Um é ótimo, e poucos questionam isso. O outro, após um início meio "duvidoso", cada vez mais se confirma como promessa. E há ainda um terceiro, pouco badalado, mas que após uma rápida análise do histórico revela ser mais do que um competente artesão. E é justamente pela união do veterano Anthony Hopkins e do intrigante Ryan Gosling com o quase sempre surpreendente Gregory Hoblit que assistir a UM CRIME DE MESTRE é uma tarefa que no final das contas acaba valendo a pena. Mesmo com tantas variáveis contra.
A "tagline", ou slogan, é uma das piores dos últimos tempos: "matei minha esposa, agora prove!" Pra começo de conversa, a tradução está errada. O original é "I shot my wife, now prove it", ou "eu atirei na minha esposa, agora prove". E isso porque, na verdade, a mulher não está morta. Depois vem o próprio gênero em que o filme se encaixa, um dos mais desgastados do cinemão hollywoodiano, o suspense de tribunal. E por fim está a estrutura do enredo, que abusa de clichês e reviradas previsíveis e bem posicionadas durante o desenvolvimento da trama, propícios para manter a atenção do espectador menos exigente. O roteiro de Daniel Pyne (o mesmo de A SOMA DE TODOS OS MEDOS, UM DOMINGO QUALQUER e SOB O DOMÍNIO DO MAL) apresenta poucas inovações, mantendo-se fiéis aos preceitos mais básicos, sem prejudicar, mas também sem oferecer melhor aproveitamento da interessante idéia inicial.
E qual é o argumento de UM CRIME DE MESTRE? Um homem, ao descobrir que sua esposa - bem mais nova - está lhe traindo, a confronta. A discussão acaba com ele atirando nela à queima roupa. A polícia chega logo em seguida, o desarma e o leva preso, após sua confissão de tentativa de assassinato. Ao ser levado à julgamento, porém, muda o discurso e se declara inocente. Uma investigação revela que a arma do crime desapareceu do local, e o pior: o detetive encarregado do caso era amante da vítima. Caberá a um jovem advogado em plena ascensão desvendar os acontecimentos e provar a culpa do acusado.
Hopkins, vencedor do Oscar pelo emblemático canibal de O SILÊNCIO DOS INOCENTES, parece ter sucumbido ao personagem, apesar de sua presença sempre ser acima da média. Sem muita motivação para novos trabalhos, vem repetindo a mesma performance em diversos longas, como REVELAÇÕES (2003) e EM MÁ COMPANHIA (2002). O mesmo se sucede aqui. Ryan Gosling chamou atenção do público pela primeira vez ao seduzir Sandra Bullock no thriller CÁLCULO MORTAL (2002). Ele, que já foi membro do Clube do Mickey ao lado de Justin Timberlake, na infância, apareceu recentemente em projetos mais interessantes, como TOLERÃNCIA ZERO (2001) e DIÁRIO DE UMA PAIXÃO (2004), além do ainda inédito por aqui HALF NELSON (2006), que lhe valeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator neste ano. Todo o prazer que Hopkins parece ter perdido pela arte da atuação está presente no desempenho de Gosling, um ator que certamente ainda dará muito o que falar. Já Gregoy Hoblit é um diretor que, acredito, vem sendo subestimado. Depois da boa estréia em AS DUAS FACES DE UM CRIME (1996), outro drama de tribunal que revelou o até então novato Edward Norton, seguiu com projetos que, se não estouraram nas bilheterias, ao menos cumpriram à contento seus objetivos, como POSSUÍDOS (1998), ALTA FREQÜÊNCIA (2000) e A GUERRA DE HART (2002). Hoblit está se habituando a tratar temas aparentemente desgastados - suspense sobrenatural, aventura de guerra - com um olhar mais curioso, oferecendo ao seu público uma experiência mais relevante e prazerosa. E, ao lado dos talentos dos seus protagonistas aqui presentes, o bom resultado é quase inevitável. Mesmo com tantos "poréns" durante o caminho.
Fracture, EUA, 2007
(nota 7,5)
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2 comentários:
ficou ótimo o novo LEIAUTE! smacks
este blog é um FELÔMENO.
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