quarta-feira, junho 06, 2007

CONFIDENCIAL

Talvez você tenha a seguinte sensação ao assistir CONFIDENCIAL: "já vi isso antes...". Bem, este sentimento não será totalmente despropositado, afinal a trama é exatamente a mesma de CAPOTE, longa de 2005 que deu o Oscar de Melhor Ator para Phillip Seymor Hoffman. Mas isso não significa que este novo filme não mereça ser visto - na verdade, é mais um estímulo, no sentido de compará-los para descobrir que, no fundo, ambos possuem méritos próprios que os justifiquem independente um do outro.
Na pele do escritor Truman Capote, autor de "Bonequinha de Luxo", dessa vez está o praticamente desconhecido Toby Jones (que havia aparecido em pequenos papéis em SENHORA HENDERSON APRESENTA e EM BUSCA DA TERRA DO NUNCA, além de ter sido a voz do elfo Dobby em HARRY POTTER E A CÃMARA SECRETA). A pouca familiaridade que temos com ele colabora na personificação do famoso escritor: por alguns instantes, nos indagamos se não estamos diante de uma reencarnação de Capote, tamanha a perfeição da interpretação. O que a difere da atuação de Phillip são os detalhes: enquanto este procurava algo minimalista e casual, Jones investe na afetação e nos trejeitos mais exagerados, marcando de vez sua visão do personagem. E esta orientação se reflete em todo o filme: se em CAPOTE tudo era mais sóbrio e reflexivo, CONFIDENCIAL aposta nas emoções e, principalmente, nas reações dos envolvidos em ambos os lados da tela.
A estrutura da trama é praticamente a mesma: o processo de investigação de Truman Capote sobre o assassinato de toda uma família no interior do Texas. Este material acabou rendendo o livro mais marcante dele, "À Sangue Frio". Truman e sua amiga Harper Lee (uma composição surpreendente de Sandra Bullock, no melhor desempenho de toda a carreira dela) saem do mundo cosmopolita de Nova York e decidem se aprofundar naquele universo tão distante e, ao mesmo tempo, tão curioso e específico. Dirigido por Douglas McGrath, o mesmo de EMMA (1996) e NICHOLAS NICKLEBY (2002), o filme deixa bem claro duas facetas do protagonista: se por um lado era um profissional genial e obstinado, por outro era também uma pessoa ligada nos pequenos defeitos da alma humana, como fofocas, invejas, intrigas e dissimulações. Poucos gostariam de ser como ele, mas por outro lado é quase impossível não se interessar por uma personalidade tão intrigante e hipnótica.
Outro ponto que desperta atenção em CONFIDENCIAL é a impressionante quantidade de participações especiais que o filme apresenta. Gwyneth Paltrow, Sigourney Weaver, Hope Davis, Juliet Stevenson, Isabella Rosselini, Peter Bogdanovich e Jeff Daniels fazem rápidas aparições, porém enriquecendo a obra inestimavelmente. O único de todo o elenco, no entanto, à altura do protagonista é Daniel Craig (007 - CASSINO ROYALE), como um dos assassinos. Ele emprega uma verossimilhança e uma determinação que estabelecem um confronto que chega a mexer com os nervos do público. A relação entre Craig e Jones é um dos pontos altos do filme.
Talvez CONFIDENCIAL não seja tão elegante e inteligente quanto CAPOTE, por exemplo. Mas é uma produção que envolve o espectador e incita a curiosidade em relação ao que é narrado. Melhor ou pior, é difícil dizer. O mais certo, mesmo, é que é diferente na medida certa e tão competente quanto, considerando-se que ambos possuem diretrizes distintas. O problema deste segundo é que, como veio depois, infelizmente estará destinado a ficar na sombra do anterior. Um destino certamente imerecido.

Infamous, EUA, 2006
(nota 8,5)



2 comentários:

LU K. disse...

Eu adorei Capote. Fica então uma boa dica. Vou ver se assisto Confidencial!
bjs

love disse...

Achei Confidencial beem melhor que Capote (filme que me deu sono, btw)
bjo!