Finalmente a "Temporada dos Três" mostrou a que veio. Sim, porque não há quem não negue que os terceiros HOMEM-ARANHA e PIRATAS DO CARIBE foram enormes decepções, enquanto que SHREK TERCEIRO até divertiu, mas que ainda assim foi o mais fraco da trilogia. Felizmente isso não se repetiu na franquia comandada por Steven Soderbergh (diretor oscarizado por TRAFFIC, 2000) e estrelada por um dos mais impressionantes elencos já reunidos em Hollywood: George Clooney, Brad Pitt, Matt Damon, Andy Garcia, Don Cheadle (indicado ao Oscar por HOTEL RWANDA), Bernie Mac (AS PANTERAS DETONANDO), Elliott Gould (o pai de Monica e Ross no seriado "Friends"), Casey Affleck (irmão de Ben Affleck), Scott Caan (filho de James Caan) e Carl Reiner (famoso diretor de televisão, vencedor de 5 Emmys), entre outros tantos. TREZE HOMENS E UM NOVO SEGREDO não só é muito superior ao anterior, DOZE HOMENS E UM OUTRO SEGREDO (que até tinha seus momentos divertidos, mas decepcionava numa avaliação geral), como se sai bem até em comparação ao primeiro da série, ONZE HOMENS E UM SEGREDO, que já tinha ido muito bem tanto em relação à crítica quanto junto ao público (quase US$ 200 milhões nas bilheterias só nos EUA)!
E não é pouca coisa ser apontado com o melhor dos três, ainda mais depois de tantos terem se apressado em declarar o fim da série após o tímido desempenho do segundo filme. O melhor de TREZE HOMENS é que ele vai além de um retorno às origens: é humilde o suficiente em se satisfazer apenas com o mais simples, com o básico, e dentro do que propõe se apresenta como uma obra impecável de entretenimento.
A trama de TREZE HOMENS E UM NOVO SEGREDO é sobre um roubo de um cassino. Fica para trás as aventuras européis rocambolescas de DOZE HOMENS e as trapalhadas amorosas de ONZE HOMENS: o que interessa, agora, é a pura e imediata vingança, o golpe bem dado e todos os elementos do plano funcionando à contento. E quem ganha com isso é o espectador, que fica atento a cada movimento ou nova situação.
Um dos "onze" homens de Danny Ocean (Clooney), Reuben (Gould), é passado para trás por um outro negociante, Willy Bank (o grande adendo do elenco, um Al Pacino em ótima forma, que parece estar se divertindo tanto quanto os outros). Isto ocorrido, os demais se unem para vingar o amigo. Pronto, e é exatamente o que acontece, sem mais, nem menos, sem surpresas de última hora (claro que estas existem, mas para acrescentar dentro de um contexto, e não para distrair originando algo novo e diverso) ou reviravoltas forjadas.
Um ponto importante, presente com ainda mais força, é o bom humor. Piadas internas (Clooney recomendando que Pitt deveria se casar e ter filhos, referência ao casamento do ator com Angelina Jolie e aos vários filhos que os dois têm, adotados ou não), reencontros marcantes (Pacino e Ellen Barkin novamente juntos, dezoito anos depois de VÍTIMAS DE UMA PAIXÃO), comentários de outros filmes (Pitt recomendando que Clooney perca a barriga, a que o ator teria ganho para fazer SYRIANA, o nariz falso de Damon que deveria ter aparecido em OS IRMÃOS GRIMM) e até mesmo a ausência das estrelas Julia Roberts e Catherine Zeta-Jones contribuem para termos um filme mais enxuto, conciso em sua proposta e mais bem sucedido dramaticamente. E se você não der boas risadas nem mesmo com a participação de Oprah Winfrey, então é porque não entende nada de cultura pop!
TREZE HOMENS E UM NOVO SEGREDO não chega a ser um blockbuster, mas está indo bem de público e crítica. Ficou em primeiro lugar nas bilheterias norte-americanas quando estreou, com quase US$ 40 milhões arrecadados no final de semana. Um bom resultado, que certamente irá ajudar a melhorar a imagem da saga entre os que duvidam da força do projeto. E que venha QUATORZE HOMENS E UM SEGREDO AINDA MELHOR o quanto antes!
Ocean's Thirteen, EUA, 2007
(nota 9)
quinta-feira, junho 21, 2007
terça-feira, junho 19, 2007
SHREK TERCEIRO
O primeiro, "Shrek", de 2001, ganhou o primeiro Oscar entregue na até então inédita categoria de Melhor Longa de Animação. O segundo, "Shrek 2", de 2004, não só foi também indicado como acabou ganhando a estatueta dourada de Melhor Trilha Sonora. Isso sem falar que é o desenho animado de maior bilheteria da história, tendo arrecadado só nos Estados Unidos mais de 436 milhões de dólares! Dados difíceis de serem superados, não? Pois bem, "Shrek Terceiro" provavelmente não alcançará as mesmas marcas, mas tem qualidades suficientes para garantir uma colocação especial em nossas memórias.
Sem a inovação do primeiro ou o sarcasmo do segundo, este "Terceiro" consegue escapar de ser "mais do mesmo" pela sábia decisão dos roteiristas em apostar nas novidades. Ou seja, todo mundo já tinha em mente o que esperar o ogro Shrek, do Burro ou do Gato de Botas (que parecem até serem coadjuvantes do próprio filme!). Então, optou-se por mais espaço para aqueles que sempre tiveram uma participação discreta - as demais princesas dos contos-de-fada (Branca De Neve, Rapunzel, Bela Adormecida e Cinderella) e os temidos vilões (Capitão Gancho, Bruxa Malvada e, claro, o hilariante Príncipe Encantado). Isso garante a diversão do filme, porém sem aquele olhar das aventuras anteriores, que enfatizava a crítica e o deboche.
A trama de "Shrek Terceiro" é bastante simples. O pai de Fiona, o rei de Tão, Tão Distante, morre, deixando o trono vago. O primeiro na linha de sucessão seria Shrek, que recusa a tarefa. Mas para se livrar, tem que encontrar outro que assuma o posto. E o próximo da lista é um primo distante, Artie - ou, como viria a ser conhecido, Artur. Enquanto Shrek, Burro e Gato de Botas estão ausentes, envolvidos na missão de encontrar o rapaz, o Príncipe Encantado arma um plano para tomar posse do Reino, com a ajuda de todos os vilões dos contos-de-fada. Fiona e as demais princesas é que terão que se unir para defender a paz local.
Outro viés interessante que o enredo propõe é como os protagonistas enfrentam a maturidade . O Burro já é pai, com vários filhotes, enquanto que Shrek tem que lidar com a possibilidade de um novo emprego (ser ou não rei) e a futura paternidade. Família, trabalho, segurança. Temas adultos demais para um longa aparentemente destinado ao público infantil. E que no final acabam pesando decisivamente: sim, os pequenos irão se divertir, mas a reflexão provocada nos mais velhos dessa vez entra em conflito com a diversão despreocupada. O que, se por um lado é bom, já que fornece material para análise e discussão, por outro ofusca o entretenimento por si só.
"Shrek Terceiro" marca a estréia na direção de Chris Miller, roteirista dos dois primeiros filmes e que trabalhou como animador em "Madagascar". Ele pode não ser tão original quanto Andrew Adamson (diretor de "Shrek 1" e "2", que agora aparece somente como produtor executivo, enquanto assume a série de fantasia "As Crônicas de Nárnia"), mas é um bom executor, dando continuidade com competência a este mundo tão divertido e encantador. E no time de vozes originais, Antonio Banderas (Gato de Botas) e Eddie Murphy (Burro) continuam proporcionando um show à parte, enquanto que Mike Myers (Shrek), Cameron Diaz (Fiona), Rupert Everett (Príncipe Encantado) e Julie Andrews (Rainha) seguem a mesma linha já conhecida. A novidade ficou por conta da inclusão do astro pop Justin Timberlake (Artur), cada vez mais investindo na carreira cinematográfica. Porém, o desempenho vocal é um "mimo" oferecido somente aos mais antenados. Outra prova de que, em seu terceiro capítulo, "Shrek" se confirma, definitivamente, como o mais bem sucedido exemplo de animação adulta. Uma explosão de exageros que guarda, no final das contas, seus mais raros e preciosos presentes no menores, e muitas vezes desapercebidos, detalhes.
Shrek The Third, EUA, 2007
(nota 7,5)
Sem a inovação do primeiro ou o sarcasmo do segundo, este "Terceiro" consegue escapar de ser "mais do mesmo" pela sábia decisão dos roteiristas em apostar nas novidades. Ou seja, todo mundo já tinha em mente o que esperar o ogro Shrek, do Burro ou do Gato de Botas (que parecem até serem coadjuvantes do próprio filme!). Então, optou-se por mais espaço para aqueles que sempre tiveram uma participação discreta - as demais princesas dos contos-de-fada (Branca De Neve, Rapunzel, Bela Adormecida e Cinderella) e os temidos vilões (Capitão Gancho, Bruxa Malvada e, claro, o hilariante Príncipe Encantado). Isso garante a diversão do filme, porém sem aquele olhar das aventuras anteriores, que enfatizava a crítica e o deboche.
A trama de "Shrek Terceiro" é bastante simples. O pai de Fiona, o rei de Tão, Tão Distante, morre, deixando o trono vago. O primeiro na linha de sucessão seria Shrek, que recusa a tarefa. Mas para se livrar, tem que encontrar outro que assuma o posto. E o próximo da lista é um primo distante, Artie - ou, como viria a ser conhecido, Artur. Enquanto Shrek, Burro e Gato de Botas estão ausentes, envolvidos na missão de encontrar o rapaz, o Príncipe Encantado arma um plano para tomar posse do Reino, com a ajuda de todos os vilões dos contos-de-fada. Fiona e as demais princesas é que terão que se unir para defender a paz local.
Outro viés interessante que o enredo propõe é como os protagonistas enfrentam a maturidade . O Burro já é pai, com vários filhotes, enquanto que Shrek tem que lidar com a possibilidade de um novo emprego (ser ou não rei) e a futura paternidade. Família, trabalho, segurança. Temas adultos demais para um longa aparentemente destinado ao público infantil. E que no final acabam pesando decisivamente: sim, os pequenos irão se divertir, mas a reflexão provocada nos mais velhos dessa vez entra em conflito com a diversão despreocupada. O que, se por um lado é bom, já que fornece material para análise e discussão, por outro ofusca o entretenimento por si só.
"Shrek Terceiro" marca a estréia na direção de Chris Miller, roteirista dos dois primeiros filmes e que trabalhou como animador em "Madagascar". Ele pode não ser tão original quanto Andrew Adamson (diretor de "Shrek 1" e "2", que agora aparece somente como produtor executivo, enquanto assume a série de fantasia "As Crônicas de Nárnia"), mas é um bom executor, dando continuidade com competência a este mundo tão divertido e encantador. E no time de vozes originais, Antonio Banderas (Gato de Botas) e Eddie Murphy (Burro) continuam proporcionando um show à parte, enquanto que Mike Myers (Shrek), Cameron Diaz (Fiona), Rupert Everett (Príncipe Encantado) e Julie Andrews (Rainha) seguem a mesma linha já conhecida. A novidade ficou por conta da inclusão do astro pop Justin Timberlake (Artur), cada vez mais investindo na carreira cinematográfica. Porém, o desempenho vocal é um "mimo" oferecido somente aos mais antenados. Outra prova de que, em seu terceiro capítulo, "Shrek" se confirma, definitivamente, como o mais bem sucedido exemplo de animação adulta. Uma explosão de exageros que guarda, no final das contas, seus mais raros e preciosos presentes no menores, e muitas vezes desapercebidos, detalhes.
Shrek The Third, EUA, 2007
(nota 7,5)
quarta-feira, junho 06, 2007
CONFIDENCIAL
Talvez você tenha a seguinte sensação ao assistir CONFIDENCIAL: "já vi isso antes...". Bem, este sentimento não será totalmente despropositado, afinal a trama é exatamente a mesma de CAPOTE, longa de 2005 que deu o Oscar de Melhor Ator para Phillip Seymor Hoffman. Mas isso não significa que este novo filme não mereça ser visto - na verdade, é mais um estímulo, no sentido de compará-los para descobrir que, no fundo, ambos possuem méritos próprios que os justifiquem independente um do outro.
Na pele do escritor Truman Capote, autor de "Bonequinha de Luxo", dessa vez está o praticamente desconhecido Toby Jones (que havia aparecido em pequenos papéis em SENHORA HENDERSON APRESENTA e EM BUSCA DA TERRA DO NUNCA, além de ter sido a voz do elfo Dobby em HARRY POTTER E A CÃMARA SECRETA). A pouca familiaridade que temos com ele colabora na personificação do famoso escritor: por alguns instantes, nos indagamos se não estamos diante de uma reencarnação de Capote, tamanha a perfeição da interpretação. O que a difere da atuação de Phillip são os detalhes: enquanto este procurava algo minimalista e casual, Jones investe na afetação e nos trejeitos mais exagerados, marcando de vez sua visão do personagem. E esta orientação se reflete em todo o filme: se em CAPOTE tudo era mais sóbrio e reflexivo, CONFIDENCIAL aposta nas emoções e, principalmente, nas reações dos envolvidos em ambos os lados da tela.
A estrutura da trama é praticamente a mesma: o processo de investigação de Truman Capote sobre o assassinato de toda uma família no interior do Texas. Este material acabou rendendo o livro mais marcante dele, "À Sangue Frio". Truman e sua amiga Harper Lee (uma composição surpreendente de Sandra Bullock, no melhor desempenho de toda a carreira dela) saem do mundo cosmopolita de Nova York e decidem se aprofundar naquele universo tão distante e, ao mesmo tempo, tão curioso e específico. Dirigido por Douglas McGrath, o mesmo de EMMA (1996) e NICHOLAS NICKLEBY (2002), o filme deixa bem claro duas facetas do protagonista: se por um lado era um profissional genial e obstinado, por outro era também uma pessoa ligada nos pequenos defeitos da alma humana, como fofocas, invejas, intrigas e dissimulações. Poucos gostariam de ser como ele, mas por outro lado é quase impossível não se interessar por uma personalidade tão intrigante e hipnótica.
Outro ponto que desperta atenção em CONFIDENCIAL é a impressionante quantidade de participações especiais que o filme apresenta. Gwyneth Paltrow, Sigourney Weaver, Hope Davis, Juliet Stevenson, Isabella Rosselini, Peter Bogdanovich e Jeff Daniels fazem rápidas aparições, porém enriquecendo a obra inestimavelmente. O único de todo o elenco, no entanto, à altura do protagonista é Daniel Craig (007 - CASSINO ROYALE), como um dos assassinos. Ele emprega uma verossimilhança e uma determinação que estabelecem um confronto que chega a mexer com os nervos do público. A relação entre Craig e Jones é um dos pontos altos do filme.
Talvez CONFIDENCIAL não seja tão elegante e inteligente quanto CAPOTE, por exemplo. Mas é uma produção que envolve o espectador e incita a curiosidade em relação ao que é narrado. Melhor ou pior, é difícil dizer. O mais certo, mesmo, é que é diferente na medida certa e tão competente quanto, considerando-se que ambos possuem diretrizes distintas. O problema deste segundo é que, como veio depois, infelizmente estará destinado a ficar na sombra do anterior. Um destino certamente imerecido.
Infamous, EUA, 2006
(nota 8,5)
Na pele do escritor Truman Capote, autor de "Bonequinha de Luxo", dessa vez está o praticamente desconhecido Toby Jones (que havia aparecido em pequenos papéis em SENHORA HENDERSON APRESENTA e EM BUSCA DA TERRA DO NUNCA, além de ter sido a voz do elfo Dobby em HARRY POTTER E A CÃMARA SECRETA). A pouca familiaridade que temos com ele colabora na personificação do famoso escritor: por alguns instantes, nos indagamos se não estamos diante de uma reencarnação de Capote, tamanha a perfeição da interpretação. O que a difere da atuação de Phillip são os detalhes: enquanto este procurava algo minimalista e casual, Jones investe na afetação e nos trejeitos mais exagerados, marcando de vez sua visão do personagem. E esta orientação se reflete em todo o filme: se em CAPOTE tudo era mais sóbrio e reflexivo, CONFIDENCIAL aposta nas emoções e, principalmente, nas reações dos envolvidos em ambos os lados da tela.
A estrutura da trama é praticamente a mesma: o processo de investigação de Truman Capote sobre o assassinato de toda uma família no interior do Texas. Este material acabou rendendo o livro mais marcante dele, "À Sangue Frio". Truman e sua amiga Harper Lee (uma composição surpreendente de Sandra Bullock, no melhor desempenho de toda a carreira dela) saem do mundo cosmopolita de Nova York e decidem se aprofundar naquele universo tão distante e, ao mesmo tempo, tão curioso e específico. Dirigido por Douglas McGrath, o mesmo de EMMA (1996) e NICHOLAS NICKLEBY (2002), o filme deixa bem claro duas facetas do protagonista: se por um lado era um profissional genial e obstinado, por outro era também uma pessoa ligada nos pequenos defeitos da alma humana, como fofocas, invejas, intrigas e dissimulações. Poucos gostariam de ser como ele, mas por outro lado é quase impossível não se interessar por uma personalidade tão intrigante e hipnótica.
Outro ponto que desperta atenção em CONFIDENCIAL é a impressionante quantidade de participações especiais que o filme apresenta. Gwyneth Paltrow, Sigourney Weaver, Hope Davis, Juliet Stevenson, Isabella Rosselini, Peter Bogdanovich e Jeff Daniels fazem rápidas aparições, porém enriquecendo a obra inestimavelmente. O único de todo o elenco, no entanto, à altura do protagonista é Daniel Craig (007 - CASSINO ROYALE), como um dos assassinos. Ele emprega uma verossimilhança e uma determinação que estabelecem um confronto que chega a mexer com os nervos do público. A relação entre Craig e Jones é um dos pontos altos do filme.
Talvez CONFIDENCIAL não seja tão elegante e inteligente quanto CAPOTE, por exemplo. Mas é uma produção que envolve o espectador e incita a curiosidade em relação ao que é narrado. Melhor ou pior, é difícil dizer. O mais certo, mesmo, é que é diferente na medida certa e tão competente quanto, considerando-se que ambos possuem diretrizes distintas. O problema deste segundo é que, como veio depois, infelizmente estará destinado a ficar na sombra do anterior. Um destino certamente imerecido.
Infamous, EUA, 2006
(nota 8,5)
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