domingo, setembro 23, 2007

HAIRSPRAY

O que há de errado em HAIRSPRAY - EM BUSCA DA FAMA? Absolutamente nada! O filme é absurdamente perfeito! A direção generosa, as atuações dedicadas do elenco, a trilha sonora criativa e envolvente, a direção de arte colorida e esfuziante... tudo funciona à perfeição! E sempre é um prazer inegável quando um projeto cercado de tantas expectativas termina por cumpri-las à contento, satisfazendo desde os fãs mais ardorosos até os simples curiosos.

Para se entender um pouco desta história é preciso estar por dentro de suas origens. John Samuel Waters Jr., quando adolescente, tinha como uma de suas maiores diversões assistir a um programa musical vespertino que era uma verdadeira febre entre os jovens da Baltimore dos anos 60. E ele estava sempre acompanhado do seu melhor amigo, Harris Glen Milstead. Décadas se passaram e, lá pela metade dos anos 80, o garoto já havia crescido e era conhecido somente como John Waters, cineasta. E foi nesta época que ele resolveu fazer um filme quase autobiográfico, chamando para ser um dos protagonistas aquele mesmo amigo, que agora era um travesti que atendia pelo nome de Divine! O nome do longa era HAIRSPRAY - E ÉRAMOS TODOS JOVENS, usando os cabelos estáticos para falar sobre a necessidade de se adaptar aos novos tempos, do preconceito contra os "diferentes" e da mudança de pensamento que os jovens estavam causando na sociedade.

Sucesso no circuito alternativo, o HAIRSPRAY que chegou às telas em 1988 acabou inspirando uma versão musical, levada à Broadway em 2002 com um impressionante retorno de público e de crítica - foram 13 Tonys (o Oscar do teatro norte-americano) conquistados! E, numa trajetória semelhante a que aconteceu com OS PRODUTORES (1968 / 2001 / 2005), HAIRSPRAY volta às telas, porém totalmente remodelado e na mesma versão dos palcos! O bom resultado se repetiu mais uma vez: mais de US$ 114 milhões arrecadados nas bilheterias só nos EUA, além de 93% de aprovação no Rotten Tomatoes (em 184 críticas, apenas 13 falaram mal do filme)! Já premiado como Melhor Elenco no Hollywood Film Festival, com certeza deve causar impacto nas escolhas do final do ano, especialmente no Oscar e no Globo de Ouro!

E qual a história de HAIRSPRAY? Bom, a trama começa com duas colegas de escola saindo correndo da aula para não perder o início do The Corny Collins Show - programa de tv que mostra as últimas músicas e danças que fazem a cabeça da garotada, além de ser patrocinado por um spray de cabelos que dita a moda entre a juventude! Neste dia elas descobrem que vai abrir uma vaga no show, e a mais gordinha das duas resolve fazer um teste. No dia da prova ela não só é recusada pela produtora megera - e mãe de uma das dançarinas - como se envolve numa questão racista. É que uma vez por mês o programa apresenta o "Negro Day", um dia que que tanto os dançarinos quanto o próprio apresentador são substituído por negros, que mostram o "outro lado da música das ruas". A menina acredita que "todos os dias deveriam ser como o 'Negro Day'", ou seja, que não deveria haver esta separação racial, e que os números performáticos merecem ser integrados. Ao mesmo tempo em que isso assusta os produtores do programa, agrada o público, que começa a votar nela para ser a próxima "Miss Teen Hairspray"!

Adam Shankman, diretor de comédias constrangedoras como DOZE É DEMAIS 2 e OPERAÇÃO BABÁ (ambas de 2005), disse que HAIRSPRAY é o seu "primeiro filme de verdade"! Sim, porque ele foi um premiado coreógrafo da Broadway, levado meio que ao acaso para o cinema. E agora finalmente pode mostrar tudo o que sabe, revelando um potencial inusitado! Ele não só conduz a história com respeito, cuidado e sabedoria, como prepara cada momento com precisão, desde a entrada de personagens chaves (Velma von Tussle, Edna Turnblad, Motormouth Maybelle) até o momento clímax de cada um, todos donos de no mínimo um grande número musical. As letras de Marc Shaiman e Scott Wittman não só contribuem decisivamente no desenvolvimento do enredo, como também são dotados de carisma, inteligência e uma fina ironia. E, claro, são totalmente harmoniosas, daquelas que grudam e nos fazem sair cantarolando após o término da sessão!

Já o elenco é, por si só, um mérito à parte! A começar pela protagonista Nikki Blonski, uma desconhecida que até pouco tempo atendia numa sorveteria em Nova York! A menina é surpreendente, desempenhando a maioria das canções com uma desenvoltura de profissional, simpática e com ótima voz! Já John Travolta, como a mamãe Edna, é outro espanto! Mesmo sob uma roupa de treze quilos ele consegue dotar sua personagem de uma leveza e delicadeza singular. Michelle Pfeiffer marca sua volta às telas - após 5 anos afastada - em grande estilo, compondo uma vilã memorável. Queen Latifah faz muito mais aqui do que em CHICAGO (2002), outro musical que lhe rendeu uma indicação ao Oscar! Zac Efron mostra que o fenômeno alcançado em HIGH SCHOOL MUSICAL talvez não seja passageiro - ele sabe dançar, cantar e encantar! James Marsden (X-MEN) comprova uma experiência de anos nos palcos da Broadway, enquanto que Christopher Walken mostra mais uma vez porque é um dos atores mais requisitados de Hollywood! Se ele é bom até quando está num filme ruim, imagina neste, que é ótimo?

HAIRSPRAY - EM BUSCA DA FAMA é envolvente, empolgante, colorido, agitado e divertido. Mas, ao mesmo tempo, é sério, crítico, politicamente engajado e consciente de suas responsabilidades e possibilidades. Um feito raro: uma obra que faz pensar enquanto entretém com muita garra. Um filme para ser visto e revisto, analisado com cuidado e usado como referência futura. Quem disse que algo "leve" deve ser leviano? O que temos aqui é justamente o contrário. Afinal, como diz o próprio slogan da produção, "se você quer ser grande é preciso pensar grande"! E aqui todos pensaram "grande" na medida exata!

Hairspray, EUA, 2007
(nota 10)


2 comentários:

Anônimo disse...

Otimo. Adorei o texto e uma puta vontade de assistir.

Fabiano.

Larissa Bitencourt disse...

Robledo! Vc veio pro festival de cinema do Rio???
bjs