quinta-feira, abril 26, 2007

HOLLYWOODLAND


Até que ponto confundimos verdade com ficção? HOLLYWOODLAND - BASTIDORES DA FAMA, trabalho de estréia no cinema do veterano da televisão norte-americana Allen Coulter (de séries como "Roma", "Six Feet Under", "Os Sopranos", "Sex and the City", "Arquivo X" e "Wonder Years"), trabalha basicamente com este conceito, abordando temas como fama e fracasso a partir de um fato real: o suposto suicídio do ator George Reeves, famoso na Era de Ouro de Hollywood por ser o primeiro intérprete do Homem de Aço da série televisiva "As Aventuras de Superman".
Após a morte, a mãe dele decide contratar um investigador particular, pois acredita que o filho foi assassinado. Duas tramas passam a se desenvolver paralelamente, a do detetive que julga estar envolvido no grande caso de sua carreira e a do intérprete em busca de uma chance de verdade na sétima arte. Nenhum dos dois encontra, realmente, o que espera, mas não sem antes passarem por diversas provações e descobertas.
Reeves era um cara bonito, que começou numa ponta em E O VENTO LEVOU e que teria tudo para ser um astro caso não tivesse virado amante da esposa de um dos maiores chefões da MGM. Ele acaba atingindo o estrelato, mas não da forma de esperava - com um seriado infantil, numa época em que a televisão era vista como a "irmã pobre" do cinema. A frustração - romântica e profissional - se agrava quando encontra uma garota mais interessada no que ele tem a oferecer ao invés do que os dois poderiam construir juntos. Ou seja, motivos para acabar com a própria vida ele teria muitos. Tantos quanto o número de pessoas que o desejavam morto: a namorada, que temia ser abandonada; a ex-amante, que buscava vingança; o marido traído, que queria sua honra.
Por outro lado, o que acontece no passado é só pano de fundo neste filme de várias camadas. HOLLYWOODLAND é, sim, sobre sonhos perdidos e desejos não realizados. E o exemplo em foco é o do verdadeiro protagonista, o encarregado da investigação. Louis Simo não tem um emprego fixo, perdeu a esposa e o filho para outro homem e é traído pela namorada. Mas tem esperança num futuro melhor, numa possibilidade de mudança. E irá se agarrar com todas as forças em qualquer vislumbre deste destino. Assim como a vítima do caso. A diferença é que um está morto, enquanto que o outro - ainda - não.
Se está na direção o ponto mais fraco de HOLLYWOODLAND - Coulter não consegue dotar sua narrativa de um ritmo mais forte, estendendo desnecessariamente o desenvolvimendo do enredo, com explicações óbvias e soluções pouco convincentes - o melhor é a ambientação, noir, muito mais simpática e efetiva que a vista, por exemplo, no recente e pretencioso DÁLIA NEGRA. Outro fator positivo é o ótimo elenco reunido, um conjunto de nomes entregues ao projeto, todos em performances muito acima do habitual. Adrien Brody (vencedor do Oscar por O PIANISTA) é o obstinado perfeito, e cada tombo do personagem é levado até as últimas conseqüências, de modo dedicado e muito competente. É daqueles atores que mostram tudo num olhar, com muita eficácia. Ben Affleck (premiado como Melhor Ator no Festival de Veneza e indicado ao Globo de Ouro como Melhor Ator Coadjuvante por este desempenho) aparece na melhor atuação de sua carreira, em que o visual canastrão que lhe é tão característico se encaixa perfeitamente, conseguindo aprofundar as decepções e tristezas enfrentadas sem exageros ou recursos externos. Já a bela Diane Lane (indicada ao Oscar por INFIDELIDADE) deixa o visual "mulher comum" e se assume como uma femme fatale provocadora e carente, dona de suas ambições e no controle de uma invejada posição. Ela e Affleck funcionam muito bem em cena, enquanto que Brody oferece doses exatas de fragilidade e perseverança no mais obstinado dos retratados.
HOLLYWOODLAND teve uma recepção mista da crítica especializada, além de ter tido um péssimo desempenho junto ao público, tendo sido lançado em poucas salas nos Estados Unidos e faturado menos de dois milhões de dólares nas bilheterias. Performance bastante modesta para um filme que traz nomes de tanto destaque e, principalmente, por ser envolto numa 'embalagem' tão atraente e interessante. Uma tragédia inspirada num fato real, estrelas de Hollywood, um homem em busca da verdade, mulheres fatais e seres desesperançados: como ser mais atraente? Porém, apesar de todos estes dados, esta não é uma obra de suspense ou um longa de mistério barato. Ao invés disso, se coloca mais como uma reflexão sobre o comportamento humano. E o que percebemos é que, quanto mais perto das estrelas, mais difícil é discernirmos a luz da escuridão.

Hollywoodland, EUA, 2006
(nota 7)

Um comentário:

it's britney, bitch. disse...

não posso comentar sobre filmes, mas posso falar sobre atores:

i *heart* ben affleck.