segunda-feira, agosto 27, 2007

PRIMO BASÍLIO

É complicado saber por onde começar ao falar dos problemas de PRIMO BASÍLIO, oitavo filme dirigido por Daniel Filho e o quinto feito por ele desde a retomada de sua carreira cinematográfica, no início dos anos 2000. Depois de algumas experiências esparsas nos anos 60, 70 e 80 (até filme dos Trapalhões ele dirigiu) e muito trabalho em televisão, com a virada do século decidiu se dedicar exclusivamente à sétima arte. E desde então vem alternando sucessos de público (SE EU FOSSE VOCÊ, 2006), de crítica (A DONA DA HISTÓRIA, 2004) e até um fracasso (MUITO GELO E DOIS DEDOS D'ÁGUA, 2006). Mas, acima de tudo, eram comédias. E PRIMO BASÍLIO aposta noutro caminho, o drama, e o resultado é bastante problemático.

Poucos são os que desconhecem a trama de "O Primo Basílio". Baseado no romance do escritor português Eça de Queiroz, foi adaptado há 20 anos numa minissérie da Rede Globo, que tinha Tony Ramos, Giulia Gam, Marcos Paulo e Marília Pêra no elenco principal. Na direção, o mesmo Daniel Filho. Pois agora o que parece é que estas duas décadas fizeram mal para ele, que aparenta ter desaprendido como lidar com a dramaticidade da história. Reynaldo Gianecchini, Debora Falabella, Fábio Assunção e Glória Pires substituem os protagonistas, obviamente elas com um desempenho muito superior ao deles. Mas isso pouco importa no final das contas, já que a direção privilegia sempre o desenrolar atabalhoado do enredo, sem tempo para qualquer respiro, seja do personagem ou mesmo do ator por trás deste.

Sai a Lisboa do final do século XIX e no lugar está a São Paulo de 1958. Jorge (Gianecchini) é um engenheiro contratato para trabalhar na construção de Brasília, e por isso precisa viajar, deixando Luísa (Falabella), sua mulher, sozinha. Ela passa a receber a visita do primo Basílio (Assunção), que está de volta à cidade após uma temporada na Europa. Os dois logo se tornam amantes, o que vem a ser descoberto pela empregada Juliana (Pires). Esta, de posse de cartas reveladoras, passa a chantagear a patroa. E a relação que até então existia entre as duas se inverte, dando início ao calvário de uma e da descoberta do paraíso pela outra.

Se em A DONA DA HISTÓRIA ou em A PARTILHA (2001) Daniel Filho conseguiu conciliar um argumento de sucesso comprovado com um elenco que reunia talento e apelo popular, esta mesma fórmula revelou-se parcialmente desnecessária em SE EU FOSSE VOCÊ (que, apesar de abusar dos clichês, se tratava de um roteiro original). MUITO GELO foi um alerta, mostrando os perigos de ser tão autoral. A DONA teve 1,2 milhão de espectadores, PARTILHA mais de 2 milhões e SE EU FOSSE VOCÊ quase 3,5! MUITO GELO não chegou aos 500 mil espectadores, número que PRIMO BASÍLIO deve superar com tranquilidade. Mesmo assim não deve registrar nada muito superior. Gianecchini e Assunção são lindos, assim como Falabella, mas isso não basta, certo? Afinal, quem já não os viu seminus na telinha? E Glorinha, de quem se esperava uma grande atuação, passa o tempo todo limitada pela peruca, maquiagem pesada e figurino apertado.

Com enquadramento muito pouco criativo, edição convencional, cenário pobre e efeitos visuais constrangedores (o que são as cenas da cidade antiga?), PRIMO BASÍLIO abusa ainda do voyerismo (o sexo entre Assunção e Falabella é tão abusivo que perde o sentido inclusive dentro da proposta cinematográfica) e da falta de controle dos atores: Falabella, a melhor em cena, está sempre no limite, carecendo de uma orientação mais precisa. O que resta é uma obra sem fôlego, previsível desde a primeira cena e que tem uma conclusão absurda, inverossímil diante a nossa realidade. Um desastre anunciado, que somente se confirma com pior desdém a cada fotograma.

Primo Basílio, Brasil, 2007
(nota 3,5)

domingo, agosto 05, 2007

DURO DE MATAR 4.0

Bruce Willis é um cara legal. Não que alguém tenha alguma dúvida disso. Ele se tornou conhecido através de uma série de televisão ("A Gata e o Rato", que durou de 1985 a 1989) e estourou definitivamente nos cinemas em 1988, com o primeiro DURO DE MATAR. Desde então fez comédias (A MORTE LHE CAI BEM, 1992), romances (A HISTÓRIA DE NÓS DOIS, 1999), suspenses (A COR DA NOITE, 1994), ficções científicas (O QUINTO ELEMENTO, 1997), aventuras (O CHACAL, 1997), superproduções (ARMAGEDDON, 1998), filmes cultuados (PULP FICTION, 1994), campeões de bilheteria (O SEXTO SENTIDO, 1999) e fracassos (HUDSON HAWK, 1991). Já foi protagonista, marcou presença em elencos múltiplos (SIN CITY, 2005), fez pequenas participações em projetos de amigos (AS PANTERAS DETONANDO, 2003, e DOZE HOMENS E UM OUTRO SEGREDO, 2004) e até mostrou seu talento de dublador (OLHA QUEM ESTÁ FALANDO, 1989), além de ter aparecido em outras séries de tv, como "Friends", "That 70's Show" e "Ally McBeal". Na vida familiar, continua amigo da ex-esposa, Demi Moore, depois de uma separação super tranqüila, e sai para férias em família na companhia dela e do novo marido, o ator Ashton Kutcher. Então como não ficar feliz em conferir esse grande cara de volta ao papel que maior sucesso lhe deu? E DURO DE MATAR 4.0 é exatamente isso: Bruce Willis fazendo o que sabe fazer melhor!

Se no primeiro filme o agente John McClane (Willis) precisou impedir o ataque a um edifício, no segundo (de 1990) salvou um aeroporto e no terceiro (de 1995) se virou ao avesso para evitar uma tragédia em toda uma cidade, agora o perigo segue esta linha de aumento progressivo e cresce vertiginosamente. O vilão desta vez é um terrorista virtual, que coloca o país inteiro como refém de um ataque combinado, imobilizando todos os recursos de energia, inteligência e até militar dos Estados Unidos em questão de horas. E como um herói conhecido por resolver as coisas "no braço" irá lidar contra um inimigo tão polivalente?

A solução se chama Matt, um hacker ameaçado de morte que acaba virando protegido de McClane. Ele, por um desencontro do destino, termina por ser o único capaz de enfrentar a ameaça cibernética e salvar a nação. Mas, para isso, precisará contar com a proteção do policial, que tem outro problema pela frente: salvar a própria filha, seqüestrada pelos bandidos. Interpretado por Justin Long, de A HORA DO RANGO e SEPARADOS PELO CASAMENTO, o rapaz tem tudo para, assim como Shia LeBeouf (TRANSFORMERS), se tornar num dos grandes astros de Hollywood nos próximos anos: tem aparência frágil, porém é engraçado, simpático e bom com as garotas. Ele, ao lado de tiradas impagáveis de Willis, responde pelo lado "leve" do filme, acrescentando bom humor e modernidade a uma trama que pouco tem de original, mas que conquista justamente pela nostalgia e exageros.

Se o trailer de DURO DE MATAR 4.0 lhe atraiu, o que posso dizer é que ali estão cenas apenas das primeira meia-hora de filme. Ou seja, tem muito mais pela frente. Assim, logo no início o protagonista consegue derrubar um helicóptero com um automóvel, desviar de dezenas e carros desgovernados no meio de um túnel escuro e salvar sua pele e a do garoto de vários assassinos que estão atirando à queima roupa. Agora, imagine o que ainda está por vir. Ele vai atravessar alguns estados, enfrentar o caos generalizado e lutar com capangas dos mais diversos tipos, gêneros e sexos até ficar frente a frente com o responsável por todo o perigo. E não será uma jornada fácil, pode apostar.

São tantos os absurdos e clichês no decorrer da trama que chega um ponto que esquecemos da verossimilhança e queremos apenas alimentar os sentidos. Não é um longa sério, que estimula o pensamento e a reflexão. É mais um pipoca arrasa-quarteirão, feito para grandes massas e de consumo imediato. Mas serve também para mostrar o quão marcante a década de 80 foi para o universo pop. Depois deste retorno e de Sylvester Stallone em ROCKY BALBOA no início do ano, em 2008 nos reencontraremos ainda com o mesmo Stallone, porém em JOHN RAMBO, e com um sessentão Harrison Ford em INDIANA JONES 4. E se o público continua aceitando com alegria este velhos ícones, qual o problema nisso? Bruce Willis fez bem sua parte, mostrando que tem muito fôlego para novos desafios. E daqui pra frente é só aguardar para ver!

Live Free or Die Hard, EUA, 2007
(nota 7)