terça-feira, junho 19, 2007

SHREK TERCEIRO

O primeiro, "Shrek", de 2001, ganhou o primeiro Oscar entregue na até então inédita categoria de Melhor Longa de Animação. O segundo, "Shrek 2", de 2004, não só foi também indicado como acabou ganhando a estatueta dourada de Melhor Trilha Sonora. Isso sem falar que é o desenho animado de maior bilheteria da história, tendo arrecadado só nos Estados Unidos mais de 436 milhões de dólares! Dados difíceis de serem superados, não? Pois bem, "Shrek Terceiro" provavelmente não alcançará as mesmas marcas, mas tem qualidades suficientes para garantir uma colocação especial em nossas memórias.
Sem a inovação do primeiro ou o sarcasmo do segundo, este "Terceiro" consegue escapar de ser "mais do mesmo" pela sábia decisão dos roteiristas em apostar nas novidades. Ou seja, todo mundo já tinha em mente o que esperar o ogro Shrek, do Burro ou do Gato de Botas (que parecem até serem coadjuvantes do próprio filme!). Então, optou-se por mais espaço para aqueles que sempre tiveram uma participação discreta - as demais princesas dos contos-de-fada (Branca De Neve, Rapunzel, Bela Adormecida e Cinderella) e os temidos vilões (Capitão Gancho, Bruxa Malvada e, claro, o hilariante Príncipe Encantado). Isso garante a diversão do filme, porém sem aquele olhar das aventuras anteriores, que enfatizava a crítica e o deboche.
A trama de "Shrek Terceiro" é bastante simples. O pai de Fiona, o rei de Tão, Tão Distante, morre, deixando o trono vago. O primeiro na linha de sucessão seria Shrek, que recusa a tarefa. Mas para se livrar, tem que encontrar outro que assuma o posto. E o próximo da lista é um primo distante, Artie - ou, como viria a ser conhecido, Artur. Enquanto Shrek, Burro e Gato de Botas estão ausentes, envolvidos na missão de encontrar o rapaz, o Príncipe Encantado arma um plano para tomar posse do Reino, com a ajuda de todos os vilões dos contos-de-fada. Fiona e as demais princesas é que terão que se unir para defender a paz local.
Outro viés interessante que o enredo propõe é como os protagonistas enfrentam a maturidade . O Burro já é pai, com vários filhotes, enquanto que Shrek tem que lidar com a possibilidade de um novo emprego (ser ou não rei) e a futura paternidade. Família, trabalho, segurança. Temas adultos demais para um longa aparentemente destinado ao público infantil. E que no final acabam pesando decisivamente: sim, os pequenos irão se divertir, mas a reflexão provocada nos mais velhos dessa vez entra em conflito com a diversão despreocupada. O que, se por um lado é bom, já que fornece material para análise e discussão, por outro ofusca o entretenimento por si só.
"Shrek Terceiro" marca a estréia na direção de Chris Miller, roteirista dos dois primeiros filmes e que trabalhou como animador em "Madagascar". Ele pode não ser tão original quanto Andrew Adamson (diretor de "Shrek 1" e "2", que agora aparece somente como produtor executivo, enquanto assume a série de fantasia "As Crônicas de Nárnia"), mas é um bom executor, dando continuidade com competência a este mundo tão divertido e encantador. E no time de vozes originais, Antonio Banderas (Gato de Botas) e Eddie Murphy (Burro) continuam proporcionando um show à parte, enquanto que Mike Myers (Shrek), Cameron Diaz (Fiona), Rupert Everett (Príncipe Encantado) e Julie Andrews (Rainha) seguem a mesma linha já conhecida. A novidade ficou por conta da inclusão do astro pop Justin Timberlake (Artur), cada vez mais investindo na carreira cinematográfica. Porém, o desempenho vocal é um "mimo" oferecido somente aos mais antenados. Outra prova de que, em seu terceiro capítulo, "Shrek" se confirma, definitivamente, como o mais bem sucedido exemplo de animação adulta. Uma explosão de exageros que guarda, no final das contas, seus mais raros e preciosos presentes no menores, e muitas vezes desapercebidos, detalhes.

Shrek The Third, EUA, 2007
(nota 7,5)

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