sexta-feira, maio 04, 2007

HOMEM-ARANHA 3

Quando um filme chega aos cinemas com tanta expectativa, como é o caso de HOMEM-ARANHA 3, é muito mais fácil prestarmos atenção aos seus supostos "defeitos" do que às virtudes apresentadas. Claro, porque já entramos na sala escura considerando-o o "melhor de todos, espetacular, insuperável". Porém, cada "percalço" soma direto na decepção, no desânimo e na frustração.
Dito isso, é importante ter algo em mente: HOMEM-ARANHA 3 é bom. É muito bom. Mas é inferior aos capítulos anteriores da trilogia e a outros filmes de heróis dos quadrinhos recentes, como X-MEN 3, X-MEN 2 e BATMAN BEGINS, por exemplo. Tendo esclarecido esta questão, vamos adiante.
Cada aventura cinematográfica de Peter Parker é como uma história independente de gibi, com início, meio e fim. No primeiro ele adquiriu seus poderes, enfrentou o Duende Verde (o pai do melhor amigo, um cientista que enlouquece após uma experiência mal-sucedida) e presenciou uma tragédia familiar: a morte do tio que o criara. No segundo, assume sua condição de herói para a mulher que ama e declara seu amor, tem sua identidade secreta revelada e ganha um novo inimigo: o Doutor Octopus, outro cientista enlouquecido. Agora, neste terceiro episódio, a situação é ligeiramente diferente: Homem-Aranha(Tobey Maguire, com a mesma cara de "nada" de sempre), após salvar a cidade em duas ocasiões, é admirado e reconhecido por toda a população. Esse excesso de segurança vai interferir nas suas relações pessoais, como com a namorada (Kirsten Dunst, visualmente desmotivada) e ao lidar com novos inimigos: a aparião do novo Duende (James Franco, que visualmente funciona, apesar das limitações interpretativas que possui), o Homem-Areia (Thomas Haden Church, de SIDEWAYS, convincente) e um rival no trabalho, Eddie Brock (Topher Grace, da série "That 70's Show", o mais empolgado), que posteriormente irá se transformar no assustador Venom.
HOMEM-ARANHA 3 persiste no molde desenhado nos filmes anteriores: o grande personagem é mesmo o homem por trás da máscara. O que importa, portanto, são as motivações deste, como chegou a ser o que é hoje e como lida com as desilusões e conquistas do caminho. Esta nada mais é do que uma história de pessoas carentes, em busca de orientação e auxílio. Parker sente a falta do tio, Mary-Jane (a namorada) quer um amor verdadeiro, Harry (o melhor amigo) procura um culpado pela morte do pai, Flint Marko (Homem-Areia) quer ajudar a filha doente, Eddie Brock busca reconhecimento pessoal e profissional. Com tantos necessitanto de atenção, será quase impossível para o diretor Sam Raimi (o mesmo nos três filmes) e para o público espectador se dividir de forma equilibrada.
Cenas de ação espetaculares, efeitos especiais de última geração, atores que entendem e defendem seus personagens com amor e dedicação: tudo está presente! Quais são, então, os defeitos? Bem, eles existem, e são muitos. O principal, que talvez englobaria todos os demais, é, no entanto, um só: o excesso. Assim como aconteceu no final da franquia anterior de Batman (BATMAN & ROBIN, 1997), há gente demais em cena. Tá certo que o novo Duende deveria aparecer, afinal o arco dele é o único que começou no primeiro filme e que merecia um encerramento. Mas Homem-Areia (um dos vilões clássicos, ainda da década de 60 nas hq's) e Venom (uma bobagem surgida nos anos 90), juntos? Toda a verossimilhança perseguida nos filmes anteriores vai por água abaixo com estes dois. Afinal, um aparece ao tropeçar num buraco e ser atingido por uns raios (onde estava a segurança do lugar? seria possível uma experiência dessas ser tão mal cuidada?) e o outro simplesmente cai dos céus, como um alienígena enraivecido. O legal seria apenas o primeiro, que até aparece na trama após uma tentativa de justificar seus motivos, mas melhor desenvolvido, com mais tempo em cena. Do outro, o único acréscimo interessante que oferece é idéia do lado negro do herói (já explorado com muito mais sucesso em outra saga, STAR WARS), mas este é um argumento que, infelizmente, é muito mal desenhado.
Outro sinal do exagero é o acréscimo da família Stacy: o capitão de polícia (James Cromwell, de A RAINHA, inexpressivo), e sua filha, Gwen (Bryce Dallas Howard, de A DAMA NA ÁGUA, perdida). Muito importantes nos gibis, os dois têm presenças pálidas no filme. Gwen, por exemplo, deveria servir para realmente abalar a relação Peter/Mary-Jane: ou se oferecendo para o protagonista, ou despertando o interesse romântico do herói. Mas o que vemos não é nem uma coisa, nem outra. E, sem função maior, sua existência acaba se revelando um constrangimento para os fãs e um desperdício para os curiosos.
E, por fim, temos a falta de ritmo do roteiro. Desenvolvido pelos irmãos Sam e Ivan Raimi, com o auxílio do vencedor do Oscar Alvin Sargent, o enredo se perde entre as diversas opções apresentadas. Há o momento "sou o favorito da cidade", para depois seguir com o "emo-herói abandonado em busca de vingança" e terminando com o "bom moço que salva todo mundo e ainda conquista a mocinha". Os vilões não são "maus" o suficiente, e nenhuma ameaça chega verdadeiramente a assustar. A principal antítese, Venom, é um ser amorfo e desprovido de maiores características, tornando quase impossível se criar qualquer relação - antipatia ou simpatia - com ele. E, quando surge a indiferença, o erro é quase irrecuperável.
HOMEM-ARANHA 3 é, apesar de tudo, um grande filme, e abre bem a temporada de blockbusters norte-americanos. Mas, aquele que deveria ser o prato principal, dificilmente será mais do que um aperitivo (diante dos novos PIRATAS DO CARIBE, HARRY POTTER e SHREK, por exemplo). O boca-a-boca não deverá ser tão positivo, e somente os mais fanáticos irão conferir na sala escura este longa mais de uma vez. Não que encerrará a carreira cinematográfica do personagem, mas que ao mesmo sirva como alerta para os próximos filmes: assim como na vida real, no cinema também, em muitos casos, "menos" significa "mais"!

Spider-Man 3, EUA, 2007
(nota 7,5)


2 comentários:

Anônimo disse...

Pois eu acho q o James Franco é uma das coisas menos piores em termos de atuação dos três filmes. O ALfred Molina estava muito bem no 2º.

Anônimo disse...

Eu achei o filme beeeem bom. Diversão garantida. Para críticos e não críticos.