Um dos filmes mais aguardados desse início de temporada, "300" é um espetáculo visual. Apesar de ter sido concebido para ser apreciado através dos olhos, o cérebro não deve ser deixado de lado durante as duas horas de projeção. O segundo longa do diretor Zack Snyder ("Madrugada dos Mortos", 2004) é esteticamente perfeito, um deslumbre visual, com a vantagem de ter massa cerebral anexada. Sim, porque apesar de ser baseado numa história em quadrinhos, essa por sua vez é inspirada num fato histórico, a Batalha de Termópilas, narrada pelo grego Herótodo e que teria acontecido por volta de 480 a.C. Ou seja, "300" combina a aparência quadrinhesca de "Sin City" com a cuidado de "Tróia" e o apuro técnico de "Gladiador", mas sem aquele veracidade aborrecida de um "Cartas de Iwo Jima", por exemplo. Tá bom, ou quer mais?
Claro que não é o melhor filme do ano, ainda mais chegando aos cinemas logo após termos sido bombardeados pelos concorrentes ao Oscar - uma época particularmente disputada. Mas, talvez por isso mesmo, funcione tão perfeitamente. É divertido, vertiginoso, com tomadas alucinantes e muita ação. Além disso, é lógico, compreensível, e todo o qualquer absurdo apresentado - e preparem-se, há muitos deles - fazem sentido dentro do contexto proposto. Snyder não poupou esforços para fazer do seu filme uma versão visual da hq "Os 300 de Esparta", de Lynn Varley e Frank Miller (este, por sua vez, o mesmo de "Sin City" e do clássico "O Cavaleiro das Trevas"). Cada enquadramento, figurino e diálogo parece ter saído direto das páginas escritas e desenhadas pela dupla de quadrinhistas, resultando numa obra extremamente fiel, porém cinematograficamente emocionante, indicada tanto para fãs quanto para meros curiosos.
Primeiro grande lançamento de 2007, "300" abriu com impacto um ano que promete muitos blockbusters: foram mais de US$ 70 milhões só no seu primeiro final de semana em cartaz nos Estados Unidos (enquanto que o mais entusiasmado dos analistas de mercado esperava, no máximo, um valor em torno de US$ 40 milhões). Se levarmos em conta que o orçamento total do projeto foi de US$ 60 milhões, e que em menos de um mês em cartaz o filme arrecadou por lá mais de US$ 160 milhões nas bilheterias, o efeito é ainda mais positivo. Por outro lado, a crítica, geralmente receosa diante produções do gênero, foi bastante generosa, elogiando os esforços da adaptação, o bom desempenho do elenco e a competência em geral dos realizadores em entregarem ao público um assumido cine-pipoca, mas que não menospreza a inteligência do espectador, superando as melhores expectativa.
A escolha dos atores foi outra aposta acertada. Sem nenhum grande astro para atrapalhar com problemas de ego, o diretor pôde fazer o que bem quis com seus atores. Assim, os colocou para malhar incessantemente, com o propósito de ficarem iguais aos musculosos heróis do universo dos gibis. Com pouquíssimos panos - apenas uma tanga de couro e uma larga capa vermelha - eles desfilam como guerreiros imbatíveis. Gerard Butler ("O Fantasma da Ópera") é o Rei Leônidas, de Esparta, na Grécia, que decide não se curvar ao superior poderio do Deus-Rei Xerxes, da Pérsia, e para se defender reúne seus trezentos melhores homens. Juntos, partem numa missão suicida, com um único objetivo: mostrar que, quando está em jogo a liberdade de um povo, nenhum preço é alto demais a ser pago.
Butler está excelente como o comandante que nunca esmorece. Ao seu lado estão exímios lutadores no combate corpo-a-corpo, e o nome de maior destaque é o de David Wenham ("O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei"). Curioso é perceber o brasileiro Rodrigo Santoro, que depois de pequenas participações em "As Panteras Detonando" e "Simplesmente Amor", ganha finalmente um papel de destaque numa superprodução hollywoodiana. Ele é Xerxes, o vilão conquistador, uma figura mítica e quase sobre-humana. Para ressaltar estas características sobrenaturais, trucagens deixaram-no com três metros de altura e com uma voz gutural irreconhecível. Como leva mais de uma hora para entrar em cena, e depois de um momento de enfrentamento entre os dois combatentes possui só mais uma ou duas aparições, muitos seguirão minimizando as conquistas e os feitos dele. Porém, o pouco que mostra aqui já é mais do que qualquer ator ou atriz nacional realizou além das nossas fronteiras. Santoro ainda não é, lá fora, tão importante e popular como é aqui, mas tenha certeza: ele está no caminho certo, e "300" só vem a confirmar esta percepção.
Diferente do que se lê nos quadrinhos há apenas uma trama menor, desenvolvida para aumentar a participação feminina no filme. A rainha Gorgo, interpretada por Lena Headey ("Os Irmãos Grimm"), ganha mais destaque, mostrando seus esforços em Esparta, quando os homens se ausentam para a luta, em convencer o Senado a apoiar a empreitada do Rei e enviar auxílio ao combate. Contra ela está um conspirador, Theron (Dominic West, de "O Sorriso da Mona Lisa"), este um personagem criado especialmente para o filme. As participações deles, se no gibis corriam o risco de soar estranhas, cinematograficamente causam um bom efeito, alternando a sangreira do campo de batalha por uma outra luta obstinada, mas feita de artimanhas e estratégia. Casam-se, na tela, em perfeita harmonia, colaborando para o bom resultado da empreitada.
"300" é cinema feito para as massas, e disso não há a menor dúvida. Porém é um produto acabado, com muito esmero e cuidado, evidentemente superior à mediocridade instaurada em Hollywood. Quase um filme de autor, só não totalmente devido às proporções milionárias que assumiu. Mesmo assim, funciona tanto para aqueles atrás de diversão despreocupada quanto para os em busca de algo mais trabalhado e intelectualmente intrigante. Não vai mudar a vida de ninguém nem o modo de se ver ou fazer cinema, mas certamente serve como um bom entretenimento para quem estiver neste processo.
300, EUA, 2007
(Nota: 8)
quinta-feira, março 29, 2007
terça-feira, março 27, 2007
It's Raining "300" Men!!!!!
É o filme mais aguardado da... semana! Bom, já é alguma coisa. Confiram este teaser, que é muuuuuuuuiiiiiiiito engraçado! Pena que o Rodrigo Santoro não está com o modelito "Carandiru", mas mesmo assim tá muito bom. Confiram!
Ah, e amanhã já publicarei por aqui a crítica do filme. Aguarde!
sexta-feira, março 23, 2007
Madonna x New Order
Depois do sucesso do casamento de Madonna com Depeche Mode, agora temos Madge com New Order. Não ficou tão bom quanto o anterior, mas ainda assim é imperdível...
Estréia da Semana!
ARTHUR E OS MINIMOYS
Primeiro longa-metragem dirigido pelo francês Luc Besson desde 1999, quando fez "Joana D'Arc". Fracasso de público e de crítica, custou uma fortuna e, mesmo assim, já tem duas seqüências programadas. É baseado numa série de livros escritos pelo próprio cineasta. À frente do elenco estão Freddie Highmore ("A Fantástica Fábrica de Chocolate", "Um Bom Ano", "Em Busca da Terra do Nunca") e Mia Farrow ("A Profecia", "A Rosa Púrpura do Cairo", "O Bebê de Rosemary"). A primeira meia hora de filme é em real action, depois vira animação. Entre os dubladores originais estão David Bowie, Snoop Dogg e... MADONNA!!!! Entendeu agora o porquê do fracasso (hehe... brincadeira!)? Como no Brasil só será lançado em versão dublada em português (maldição!), a solução vai ser esperar até sair a edição em dvd...
domingo, março 04, 2007
GUARANI 2007 - OS VENCEDORES
Os grandes vencedores da décima segunda edição do prêmio Guarani são os seguintes:
Filme: O CÉU DE SUELY, de Karim Ainouz
Documentário: ESTAMIRA, de Marcos Prado
Ator: Antonio Calloni, ANJOS DO SOL
Atriz: Hermila Guedes, O CÉU DE SUELY
Ator Coadjuvante: Paulo Autran, A MÁQUINA
Atriz Coadjuvante: Léa Garcia, O MAIOR AMOR DO MUNDO
Direção: Cao Hamburger, O ANO EM QUE MEUS PAIS SAÍRAM DE FÉRIAS
Filme Estrangeiro: MATCH POINT, de Woody Allen
Roteiro Original: O ANO EM QUE MEUS PAIS SAÍRAM DE FÉRIAS
Roteiro Adaptado: A MÁQUINA
Edição: A CONCEPÇÃO
Fotografia: ÁRIDO MOVIE
Revelação: Hermila Guedes, O CÉU DE SUELY
Trilha Sonora: A MÁQUINA
Som: A MÁQUINA
Figurino: ZUZU ANGEL
Direção de Arte: A MÁQUINA
Maquiagem: IRMA VAP - O RETORNO
Efeitos Visuais: A MÁQUINA
Filme - Júri Popular: O ANO EM QUE MEUS PAIS SAÍRAM DE FÉRIAS
E a divisão por filme ficou:
A MÁQUINA (6 guaranis)
O CÉU DE SUELY
O ANO EM QUE MEUS PAIS SAÍRAM DE FÉRIAS (3 guaranis)
ESTAMIRA
ANJOS DO SOL
O MAIOR AMOR DO MUNDO
A CONCEPÇÃO
ÁRIDO MOVIE
ZUZU ANGEL
IRMA VAP - O RETORNO (1 guarani)
O júri votante do Guarani 2007 foi o seguinte:
Robledo Milani (Programa de Cinema), Augusto Paulo Gonçalves (Adorocinema.com), Pablo Villaça (Cinemaemcena.com.br), Ticiano Osório (Zero Hora/RS), Glênio Póvoas (roteirista e professor de cinema), Mariana Laviaguerre (jornalista), Francisco Russo (Adorocinema.com), Liandro Lindner (jornalista), Paulo Neto (Dropsmagazine.com.br), Adriana Androvandi (Correio do Povo/RS), Daniel Garcez (cinéfilo), Lucas Gonzaga (Argumento.net), Camila Vieira (O Povo/CE), Tarcísio Puiati (cineasta), Ana Luiza Engel (Programa de Cinema), Camila Saccomori (Zero Hora/RS), Aurora Miranda Leão (Cinemacomrapadura.com.br), Matheus Bonez (jornalista), Paulo Kralik Angelini (Argumento.net), Daniel Bacchieri (jornalista), Roberto Sadovski (SET) e Ricardo Matsumoto (SET).
Filme: O CÉU DE SUELY, de Karim Ainouz
Documentário: ESTAMIRA, de Marcos Prado
Ator: Antonio Calloni, ANJOS DO SOL
Atriz: Hermila Guedes, O CÉU DE SUELY
Ator Coadjuvante: Paulo Autran, A MÁQUINA
Atriz Coadjuvante: Léa Garcia, O MAIOR AMOR DO MUNDO
Direção: Cao Hamburger, O ANO EM QUE MEUS PAIS SAÍRAM DE FÉRIAS
Filme Estrangeiro: MATCH POINT, de Woody Allen
Roteiro Original: O ANO EM QUE MEUS PAIS SAÍRAM DE FÉRIAS
Roteiro Adaptado: A MÁQUINA
Edição: A CONCEPÇÃO
Fotografia: ÁRIDO MOVIE
Revelação: Hermila Guedes, O CÉU DE SUELY
Trilha Sonora: A MÁQUINA
Som: A MÁQUINA
Figurino: ZUZU ANGEL
Direção de Arte: A MÁQUINA
Maquiagem: IRMA VAP - O RETORNO
Efeitos Visuais: A MÁQUINA
Filme - Júri Popular: O ANO EM QUE MEUS PAIS SAÍRAM DE FÉRIAS
E a divisão por filme ficou:
A MÁQUINA (6 guaranis)
O CÉU DE SUELY
O ANO EM QUE MEUS PAIS SAÍRAM DE FÉRIAS (3 guaranis)
ESTAMIRA
ANJOS DO SOL
O MAIOR AMOR DO MUNDO
A CONCEPÇÃO
ÁRIDO MOVIE
ZUZU ANGEL
IRMA VAP - O RETORNO (1 guarani)
O júri votante do Guarani 2007 foi o seguinte:
Robledo Milani (Programa de Cinema), Augusto Paulo Gonçalves (Adorocinema.com), Pablo Villaça (Cinemaemcena.com.br), Ticiano Osório (Zero Hora/RS), Glênio Póvoas (roteirista e professor de cinema), Mariana Laviaguerre (jornalista), Francisco Russo (Adorocinema.com), Liandro Lindner (jornalista), Paulo Neto (Dropsmagazine.com.br), Adriana Androvandi (Correio do Povo/RS), Daniel Garcez (cinéfilo), Lucas Gonzaga (Argumento.net), Camila Vieira (O Povo/CE), Tarcísio Puiati (cineasta), Ana Luiza Engel (Programa de Cinema), Camila Saccomori (Zero Hora/RS), Aurora Miranda Leão (Cinemacomrapadura.com.br), Matheus Bonez (jornalista), Paulo Kralik Angelini (Argumento.net), Daniel Bacchieri (jornalista), Roberto Sadovski (SET) e Ricardo Matsumoto (SET).
NOTAS SOBRE UM ESCÂNDALO
Cate Blanchett e Judi Dench são duas das maiores atrizes da atualidade, e disso ninguém tem dúvida. Portanto, quando surgiu a notícia de que elas estariam juntos num mesmo filme, como não deixar as expectativas subiram nas alturas? E NOTAS SOBRE UM ESCÂNDALO, o resultado deste encontro, é uma grata surpresa, porém é inevitável que não provoque algum tipo de decepção. E, mesmo por menor que seja, justifica qualquer lamentação. Mas nunca a ponto de marcar negativamente o trabalho impecável das duas - ambas, felizmente, indicadas ao Oscar.
Primeiro, fui ler o livro. Best seller de Zöe Heller, foi lançado no Brasil com o título ANOTAÇÕES SOBRE UM ESCÂNDALO, pela Editora Record. Aliás, este é um hábito que tenho, sempre procuro pautar minhas leituras em futuros lançamentos cinematográficos. E o livro é... MUITO BOM! Muito bom, mesmo! Conta, com riqueza de detalhes, a história de uma professora que entra numa escola inglesa com a missão de ensinar artes. Ela tem pouca experiência, e acaba criando uma amizade com uma das mais antigas professoras do lugar, uma solteirona que se encanta com a atenção recebida e passa a desenvolver um interesse "especial" pela nova colega. Atração que se transforma em revolta quando descobre o tal "escândalo" do título: a novata está tendo um caso com um dos alunos, um garoto de 15 anos. Na posse deste segredo, passa a manipular a 'amiga' para obter dela tudo que deseja: carinho, dedicação, companheirismo. Porém, num passo em falso, coloca tudo a perder numa tentative fútil de vingança. E, com tudo revelado, terá que agir com cuidado para manter o que havia "conquistado" até então.
A adaptação de Patrick Marber (autor de CLOSER-PERTO DEMAIS), num roteiro indicado ao Oscar, e a direção de Richard Eyre (dos ótimos A BELA DO PALCO e ÍRIS), respeitam rigidamente a estrutura do romance, porém preferem centrar a atenção nos desempenhos irrepreensíveis das atrizes do que na ação discorrida. Ou seja, esta é a maior falha da versão cinematográfica: sua pouca duração (são apenas 90 minutos) para um drama que discorre por quase 400 páginas literárias. Os eventos inevitavelmente terminam por se atropelarem, e o espectador, ainda mais aquele que desconhece a trama previamente, deve ficar com algumas questões mal resolvidas em mente - dados que estão no livro, e não na tela.
Mas, ao assistir a um filme, devemos pensar nele enquanto obra cultural independente, e não ligada a uma outra fonte, seja ela uma peça teatral, um fato real, uma música, uma notícia de jornal ou, claro, um livro. E, enquanto produto cinematográfico, NOTAS SOBRE UM ESCÂNDALO é, sim, acima da média. Só pela trilha sonora de Philip Glass (KUNDUM), também indicada ao Oscar, já valeria o ingresso. Mas o maior mérito é mesmo conferir Dench e Blanchett, no auge de suas formas, dando vida a duas personagens complexas, interessantíssimas e bastante singulares. Cada meio olhar, cada movimento no cabelo, cada roçar de dedos... tudo tem relevância na atuação delas. Na festa do Oscar, Judi enfrentou um peso-pesado (a fabulosa Helen Mirren, por A RAINHA), mas ver Blanchett perder sua estatueta para a impactante, porém melhor cantora do que atriz, Jennifer Hudson (DREAMGIRLS), me remete a quando Catherine Zeta-Jones (CHICAGO) ganhou o Oscar que deveria ter sido de Meryl Streep (ADAPTAÇÃO). São estrelas da vez, que acabam por obscurecer trabalhos superiores, porém tratados de forma mais "convencional". Mas injustiças acontecem, e na história do maior prêmio da indústria cinematográfica mundial elas se repetem com uma freqüência muito maior do que gostaríamos. E não há nada a ser feito a respeito, além de alertas como este.
NOTAS SOBRE UM ESCÂNDALO pode ser um pouco apressado, deixando alguns elementos no ar, mas é um impactante estudo sobre a solidão humana, e como tal deve ser percebido. Com duas fantásticas atrizes à frente do elenco, é daqueles filmes que merecem ser vistos com carinho e muita delicadeza. Pode não ter ganho nenhum dos quatro Oscars a que concorria, mas certamente irá ganhar um espaço importante entre outros iguais, como O QUE TERÁ ACONTECIDO A BABY JANE? e o recente AS HORAS.
Notes on a Scandal, Reino Unido, 2006
(nota 8,5)
Primeiro, fui ler o livro. Best seller de Zöe Heller, foi lançado no Brasil com o título ANOTAÇÕES SOBRE UM ESCÂNDALO, pela Editora Record. Aliás, este é um hábito que tenho, sempre procuro pautar minhas leituras em futuros lançamentos cinematográficos. E o livro é... MUITO BOM! Muito bom, mesmo! Conta, com riqueza de detalhes, a história de uma professora que entra numa escola inglesa com a missão de ensinar artes. Ela tem pouca experiência, e acaba criando uma amizade com uma das mais antigas professoras do lugar, uma solteirona que se encanta com a atenção recebida e passa a desenvolver um interesse "especial" pela nova colega. Atração que se transforma em revolta quando descobre o tal "escândalo" do título: a novata está tendo um caso com um dos alunos, um garoto de 15 anos. Na posse deste segredo, passa a manipular a 'amiga' para obter dela tudo que deseja: carinho, dedicação, companheirismo. Porém, num passo em falso, coloca tudo a perder numa tentative fútil de vingança. E, com tudo revelado, terá que agir com cuidado para manter o que havia "conquistado" até então.
A adaptação de Patrick Marber (autor de CLOSER-PERTO DEMAIS), num roteiro indicado ao Oscar, e a direção de Richard Eyre (dos ótimos A BELA DO PALCO e ÍRIS), respeitam rigidamente a estrutura do romance, porém preferem centrar a atenção nos desempenhos irrepreensíveis das atrizes do que na ação discorrida. Ou seja, esta é a maior falha da versão cinematográfica: sua pouca duração (são apenas 90 minutos) para um drama que discorre por quase 400 páginas literárias. Os eventos inevitavelmente terminam por se atropelarem, e o espectador, ainda mais aquele que desconhece a trama previamente, deve ficar com algumas questões mal resolvidas em mente - dados que estão no livro, e não na tela.
Mas, ao assistir a um filme, devemos pensar nele enquanto obra cultural independente, e não ligada a uma outra fonte, seja ela uma peça teatral, um fato real, uma música, uma notícia de jornal ou, claro, um livro. E, enquanto produto cinematográfico, NOTAS SOBRE UM ESCÂNDALO é, sim, acima da média. Só pela trilha sonora de Philip Glass (KUNDUM), também indicada ao Oscar, já valeria o ingresso. Mas o maior mérito é mesmo conferir Dench e Blanchett, no auge de suas formas, dando vida a duas personagens complexas, interessantíssimas e bastante singulares. Cada meio olhar, cada movimento no cabelo, cada roçar de dedos... tudo tem relevância na atuação delas. Na festa do Oscar, Judi enfrentou um peso-pesado (a fabulosa Helen Mirren, por A RAINHA), mas ver Blanchett perder sua estatueta para a impactante, porém melhor cantora do que atriz, Jennifer Hudson (DREAMGIRLS), me remete a quando Catherine Zeta-Jones (CHICAGO) ganhou o Oscar que deveria ter sido de Meryl Streep (ADAPTAÇÃO). São estrelas da vez, que acabam por obscurecer trabalhos superiores, porém tratados de forma mais "convencional". Mas injustiças acontecem, e na história do maior prêmio da indústria cinematográfica mundial elas se repetem com uma freqüência muito maior do que gostaríamos. E não há nada a ser feito a respeito, além de alertas como este.
NOTAS SOBRE UM ESCÂNDALO pode ser um pouco apressado, deixando alguns elementos no ar, mas é um impactante estudo sobre a solidão humana, e como tal deve ser percebido. Com duas fantásticas atrizes à frente do elenco, é daqueles filmes que merecem ser vistos com carinho e muita delicadeza. Pode não ter ganho nenhum dos quatro Oscars a que concorria, mas certamente irá ganhar um espaço importante entre outros iguais, como O QUE TERÁ ACONTECIDO A BABY JANE? e o recente AS HORAS.
Notes on a Scandal, Reino Unido, 2006
(nota 8,5)
sábado, março 03, 2007
LETRA E MÚSICA
LETRA E MÚSICA é uma comédia romântica - e se você está minimamente acostumado a ler minhas críticas, sabe o quanto desprezo este gênero cinematográfico. Sim, todos os filmes são iguais, apenas mostrando os dois atores do cartaz se apaixonando - brigando - se separando - voltando a ficar juntos. E LETRA E MÚSICA não é diferente. Ao menos não totalmente. Porque o interessante aqui não é a relação que surge entre o quase cinqüentão Hugh Grant e a recém trintona Drew Barrymore - é, sim, o que está além disso, os motivos que levaram os dois a se encontrarem, as elaboradas personalidades dos personagens e os percalços que ambos enfrentam juntos. Por vezes até esquecemos estarmos diante de mais uma famigerada "romcom". E isso, acredite, não poderia ser mais positivo.
LETRA E MÚSICA ganha o espectador já nos créditos de abertura, durante a exibição do videoclipe falso da ótima canção "Pop Goes My Heart", da falsa banda PoP, falso sucesso dos anos 80 composta pela falsa dupla composta por Grant e um amigo de faculdade. Ali, de imediato, entramos no clima oitentista que permeia toda a trama. Grant é um artista em decadência que vive do passado. Ele recebe uma nova chance ao ser chamado por uma ídolo adolescente, Cora (a novata Haley Bennet), um híbrido de Christina Aguilera e Shakira que é fã dele e quer que ele componha um hit para ambos cantarem juntos. O problema é que ele até sabe compor, porém é péssimo letrista. Mas a ajuda virá do lugar mais inesperado: a tresloucada moça que cuida das plantas dele, uma alegrinha Barrymore, que imediatamente após cantarolar alguns versos inspirados é chamada para formar dupla com ele neste futuro sucesso.
Apesar a diferença de idade, Grant e Barrymore formam um casal adorável na tela - logo esquecemos que ele poderia ser pai dela! A química é quase visível, e o bom entrosamento deles acrescenta muito ao resultado final. Claro que colabora o fato de ambos não serem estranhos no gênero, e estarem quase reprisando antigos papéis. Grant, mais no automático, lembra muito o milionário aborrecido de UM GRANDE GAROTO, assim como Barrymore aparece tão entusiasmada e 'old fashion' quanto no divertido AFINADO NO AMOR. E com ambos bem à vontade em cena, a descontração não poderia ser maior.
A trama de LETRA E MÚSICA não é nada original. Com alguns desvios desnecessários, como o envolvimento de Drew com um antigo tutor (Campbell Scott, pouco aproveitado), o filme ganha mesmo quando os protagonistas estão envolvidos na missão de recuperar o espírito de duas décadas atrás e remodelá-lo sob um contexto e uma visão atual, porém não menos saudosista. A falta de vergonha em se assumirem ultrapassados e exagerados só tende a conquistar o espectador, imerso nesta viagem do tempo iluminada e hilariante. Outro ponto difícil de esquecer são as pequenas participações da fantástica Kristen Johnston (do antigo seriado 3RD ROCK FROM THE SUN), escassas demais diante do enorme talento da comediante. Cada vez que ela entra em cena, no papel da irmã de Drew, a situação muda completamente, acrescentando um dinamisco único.
Simples, com poucas reviravoltas e bastante previsível, LETRA E MÚSICA não foi um sucesso de bilheteria, e, apesar das boas críticas recebidas, não irá mudar a vida de ninguém. Mesmo assim, é uma pequena preciosidade, daquelas que merecem ser degustadas com deleite. Com direção e roteiro de Marc Lawrence, que antes fizera o irrelevante AMOR à SEGUNDA VISTA (também com Grant, ao lado de Sandra Bullock), tem tudo para se tornar um clássico da "Sessão da Tarde" daqui há alguns anos. Somente pela trilha sonora já valeria a pena. Agora, quando vemos dois astros inteiramente entregues a uma bobagem tão divertida quanto esta, o prazer é inegável.
Music and Lyrics, EUA, 2007
(nota 8)
LETRA E MÚSICA ganha o espectador já nos créditos de abertura, durante a exibição do videoclipe falso da ótima canção "Pop Goes My Heart", da falsa banda PoP, falso sucesso dos anos 80 composta pela falsa dupla composta por Grant e um amigo de faculdade. Ali, de imediato, entramos no clima oitentista que permeia toda a trama. Grant é um artista em decadência que vive do passado. Ele recebe uma nova chance ao ser chamado por uma ídolo adolescente, Cora (a novata Haley Bennet), um híbrido de Christina Aguilera e Shakira que é fã dele e quer que ele componha um hit para ambos cantarem juntos. O problema é que ele até sabe compor, porém é péssimo letrista. Mas a ajuda virá do lugar mais inesperado: a tresloucada moça que cuida das plantas dele, uma alegrinha Barrymore, que imediatamente após cantarolar alguns versos inspirados é chamada para formar dupla com ele neste futuro sucesso.
Apesar a diferença de idade, Grant e Barrymore formam um casal adorável na tela - logo esquecemos que ele poderia ser pai dela! A química é quase visível, e o bom entrosamento deles acrescenta muito ao resultado final. Claro que colabora o fato de ambos não serem estranhos no gênero, e estarem quase reprisando antigos papéis. Grant, mais no automático, lembra muito o milionário aborrecido de UM GRANDE GAROTO, assim como Barrymore aparece tão entusiasmada e 'old fashion' quanto no divertido AFINADO NO AMOR. E com ambos bem à vontade em cena, a descontração não poderia ser maior.
A trama de LETRA E MÚSICA não é nada original. Com alguns desvios desnecessários, como o envolvimento de Drew com um antigo tutor (Campbell Scott, pouco aproveitado), o filme ganha mesmo quando os protagonistas estão envolvidos na missão de recuperar o espírito de duas décadas atrás e remodelá-lo sob um contexto e uma visão atual, porém não menos saudosista. A falta de vergonha em se assumirem ultrapassados e exagerados só tende a conquistar o espectador, imerso nesta viagem do tempo iluminada e hilariante. Outro ponto difícil de esquecer são as pequenas participações da fantástica Kristen Johnston (do antigo seriado 3RD ROCK FROM THE SUN), escassas demais diante do enorme talento da comediante. Cada vez que ela entra em cena, no papel da irmã de Drew, a situação muda completamente, acrescentando um dinamisco único.
Simples, com poucas reviravoltas e bastante previsível, LETRA E MÚSICA não foi um sucesso de bilheteria, e, apesar das boas críticas recebidas, não irá mudar a vida de ninguém. Mesmo assim, é uma pequena preciosidade, daquelas que merecem ser degustadas com deleite. Com direção e roteiro de Marc Lawrence, que antes fizera o irrelevante AMOR à SEGUNDA VISTA (também com Grant, ao lado de Sandra Bullock), tem tudo para se tornar um clássico da "Sessão da Tarde" daqui há alguns anos. Somente pela trilha sonora já valeria a pena. Agora, quando vemos dois astros inteiramente entregues a uma bobagem tão divertida quanto esta, o prazer é inegável.
Music and Lyrics, EUA, 2007
(nota 8)
quinta-feira, março 01, 2007
CANDY
Após ter sido indicado ao Oscar e de ter ganho diversos prêmios (como ter sido escolhido Melhor Ator segundo os Críticos de Nova Iorque e de São Francisco) pelo polêmico BROKEBACK MOUNTAIN, o australiano Heath Ledger seguiu um caminho inverso, não aceitando grandes produções. Em vez disso, marcou presença neste pequeno filme independente ao lado da quase desconhecida Abbie Cornish (vista há pouco em UM BOM ANO). A decisão, se não a mais óbvia, também não foi igualmente sábia. Não que CANDY não funcione no sentido dele explorar ainda mais suas capacidades dramáticas; sim, e ele revela nuances frágeis e intensas. Mas por outro lado não acrescenta muito ao currículo do rapaz, que já esteve melhor em outros projetos menores, como A ÚLTIMA CEIA e REIS DE DOGTOWN.
Dirigido pelo pouco conhecido Neil Armfield e baseado no romance de Luke Davis, esta é a história de um casal que vive à margem da sociedade: tudo o que querem é se drogar e esquecer de qualquer responsabilidade da vida adulta. Ela, vinda de um lar infeliz, parece estar neste caminho apenas para machucar o pais, alheios ao sofrimento da garota. Ele, por outro lado, não tem seu passado desvendado, e pouco ficamos sabendo das causas que o levaram até aquele ponto. O que fica claro é que ambos estão perdidamente apaixonados um pelo outro, mas, acima de tudo, se encontram em estado de completa dependência da droga. Ambos são capazes de tudo - roubar, prostituição, mendigar - para manter o vício, cada dia mais óbvio para todos aqueles que convivem ao redor dos dois.
CANDY é o nome da protagonista, mas o filme na verdade tem o ponto de vista dele. Ele é louco por ela, ele que realmente se esforça para desistir do hábito quando ela engravida, ele que é mandado embora numa briga mais forte. Acompanhamos muito mais as desgraças dele do que as dela. Nesta indecisão entre um e outro, o filme parece perder o foco, deixando a chance de se tornar relevante dentro da temática simplesmente passar em branco. Os dois são drogados, mas poderia ser qualquer outro problema a lhes afilngir. Não é feito um estudo mais demorado dos motivos e das conseqüências. E quem perde, mais do que o espectador, que permanece distante, sem se envolver, são os realizadores, ao desperdiçarem em mais uma história de amor desajustada uma oportunidade de se discutir uma questão tão pertinente quanto a aqui abordada, porém de modo equivocado, sem o empenho que merecia.
Ledger é um bom ator, e Cornish pode vir a surpreender num futuro próximo. Geoffrey Rush, como o velho amigo gay e patrono dos exageros deles, serve mais como um alívio cômico à tragédia anunciada, sem encontrar meios de se desenvolver profundamente enquanto figura relevante dentro do roteiro. Entre tantas opções interessantes, CANDY não chega a ser um desperdício total pelo esforço dos atores envolvidos. Mas, ao contrário de outros dramas similares, como RUSH (1991) e NARC (2002), este prefere deixar de tomar uma posição mais política, abandonando discussões e centrando seu olhar no relacionamento afetivo entre duas pessoas em situações limites. Ainda curioso, mas definitivamente menos do que se poderia ter atingido.
Candy, Australia, 2006
(nota 6)
Dirigido pelo pouco conhecido Neil Armfield e baseado no romance de Luke Davis, esta é a história de um casal que vive à margem da sociedade: tudo o que querem é se drogar e esquecer de qualquer responsabilidade da vida adulta. Ela, vinda de um lar infeliz, parece estar neste caminho apenas para machucar o pais, alheios ao sofrimento da garota. Ele, por outro lado, não tem seu passado desvendado, e pouco ficamos sabendo das causas que o levaram até aquele ponto. O que fica claro é que ambos estão perdidamente apaixonados um pelo outro, mas, acima de tudo, se encontram em estado de completa dependência da droga. Ambos são capazes de tudo - roubar, prostituição, mendigar - para manter o vício, cada dia mais óbvio para todos aqueles que convivem ao redor dos dois.
CANDY é o nome da protagonista, mas o filme na verdade tem o ponto de vista dele. Ele é louco por ela, ele que realmente se esforça para desistir do hábito quando ela engravida, ele que é mandado embora numa briga mais forte. Acompanhamos muito mais as desgraças dele do que as dela. Nesta indecisão entre um e outro, o filme parece perder o foco, deixando a chance de se tornar relevante dentro da temática simplesmente passar em branco. Os dois são drogados, mas poderia ser qualquer outro problema a lhes afilngir. Não é feito um estudo mais demorado dos motivos e das conseqüências. E quem perde, mais do que o espectador, que permanece distante, sem se envolver, são os realizadores, ao desperdiçarem em mais uma história de amor desajustada uma oportunidade de se discutir uma questão tão pertinente quanto a aqui abordada, porém de modo equivocado, sem o empenho que merecia.
Ledger é um bom ator, e Cornish pode vir a surpreender num futuro próximo. Geoffrey Rush, como o velho amigo gay e patrono dos exageros deles, serve mais como um alívio cômico à tragédia anunciada, sem encontrar meios de se desenvolver profundamente enquanto figura relevante dentro do roteiro. Entre tantas opções interessantes, CANDY não chega a ser um desperdício total pelo esforço dos atores envolvidos. Mas, ao contrário de outros dramas similares, como RUSH (1991) e NARC (2002), este prefere deixar de tomar uma posição mais política, abandonando discussões e centrando seu olhar no relacionamento afetivo entre duas pessoas em situações limites. Ainda curioso, mas definitivamente menos do que se poderia ter atingido.
Candy, Australia, 2006
(nota 6)
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