), PARIS, TE AMO é o primeiro resultado de um projeto chamado "Cidades do Amor" - os próximos deverão ser sobre New York e Shanghai. E eles conseguiram recrutar, para esta "estréia", 21 cineastas das mais diversas nacionalidades, culturas, idades, tradições e gêneros. E o que temos é uma obra absurdamente envolvente, carismática, reveladora e instigante.
Em comum, os 18 enredos de PARIS, TE AMO têm o fato de se passarem cada um num bairro diferente da capital francesa e serem, todos, histórias de amor. O romance estará presente sob as mais distintas motivações: paixão, fraternidade, humanismo, nostalgia, carinho, saudade e até sobrenatural. Com um elenco impressionante e cineastas realmente empolgados com a proposta, tem-se um dos filmes mais encantadores dos últimos tempos, uma experiência inesquecível para todos aqueles que já se apaixonaram - por Paris ou não!
01. Montmartre
Dirigido, escrito e protagonizado pelo realizador grego Bruno Podalydès, mostra um homem que quer estacionar seu carro enquanto reflete sobre suas atitudes e sobre a própria vida. Um início tímido, que não faz jus a tudo que está por vir.
02. Quais de Seine
A diretora de origem indiana Gurinder Chadha (DRIBLANDO O DESTINO / "Bend it Like Beckham") fala da atração que surge entre um garoto francês e uma moça muçulmana. Estranhamento, compreensão e sinceridade caminham juntos neste simpático libelo de paz. A emoção começa a aflorar!
03. Le Marais
O norte-americano - e gay assumido - Gus Van Sant (GÊNIO INDOMÁVEL, ELEFANTE) é responsável pelo único episódio de tonalidade homossexual. Mas a trama vai além do óbvio desejo que surge entre dois rapazes. Espiritualidade, destino e à procura por uma alma gêmea, independente do corpo e sexo em que ela se apresenta, eleva a discussão. Um dos protagonistas é interpretado por Gaspard Ulliel, de ETERNO AMOR e HANNIBAL - A ORIGEM, e há também uma participação especial da cantora Marianne Faithfull (vista há pouco em MARIA ANTONIETA).
04. Tuileries
Os irmãos Joel e Ethan Coen (FARGO, O HOMEM QUE NÃO ESTAVA LÁ) criam o mais cômico dos segmentos. Steve Buscemi (CÃES DE ALUGUEL) é um turista que acapa no meio da pegação de um casal de namorados, numa estação de metrô. Despreocupado em querer passar grandes mensagens, diverte e entretêm.
05. Loin du 16e
Os brasileiros Walter Salles e Daniela Thomas, que juntos dirigiram TERRA ESTRANGEIRA e O PRIMEIRO DIA, contam em LONGE DO 16º DISTRITO com a colombiana indicada ao Oscar Catalina Sandino-Moreno (MARIA CHEIA DE GRAÇAS), neste que é um dos pontos altos do longa. Emocionante, simples e bastante direto, comove com palavras escassas e olhares de muitos significados. De cortar o coração.
06. Porte de Choisy
O australiano Christopher Doyle, diretor de fotografia de filmes como A DAMA DA ÁGUA e O AMERICANO TRANQUILO, responde pelo mais frustrante de todos os segmentos. Cabelereiras orientais, surrealismo, falta de nexo e a presença do diretor Barbet Schroeder (MULHER SOLTEIRA PROCURA) como ator contribuem para o fracasso da empreitada. Definitvamente o único evidente percalço do conjunto.
07. Bastille
A espanhola Isabel Coixet, dos tocantes MINHA VIDA SEM MIM e A VIDA SECRETA DAS PALAVRAS, fala da tentativa de um casal em crise de salvar a relação após descobrirem que a mulher está com câncer. As ótimas atuações de Miranda Richardson (PERDAS E DANOS), irreconhecível, e de Sergio Castellitto (SIMPLESMENTE MARTHA), por si só, já valem a conferida.
08. Place des Victories
O diretor japonês Nobuhiro Suwa joga nos ombros da sempre excelente Juliette Binoche (O PACIENTE INGLÊS) a responsabilidade de nos conduzir pela dor e sofrimento de uma mãe que sofre pela morte recente do filho. Tudo é tão sensível, delicado e bem exposto que nem um Willem Dafoe (HOMEM-ARANHA) como cowboy consegue estragar!
09. Torre Eiffel
Sylvain Chomet, da adorável animação AS BICICLETAS DE BELLEVILLE, nos mostra a história de amor que surge entre dois mímicos. Divertida, terna e muito bem humorada, traz um pouco de luz após o baque dramático do episódio anterior.
10. Parc Monceau
O mexicano Alfonso Cuarón (E SUA MÃE TAMBÉM) continua explorando as possiblidades de um plano-seqüência, muito bem exemplificadas no seu último filme, FILHOS DA ESPERANÇA, neste encontro de um pai (Nick Nolte, de HULK) com sua filha adolescente (Ludivine Sagnier, de 8 MULHERES). Curioso.
11. Quartier des Enfants Rouges
O diretor francês Oliver Assayas (CLEAN, ALICE & MARTIN) esfria as emoções nesta análise distante sobre o relacionamento que poderá surgir (ou não) entre uma atriz norte-americana (Maggie Gyllenhaal, de SECRETÁRIA) e o rapaz que lhe irá conseguir a droga que está buscando.
12. Place des Fêtes
O sul-africano Oliver Schmitz, apesar de até então só ter trabalhado em televisão, entrega o mais emocionante e triste de todos os episódios. Impossível não se comover com o amor que surge entre uma paramédica e um emigrante esfaqueado em praça pública. Nem sempre a pessoa pela qual esperamos toda uma vida chega à tempo para podermos desfrutar da companhia dela, mas ao menos estes dois protagonistas conseguiram cruzar seus olhares, nem que por meros segundos. Extremamente romântico, chocante e muito bem construído, traz esperança e desespero na mesma medida. Uma obra-prima!
13. Pigalle
Assim como "Bastille", esse aqui também vale de antemão já pelos protagonistas, a fabulosa Fanny Ardant (CALLAS FOREVER) e o divertido Bob Hoskins (MONA LISA). Com direção do norte-americano Richard Lagravenese (FREEDOM WRITERS), é uma interessante abordagem sobre a redescoberta do amor durante a maturidade, tendo à frente um casal que inventa um jogo particular para manter acesa a paixão entre eles no bairro mais sexual de Paris. Provoca a curiosidade do espectador ao mesmo tempo que brinca com a nossa própria inteligência. Muito bom!
14. Quartier de la Madeleine
O diretor e roteirista Vincenzo Natali não esconde seu passado de diretor de arte no mais visualmente interessante de todos os episódios, nesta trama de vampiros e turistas desavisados que atrai mais pela aparência do que pelo conteúdo. Mesmo assim, é uma brincadeira curiosa. Como protagonista, Elijah Wood (O SENHOR DOS ANÉIS).
15. Père-Lachaise
O diretor Wes Craven (A HORA DO PESADELO, PÂNICO) deixa de lado seu passado de monstros e assassinos para mostrar os humores que conduzem um casal (Rufus Sewell, de O ILUSIONISTA, e Emily Mortimer, de MATCH POINT) pelos corredores do popular cemitério do título. O roteiro muito bem elaborado, os diálogos marcantes e uma aparição do cineasta Alexander Payne como o escritor Oscar Wilde fazem deste, surpreendemente, um dos melhores do conjunto. Um feito e tanto!
16. Fauborg Saint-Denis
O alemão Tom Tykwer (CORRA, LOLA, CORRA e O PERFUME) tem a ótima Natalie Portman (CLOSER - PERTO DEMAIS) como protagonista de um amor que surge entre uma atriz iniciante e um jovem cego. A montagem instigante e o desenrolar da ação garantem o interesse do espectador, nesta trama que combina juventude, surpresas e uma ótima conclusão.
17. Quartier Latin
O astro francês Gerard Depardieu faz uma das suas raras aparições como diretor (ele também interpreta um personagem codjuvante), ao lado do colega Frédéric Auburtin. Os dois mostram como é difícil apagar a chama da paixão mesmo após anos de relação, de sofrimentos mútuos e outros constrangimentos. Os veteranos Ben Gazarra (DOGVILLE) e Gena Rowlands (DIÁRIO DE UMA PAIXÃO) conduzem um diálogo ferino, que esconde feridas não cicatrizadas e um carinho que transcende aparências. Muito bonito.
18. 14º Arrondissement
PARIS, TE AMO encerra com chave de ouro com a paixão que faltava: a pela própria cidade! Alexander Payne (SIDEWAYS, AS CONFISSÕES DE SCHMIDT) mostra uma turista norte-americana narrando seus passeios solitários pela capital francesa. É triste e comovente, tocante e melancólico, mas ainda assim muito bem-humorado e sensível. O roteiro é genial, e a interpretação de Margo Martindale (MENINA DE OURO) impressiona pela simplicidade. Fantástico!
Apesar de propositalmente fragmentado, como uma colcha de retalhos construída em momentos, intenções e situações específicas e distintas entre si, PARIS, TE AMO comprova que a multiplicidade desta criação coletiva consegue ser superior à soma de suas partes separadas. Uma visão global de uma das cidades mais lindas do mundo, que tem o mérito de fugir das obviedades - não vá esperando um passeio turístico pelas ruas e pontos turísticos parisienses - apostando em sentimentos universais e facilmente identificáveis. Simplesmente genial!
Paris, Je T'Aime, França/Alemanha/Suíça/Lichtenstein, 2006
(nota 10)
Iniciativa da dupla de cineastas Tristan Carné e Emmanuel Benbihy (este responsável pela direção dos trechos de transição entre uma trama e outra), PARIS, TE AMO é o primeiro resultado de um projeto chamado "Cidades do Amor" - os próximos deverão ser sobre New York e Shanghai. E eles conseguiram recrutar, para esta "estréia", 21 cineastas das mais diversas nacionalidades, culturas, idades, tradições e gêneros. E o que temos é uma obra absurdamente envolvente, carismática, reveladora e instigante.
Em comum, os 18 enredos de PARIS, TE AMO têm o fato de se passarem cada um num bairro diferente da capital francesa e serem, todos, histórias de amor. O romance estará presente sob as mais distintas motivações: paixão, fraternidade, humanismo, nostalgia, carinho, saudade e até sobrenatural. Com um elenco impressionante e cineastas realmente empolgados com a proposta, tem-se um dos filmes mais encantadores dos últimos tempos, uma experiência inesquecível para todos aqueles que já se apaixonaram - por Paris ou não!
01. Montmartre
Dirigido, escrito e protagonizado pelo realizador grego Bruno Podalydès, mostra um homem que quer estacionar seu carro enquanto reflete sobre suas atitudes e sobre a própria vida. Um início tímido, que não faz jus a tudo que está por vir.
02. Quais de Seine
A diretora de origem indiana Gurinder Chadha (DRIBLANDO O DESTINO / "Bend it Like Beckham") fala da atração que surge entre um garoto francês e uma moça muçulmana. Estranhamento, compreensão e sinceridade caminham juntos neste simpático libelo de paz. A emoção começa a aflorar!
03. Le Marais
O norte-americano - e gay assumido - Gus Van Sant (GÊNIO INDOMÁVEL, ELEFANTE) é responsável pelo único episódio de tonalidade homossexual. Mas a trama vai além do óbvio desejo que surge entre dois rapazes. Espiritualidade, destino e à procura por uma alma gêmea, independente do corpo e sexo em que ela se apresenta, eleva a discussão. Um dos protagonistas é interpretado por Gaspard Ulliel, de ETERNO AMOR e HANNIBAL - A ORIGEM, e há também uma participação especial da cantora Marianne Faithfull (vista há pouco em MARIA ANTONIETA).
04. Tuileries
Os irmãos Joel e Ethan Coen (FARGO, O HOMEM QUE NÃO ESTAVA LÁ) criam o mais cômico dos segmentos. Steve Buscemi (CÃES DE ALUGUEL) é um turista que acapa no meio da pegação de um casal de namorados, numa estação de metrô. Despreocupado em querer passar grandes mensagens, diverte e entretêm.
05. Loin du 16e
Os brasileiros Walter Salles e Daniela Thomas, que juntos dirigiram TERRA ESTRANGEIRA e O PRIMEIRO DIA, contam em LONGE DO 16º DISTRITO com a colombiana indicada ao Oscar Catalina Sandino-Moreno (MARIA CHEIA DE GRAÇAS), neste que é um dos pontos altos do longa. Emocionante, simples e bastante direto, comove com palavras escassas e olhares de muitos significados. De cortar o coração.
06. Porte de Choisy
O australiano Christopher Doyle, diretor de fotografia de filmes como A DAMA DA ÁGUA e O AMERICANO TRANQUILO, responde pelo mais frustrante de todos os segmentos. Cabelereiras orientais, surrealismo, falta de nexo e a presença do diretor Barbet Schroeder (MULHER SOLTEIRA PROCURA) como ator contribuem para o fracasso da empreitada. Definitvamente o único evidente percalço do conjunto.
07. Bastille
A espanhola Isabel Coixet, dos tocantes MINHA VIDA SEM MIM e A VIDA SECRETA DAS PALAVRAS, fala da tentativa de um casal em crise de salvar a relação após descobrirem que a mulher está com câncer. As ótimas atuações de Miranda Richardson (PERDAS E DANOS), irreconhecível, e de Sergio Castellitto (SIMPLESMENTE MARTHA), por si só, já valem a conferida.
08. Place des Victories
O diretor japonês Nobuhiro Suwa joga nos ombros da sempre excelente Juliette Binoche (O PACIENTE INGLÊS) a responsabilidade de nos conduzir pela dor e sofrimento de uma mãe que sofre pela morte recente do filho. Tudo é tão sensível, delicado e bem exposto que nem um Willem Dafoe (HOMEM-ARANHA) como cowboy consegue estragar!
09. Torre Eiffel
Sylvain Chomet, da adorável animação AS BICICLETAS DE BELLEVILLE, nos mostra a história de amor que surge entre dois mímicos. Divertida, terna e muito bem humorada, traz um pouco de luz após o baque dramático do episódio anterior.
10. Parc Monceau
O mexicano Alfonso Cuarón (E SUA MÃE TAMBÉM) continua explorando as possiblidades de um plano-seqüência, muito bem exemplificadas no seu último filme, FILHOS DA ESPERANÇA, neste encontro de um pai (Nick Nolte, de HULK) com sua filha adolescente (Ludivine Sagnier, de 8 MULHERES). Curioso.
11. Quartier des Enfants Rouges
O diretor francês Oliver Assayas (CLEAN, ALICE & MARTIN) esfria as emoções nesta análise distante sobre o relacionamento que poderá surgir (ou não) entre uma atriz norte-americana (Maggie Gyllenhaal, de SECRETÁRIA) e o rapaz que lhe irá conseguir a droga que está buscando.
12. Place des Fêtes
O sul-africano Oliver Schmitz, apesar de até então só ter trabalhado em televisão, entrega o mais emocionante e triste de todos os episódios. Impossível não se comover com o amor que surge entre uma paramédica e um emigrante esfaqueado em praça pública. Nem sempre a pessoa pela qual esperamos toda uma vida chega à tempo para podermos desfrutar da companhia dela, mas ao menos estes dois protagonistas conseguiram cruzar seus olhares, nem que por meros segundos. Extremamente romântico, chocante e muito bem construído, traz esperança e desespero na mesma medida. Uma obra-prima!
13. Pigalle
Assim como "Bastille", esse aqui também vale de antemão já pelos protagonistas, a fabulosa Fanny Ardant (CALLAS FOREVER) e o divertido Bob Hoskins (MONA LISA). Com direção do norte-americano Richard Lagravenese (FREEDOM WRITERS), é uma interessante abordagem sobre a redescoberta do amor durante a maturidade, tendo à frente um casal que inventa um jogo particular para manter acesa a paixão entre eles no bairro mais sexual de Paris. Provoca a curiosidade do espectador ao mesmo tempo que brinca com a nossa própria inteligência. Muito bom!
14. Quartier de la Madeleine
O diretor e roteirista Vincenzo Natali não esconde seu passado de diretor de arte no mais visualmente interessante de todos os episódios, nesta trama de vampiros e turistas desavisados que atrai mais pela aparência do que pelo conteúdo. Mesmo assim, é uma brincadeira curiosa. Como protagonista, Elijah Wood (O SENHOR DOS ANÉIS).
15. Père-Lachaise
O diretor Wes Craven (A HORA DO PESADELO, PÂNICO) deixa de lado seu passado de monstros e assassinos para mostrar os humores que conduzem um casal (Rufus Sewell, de O ILUSIONISTA, e Emily Mortimer, de MATCH POINT) pelos corredores do popular cemitério do título. O roteiro muito bem elaborado, os diálogos marcantes e uma aparição do cineasta Alexander Payne como o escritor Oscar Wilde fazem deste, surpreendemente, um dos melhores do conjunto. Um feito e tanto!
16. Fauborg Saint-Denis
O alemão Tom Tykwer (CORRA, LOLA, CORRA e O PERFUME) tem a ótima Natalie Portman (CLOSER - PERTO DEMAIS) como protagonista de um amor que surge entre uma atriz iniciante e um jovem cego. A montagem instigante e o desenrolar da ação garantem o interesse do espectador, nesta trama que combina juventude, surpresas e uma ótima conclusão.
17. Quartier Latin
O astro francês Gerard Depardieu faz uma das suas raras aparições como diretor (ele também interpreta um personagem codjuvante), ao lado do colega Frédéric Auburtin. Os dois mostram como é difícil apagar a chama da paixão mesmo após anos de relação, de sofrimentos mútuos e outros constrangimentos. Os veteranos Ben Gazarra (DOGVILLE) e Gena Rowlands (DIÁRIO DE UMA PAIXÃO) conduzem um diálogo ferino, que esconde feridas não cicatrizadas e um carinho que transcende aparências. Muito bonito.
18. 14º Arrondissement
PARIS, TE AMO encerra com chave de ouro com a paixão que faltava: a pela própria cidade! Alexander Payne (SIDEWAYS, AS CONFISSÕES DE SCHMIDT) mostra uma turista norte-americana narrando seus passeios solitários pela capital francesa. É triste e comovente, tocante e melancólico, mas ainda assim muito bem-humorado e sensível. O roteiro é genial, e a interpretação de Margo Martindale (MENINA DE OURO) impressiona pela simplicidade. Fantástico!
Apesar de propositalmente fragmentado, como uma colcha de retalhos construída em momentos, intenções e situações específicas e distintas entre si, PARIS, TE AMO comprova que a multiplicidade desta criação coletiva consegue ser superior à soma de suas partes separadas. Uma visão global de uma das cidades mais lindas do mundo, que tem o mérito de fugir das obviedades - não vá esperando um passeio turístico pelas ruas e pontos turísticos parisienses - apostando em sentimentos universais e facilmente identificáveis. Simplesmente genial!
Paris, Je T'Aime, França/Alemanha/Suíça/Lichtenstein, 2006
(nota 10)
quarta-feira, julho 11, 2007
HARRY POTTER E A ORDEM DA FÊNIX
Quando O PRISIONEIRO DE AZKABAN estreou, em 2004, a crítica foi unânime em afirmar que a saída do diretor Chris Columbus, que havia comandado os dois primeiros filmes da série (A PEDRA FILOSOFAL, de 2001, e A CÂMARA SECRETA, de 2002) tinha sido positiva, pois finalmente um "autor" assumiria as transposições dos romances da autora J.K.Rowling para a tela grande - no caso, o mexicano Alfonso Cuarón, recém saído do premiado E SUA MÃE TAMBÉM e que recentemente esteve de volta com o subestimado FILHOS DA ESPERANÇA. E o comentário geral sobre o terceiro filme era que haviam acabado as aventuras infantis e que a trama finalmente assumia um aspecto mais sério, dramático e perturbador. Mas essa não é uma característica específica deste filme ou dos seguintes: é, sim, da própria trama básica e de seus personagens. Afinal, o protagonista é um menino que sobreviveu a um ataque mortal contra os próprios pais e que traz marcado na testa esta tragédia. E, desde o princípio, ficou claro que este vilão estaria voltando, se recuperando, e que os acontecimentos futuros ficariam cada vez mais soturnos e assustadores. E se O CÁLICE DE FOGO, de 2005, intensificou este sentimento, o novo A ORDEM DA FÊNIX elimina de vez qualquer dúvida, comprovando porque HARRY POTTER é uma das sagas cinematográficas mais elaboradas, bem cuidadas e interessantes do atual cinema hollywoodiano.
O cenário apresentado logo no início deste quinto filme não é nem um pouco motivador: após a morte de Cedrigo Diggory no final do longa anterior, a notícia de que o perigoso Lord Voldemort estaria de volta foi espalhada por Harry e Dumbledore, diretor da Escola Hogwarts. Mas o Ministro da Magia duvida da informação, por razões políticas, e faz de tudo para desacreditá-los publicamente. O que acontece é que ninguém no mundo mágico se prepara para os tempos nebulosos que estão por vir, e tudo piora quando as aulas recomeçam. O Ministério envia a subsecretária Dolores Umbridge para assumir como professora e voz do governo dentro da instituição. A interferência dela será gradativamente maior, a ponto de destituir outros mestres e até mesmo Dumbledore. Além de se preocuparem com seus futuros pessoais, Potter a amigos terão que lidar com uma situação completamente adversa num lugar que até então lhes era um porto seguro.
David Yates, o diretor, estréia com este projeto na tela grande - até então havia trabalhado apenas na televisão. E, assim como Columbus, é um competente executor de ordens, mas está longe de apresentar uma visão original e inventiva a respeito da trama que se dispõe a narrar. O que vemos, portanto, é uma apressada sucessão de eventos, muitos deles desconexos entre si, que fazem mais sentido para aqueles já familiarizados com o contexto literário. Aliás, A ORDEM DA FÊNIX é o maior e todos os livros (cerca de 700 páginas), e o mais curto dos filmes (enxutos 138 minutos). Resultado? Muita coisa ficou de fora, mantendo apenas o essencial do enredo principal. Claro que o trabalho de adaptação é primordial, e a grande maioria dos fatos é bastante compreensível, mas é quase impossível deixar de lamentar a falta de passagens muito interessantes apresentadas na obra literária. Se ao menos servir para aumentar a curiosidade sobre o livro, já terá valido a pena!
Diferente de outros blockbusters deste ano, como os terceiros episódios de HOMEM-ARANHA, PIRATAS DO CARIBE e SHREK, HARRY POTTER chega agora ao quinto filme ainda trazendo consigo novidades e comovendo tanto fãs quanto curiosos. Se até a metade tudo se desenvolve com uma certa pressa, mais para o término o longa finalmente revela seus méritos, em uma conclusão absolutamente fantástica, envolvente e dramaticamente precisa. O espectador fica na ponta da cadeira, torcendo por cada nova reviravolta ou acontecimento. É, sem sombra de dúvidas, o melhor dos "filmes de verão 2007", destes fenômenos de público da temporada. Mesmo não sendo superior às duas aventuras anteriores, mantém em alta a série.
Os parabéns se devem principalmente aos produtores, que conduzem cada novo episódio com um olhar bem direcionado a respeito do que buscam e do que esperam conseguir, e dos atores, todos em ótima forma, desde o trio juvenil Daniel Radcliffe - Emma Watson - Rupert Grint (Harry, Hermione e Rony) até o elenco adulto, em destaque para a novata neste universo Imelda Staunton (O SEGREDO DE VERA DRAKE) e para o cada vez melhor Michael Gambon, além, é claro, das ótimas participações de Ralph Fiennes, Emma Thompson, Maggie Smith, Alan Rickman, Helena Bonham-Carter, Gary Oldman, David Thewlis, Jason Isaacs, Robbie Coltrane, Fiona Shaw e Julie Walters (ufa!). A cada instante uma nova surpresa, um novo deslumbre, mais um encanto. HARRY POTTER E A ORDEM DA FÊNIX é perfeito em praticamente todos os propósitos a que se dedica, mesmo sendo nitidamente um produto calculado para dar certo em todos estes mesmos quesitos. É entretenimento básico, honesto e competente. Sorte nossa que ainda restam dois livros!
Harry Potter and the Order of the Phoenix, EUA/Reino Unido, 2007
(nota 8,5)
O cenário apresentado logo no início deste quinto filme não é nem um pouco motivador: após a morte de Cedrigo Diggory no final do longa anterior, a notícia de que o perigoso Lord Voldemort estaria de volta foi espalhada por Harry e Dumbledore, diretor da Escola Hogwarts. Mas o Ministro da Magia duvida da informação, por razões políticas, e faz de tudo para desacreditá-los publicamente. O que acontece é que ninguém no mundo mágico se prepara para os tempos nebulosos que estão por vir, e tudo piora quando as aulas recomeçam. O Ministério envia a subsecretária Dolores Umbridge para assumir como professora e voz do governo dentro da instituição. A interferência dela será gradativamente maior, a ponto de destituir outros mestres e até mesmo Dumbledore. Além de se preocuparem com seus futuros pessoais, Potter a amigos terão que lidar com uma situação completamente adversa num lugar que até então lhes era um porto seguro.
David Yates, o diretor, estréia com este projeto na tela grande - até então havia trabalhado apenas na televisão. E, assim como Columbus, é um competente executor de ordens, mas está longe de apresentar uma visão original e inventiva a respeito da trama que se dispõe a narrar. O que vemos, portanto, é uma apressada sucessão de eventos, muitos deles desconexos entre si, que fazem mais sentido para aqueles já familiarizados com o contexto literário. Aliás, A ORDEM DA FÊNIX é o maior e todos os livros (cerca de 700 páginas), e o mais curto dos filmes (enxutos 138 minutos). Resultado? Muita coisa ficou de fora, mantendo apenas o essencial do enredo principal. Claro que o trabalho de adaptação é primordial, e a grande maioria dos fatos é bastante compreensível, mas é quase impossível deixar de lamentar a falta de passagens muito interessantes apresentadas na obra literária. Se ao menos servir para aumentar a curiosidade sobre o livro, já terá valido a pena!
Diferente de outros blockbusters deste ano, como os terceiros episódios de HOMEM-ARANHA, PIRATAS DO CARIBE e SHREK, HARRY POTTER chega agora ao quinto filme ainda trazendo consigo novidades e comovendo tanto fãs quanto curiosos. Se até a metade tudo se desenvolve com uma certa pressa, mais para o término o longa finalmente revela seus méritos, em uma conclusão absolutamente fantástica, envolvente e dramaticamente precisa. O espectador fica na ponta da cadeira, torcendo por cada nova reviravolta ou acontecimento. É, sem sombra de dúvidas, o melhor dos "filmes de verão 2007", destes fenômenos de público da temporada. Mesmo não sendo superior às duas aventuras anteriores, mantém em alta a série.
Os parabéns se devem principalmente aos produtores, que conduzem cada novo episódio com um olhar bem direcionado a respeito do que buscam e do que esperam conseguir, e dos atores, todos em ótima forma, desde o trio juvenil Daniel Radcliffe - Emma Watson - Rupert Grint (Harry, Hermione e Rony) até o elenco adulto, em destaque para a novata neste universo Imelda Staunton (O SEGREDO DE VERA DRAKE) e para o cada vez melhor Michael Gambon, além, é claro, das ótimas participações de Ralph Fiennes, Emma Thompson, Maggie Smith, Alan Rickman, Helena Bonham-Carter, Gary Oldman, David Thewlis, Jason Isaacs, Robbie Coltrane, Fiona Shaw e Julie Walters (ufa!). A cada instante uma nova surpresa, um novo deslumbre, mais um encanto. HARRY POTTER E A ORDEM DA FÊNIX é perfeito em praticamente todos os propósitos a que se dedica, mesmo sendo nitidamente um produto calculado para dar certo em todos estes mesmos quesitos. É entretenimento básico, honesto e competente. Sorte nossa que ainda restam dois livros!
Harry Potter and the Order of the Phoenix, EUA/Reino Unido, 2007
(nota 8,5)
terça-feira, julho 10, 2007
RATATOUILLE
Em uma entrevista recente, o diretor Brad Bird relatou as idéias que surgiram em uma das primeiras reuniões que tiveram no início da Pixar Animation, num brainstorm para futuros projetos de longas-metragens: bonecos que ganhavam vida quando o dono os deixavam sozinhos, o mundo fantásticos dos insetos, monstros da imaginação infantil e... um ratinho que sonhava em ser chef de cozinha! Se os primeiros deram certo e geraram ótimos filmes - TOY STORY, VIDA DE INSETO, MONSTROS S.A. - por quê o último não funcionaria também? O resultado vemos agora: RATATOUILLE é igualmente um sucesso de público e de crítica, mas evidencia além da técnica os motivos que causaram tanta hesitação entre seus criadores.
A trama de RATATOUILLE é muito simples: um ratinho, cinza, feio e peludo, está cansado de viver no lixo e sonha em ir para Paris e descobrir todos os sabores existentes no lugar com a melhor culinária do mundo! Bem ou mal ele acaba chegando lá, formando por acaso parceria com um aprendiz de cozinha desastrado. Tudo o que o rato sabe, o garoto desconhece. Juntos, porém, acabam fazendo fama e devolvendo o restaurante em que atuam a antiga popularidade. Outros elementos, como a saudade e lealdade perante à família (o pai, o irmão e os demais amigos acabam ficando para trás quando o protagonista decide virar cozinheiro), honestidade (quem é o verdadeiro dono do negócio?) e até crítica (culinária e, por quê não afirmar, artística em geral) são debatidos em cena. Ganha, com esta diversidade, o espectador adulto. Por outro lado, os mais baixinhos talvez se cansem um pouco.
Essa nova produção da Pixar ao lado dos Estúdios Disney é menos movimentada que os filmes anteriores da casa, principalmente do que o primeiro longa do diretor - OS INCRÍVEIS, de 2004. Por outro lado, o desenvolvimento intelectual da história é mais fundamentado, deixando de lado reviravoltas previsíveis e personagens unidimensionais em favor de uma estrutura mais orgânica, dinâmica e consciente. As motivações são todas muito bem exploradas, nada é raso, e até o mais cego dos vilões tem suas razões justificadas. Neste meio tempo, sobra um olhar mais ácido em relação àqueles que deturpam à arte em nome de um "bem maior" e neste processo acabam esquecendo dos seus objetivos primordiais: entreter, educar e gerar prazer.
Entretanto, nem tudo é "ouro" em RATATOUILLE. Se os méritos da obra são diversos, há também alguns problemas estruturais difíceis de ignorar. E o mais básico de todos é evidente: como deixar de lado o fato de que se está falando de um rato invadindo a cozinha e tratando com alimentos? Mesmo atento a detalhes como "as mãos devem estar sempre limpas", é particularmente complicado quando presenciamos um exército de roedores preparando um banquete. As mensagens de que todo sonho é possível se acreditarmos o suficiente, de que unidos vamos mais longe e de que os valores éticos e morais se trazem de casa são muito bonitas, necessárias e pertinentes no contexto global em que vivemos, mas bem que aqueles que aqui a ilustram - e isso não é uma apologia ao politicamente correto, por favor! - poderiam ser mais, digamos, palatáveis!
Ratatouille, EUA, 2007
(nota 8)
A trama de RATATOUILLE é muito simples: um ratinho, cinza, feio e peludo, está cansado de viver no lixo e sonha em ir para Paris e descobrir todos os sabores existentes no lugar com a melhor culinária do mundo! Bem ou mal ele acaba chegando lá, formando por acaso parceria com um aprendiz de cozinha desastrado. Tudo o que o rato sabe, o garoto desconhece. Juntos, porém, acabam fazendo fama e devolvendo o restaurante em que atuam a antiga popularidade. Outros elementos, como a saudade e lealdade perante à família (o pai, o irmão e os demais amigos acabam ficando para trás quando o protagonista decide virar cozinheiro), honestidade (quem é o verdadeiro dono do negócio?) e até crítica (culinária e, por quê não afirmar, artística em geral) são debatidos em cena. Ganha, com esta diversidade, o espectador adulto. Por outro lado, os mais baixinhos talvez se cansem um pouco.
Essa nova produção da Pixar ao lado dos Estúdios Disney é menos movimentada que os filmes anteriores da casa, principalmente do que o primeiro longa do diretor - OS INCRÍVEIS, de 2004. Por outro lado, o desenvolvimento intelectual da história é mais fundamentado, deixando de lado reviravoltas previsíveis e personagens unidimensionais em favor de uma estrutura mais orgânica, dinâmica e consciente. As motivações são todas muito bem exploradas, nada é raso, e até o mais cego dos vilões tem suas razões justificadas. Neste meio tempo, sobra um olhar mais ácido em relação àqueles que deturpam à arte em nome de um "bem maior" e neste processo acabam esquecendo dos seus objetivos primordiais: entreter, educar e gerar prazer.
Entretanto, nem tudo é "ouro" em RATATOUILLE. Se os méritos da obra são diversos, há também alguns problemas estruturais difíceis de ignorar. E o mais básico de todos é evidente: como deixar de lado o fato de que se está falando de um rato invadindo a cozinha e tratando com alimentos? Mesmo atento a detalhes como "as mãos devem estar sempre limpas", é particularmente complicado quando presenciamos um exército de roedores preparando um banquete. As mensagens de que todo sonho é possível se acreditarmos o suficiente, de que unidos vamos mais longe e de que os valores éticos e morais se trazem de casa são muito bonitas, necessárias e pertinentes no contexto global em que vivemos, mas bem que aqueles que aqui a ilustram - e isso não é uma apologia ao politicamente correto, por favor! - poderiam ser mais, digamos, palatáveis!
Ratatouille, EUA, 2007
(nota 8)
segunda-feira, julho 09, 2007
QUARTETO FANTÁSTICO E O SURFISTA PRATEADO
As adaptações cinematográficas dos heróis em quadrinhos da Marvel, até pouco tempo, estavam dividadas entre as produções do primeiro time (HOMEM-ARANHA, X-MEN) e as do segundo escalão (BLADE, ELEKTRA). Foi há pouco tempo que se descobriu uma via intermediária, que combinasse um investimento considerável no orçamento para efeitos especiais e outros cuidados técnicos, ao mesmo tempo que se cuidasse razoavelmente do roteiro e do elenco, formado não por estrelas, mas por atores minimamente competentes. O primeiro a ir por esta linha foi DEMOLIDOR, de 2003. Mas a produção que provou que ela poderia dar certo veio dois anos depois: QUARTETO FANTÁSTICO, que custou US$ 100 milhões e arrecadou no mundo todo mais do que três vezes este valor. Natural, portanto, que viesse logo em seguida uma continuação, e ela chega agora, atendendo pelo nome de QUARTETO FANTÁSTICO E O SURFISTA PRATEADO.
Sim, porque este novo filme é mais do que um "episódio 2". Dá, sim, seqüência aos eventos narrados no longa anterior com os quatro personagens que, após um acidente solar, desenvolvem exóticos poderes: um é elástico (Reed Richards, o Sr. Fantástico), um pode inflamar o próprio corpo (Johnny Storm, o Tocha Humana), um tem a pele de pedra (Ben Grimm, O Coisa) e, por fim, ela, que fica transparente e emite campos de força (Susan Storm, a Mulher Invisível). E, além de estarem unidos nesta nova condição, tem em comum o fato de formarem uma família: Ben é o melhor amigo de Reed, namorado de Susan, irmã de Johnny! O diferencial está na inclusão de um novo, e enigmático, visitante: o Surfista Prateado!
Herói ou vilão? Está é a dúvida que ronda os protagonistas em relação ao extra-terrestre que chegou ao nosso planeta montado numa prancha de surf cósmica. Assim como nas hq's, ele não é nem um, nem outro: está apenas sondando nosso planeta, condenado a servir ao monstruoso Galactus, um ser que se alimenta da energia de planetas inteiros. O que o Quarteto precisará fazer será convencer o Surfista e levar Galactus a um outro lugar, ao mesmo tempo que tentarão livrá-lo desta maléfica influência. Isso sem falar dos problemas gerados pelo sempre inconveniente Dr. Destino, o inimigo visto na aventura anterior e que volta disposto a conquistar os misteriosos poderes do alienígena.
QUARTETO FANTÁSTICO E O SURFISTA PRATEADO ganha pontos em relação ao primeiro filme em vários quesitos: a trama é mais séria, o humor é mais contido, e os efeitos especiais estão melhor dispostos durante a trama. Continua, sim, sendo uma aventura para toda a família, mas os perigos estão numa nova escala, mais assustadora. Desta vez o mundo inteiro está em perigo, e as conseqüências e responsabilidades dos heróis serão postas à prova com mais intensidade e realismo. O filme deixa de ser tão "colorida" (em todos os sentidos), para se aproximar de uma reflexão sobre os destinos da humanidade e pelo que vale, mesmo, a pena lutar em busca da preservação.
O diretor Tim Story continua sendo dotado de poucas luzes, porém não chega a atrapalhar. Cumpre bem o que lhe é destinado, sem originalidade, mas também sem comprometer. No elenco principal, se Ioan Gruffudd (REI ARTHUR) é inexpressivo e Michael Chiklis (da série "The Shield") fica praticamente o tempo todo escondido atrás da maquiagem, as esperanças recaem numa confusa Jessica Alba (SIN CITY), indecisa entre ser uma cientista concentrada ou uma loira falsa e gostosa, e um Chris Evans (do recente SUNSHINE - ALERTA SOLAR), evidentemente o mais confortável no papel. No final das contas, acabam todos na média, sem nenhum destaque, mas dentro das expectativas. Afinal este não é um filme de grandes interpretações ou arroubos criativos. Não é ainda aquela trama que uma turma como o Quarteto Fantástico - ainda mais ao lado do filosófico Surfista Prateado - merecia, mas mesmo assim é um passo adiante. Quem sabe no próximo, talvez enfrentando uma realeza como Namor, o Príncipe Submarino, as coisas não esquentem de vez? O que nos resta é torcer e esperar, e neste meio tempo, se divertir um pouco. Afinal, cinema também é para isso, não?
Fantastic Four: Rise of the Silver Surfer, EUA, 2007
(nota 8)
Sim, porque este novo filme é mais do que um "episódio 2". Dá, sim, seqüência aos eventos narrados no longa anterior com os quatro personagens que, após um acidente solar, desenvolvem exóticos poderes: um é elástico (Reed Richards, o Sr. Fantástico), um pode inflamar o próprio corpo (Johnny Storm, o Tocha Humana), um tem a pele de pedra (Ben Grimm, O Coisa) e, por fim, ela, que fica transparente e emite campos de força (Susan Storm, a Mulher Invisível). E, além de estarem unidos nesta nova condição, tem em comum o fato de formarem uma família: Ben é o melhor amigo de Reed, namorado de Susan, irmã de Johnny! O diferencial está na inclusão de um novo, e enigmático, visitante: o Surfista Prateado!
Herói ou vilão? Está é a dúvida que ronda os protagonistas em relação ao extra-terrestre que chegou ao nosso planeta montado numa prancha de surf cósmica. Assim como nas hq's, ele não é nem um, nem outro: está apenas sondando nosso planeta, condenado a servir ao monstruoso Galactus, um ser que se alimenta da energia de planetas inteiros. O que o Quarteto precisará fazer será convencer o Surfista e levar Galactus a um outro lugar, ao mesmo tempo que tentarão livrá-lo desta maléfica influência. Isso sem falar dos problemas gerados pelo sempre inconveniente Dr. Destino, o inimigo visto na aventura anterior e que volta disposto a conquistar os misteriosos poderes do alienígena.
QUARTETO FANTÁSTICO E O SURFISTA PRATEADO ganha pontos em relação ao primeiro filme em vários quesitos: a trama é mais séria, o humor é mais contido, e os efeitos especiais estão melhor dispostos durante a trama. Continua, sim, sendo uma aventura para toda a família, mas os perigos estão numa nova escala, mais assustadora. Desta vez o mundo inteiro está em perigo, e as conseqüências e responsabilidades dos heróis serão postas à prova com mais intensidade e realismo. O filme deixa de ser tão "colorida" (em todos os sentidos), para se aproximar de uma reflexão sobre os destinos da humanidade e pelo que vale, mesmo, a pena lutar em busca da preservação.
O diretor Tim Story continua sendo dotado de poucas luzes, porém não chega a atrapalhar. Cumpre bem o que lhe é destinado, sem originalidade, mas também sem comprometer. No elenco principal, se Ioan Gruffudd (REI ARTHUR) é inexpressivo e Michael Chiklis (da série "The Shield") fica praticamente o tempo todo escondido atrás da maquiagem, as esperanças recaem numa confusa Jessica Alba (SIN CITY), indecisa entre ser uma cientista concentrada ou uma loira falsa e gostosa, e um Chris Evans (do recente SUNSHINE - ALERTA SOLAR), evidentemente o mais confortável no papel. No final das contas, acabam todos na média, sem nenhum destaque, mas dentro das expectativas. Afinal este não é um filme de grandes interpretações ou arroubos criativos. Não é ainda aquela trama que uma turma como o Quarteto Fantástico - ainda mais ao lado do filosófico Surfista Prateado - merecia, mas mesmo assim é um passo adiante. Quem sabe no próximo, talvez enfrentando uma realeza como Namor, o Príncipe Submarino, as coisas não esquentem de vez? O que nos resta é torcer e esperar, e neste meio tempo, se divertir um pouco. Afinal, cinema também é para isso, não?
Fantastic Four: Rise of the Silver Surfer, EUA, 2007
(nota 8)
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