domingo, novembro 04, 2007

TROPA DE ELITE

O filme nacional mais falado, polêmico e visto do ano, antes mesmo de chegar aos cinemas! Segundo os produtores, estima-se que cerca de 3 milhões de brasileiros viram TROPA DE ELITE em um dvd pirata, antes da estréia. Como ele já soma quase 2 milhões de espectadores pagantes em um mês em cartaz, isso dá um público total de 5 milhões, quase o mesmo de 2 FILHOS DE FRANCISCO (longa brasileiro de maior audiência nos últimos 15 anos) e superior a outros campeões, como CARANDIRU (4,5 milhões) e CIDADE DE DEUS (3,3 milhões), por exemplo. E agora, quando a poeira está finalmente baixando, a pergunta que cabe é: justifica-se todo este auê? E a resposta é: em parte.

José Padilha, após o aclamado documentário ÔNIBUS 174, percebeu que ainda havia muito a ser dito sobre a situação da violência no Brasil. Só que ele procurou um outro ponto de vista, que não o do bandido, como é mais comum. E o caminho óbvio, portanto, era a próprio polícia. E ele encontrou no livro "Elite da Tropa", de Luiz Eduardo Soares, André Batista e Rodrigo Pimentel, a fonte para a origem do seu trabalho seguinte. TROPA DE ELITE não é uma adaptação, mas faz da obra literária inspiração para o discurso que queria promover. E este é, em poucas palavras: apesar de toda a corrupção, ainda há policial interessado em acabar com o crime, mesmo que os métodos empregados não sejam os mais justos.

O filme TROPA DE ELITE tem como protagonista o Capitão Nascimento (Wagner Moura, impressionante), membro do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro), um grupo extremamente seleto e de atuação bastante forte empregado em situações de alta gravidade. Nascimento quer descansar, e para isso precisa escolher um substituto. E os dois mais prováveis para ocupar o lugar dele recém ingressaram na força, Neto (Caio Junqueira) e Matias (André Ramiro). Enquanto isso, estes vão descobrindo como são as coisas dentro de um órgão policial corrompido, ao mesmo tempo em que o BOPE estuda como garantir a segurança no morro durante a visita do Papa, tudo isso no final dos anos 90.

Apesar dos inegáveis méritos, TROPA DE ELITE não é desprovido de defeitos. E estes estão principalmente na visão simplista que promove de alguns vértices da trama, como os universitários (todos "mauricinhos" e "patricinhas" alienados com visões estereotipadas da verdade social do dia-a-dia) e os comandantes policiais (todos corruptos e poderosos, como grandes chefões da máfia que fumam charutos e comem camarões enquanto os subalternos cumprem suas ordens). Essa artificialidade prejudica um pouco uma melhor compreensão do que está sendo mostrado em cena: uma sociedade doente, que para combater um mal precisa fazer uso dele mesmo em doses ainda maiores.

Mas isso acaba sendo detalhe diante do que o filme oferece: atuações entregues e viscerais, uma direção no total domínio de suas ambições, uma edição precisa e vertiginosa, tudo funcionando de acordo com um roteiro amarrado e objetivo. TROPA DE ELITE talvez acabe entrando para a História do cinema nacional por outros motivos (a pirataria, a violência), mas merece um espaço também destinados às grandes produções nacionais, qualitativamente falando. Não entre os primeiros, mas certamente numa posição muito bem colocada.

Tropa de Elite, Brasil, 2007
(nota 8)

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