quinta-feira, setembro 20, 2007

O ULTIMATO BOURNE

Matt Damon é um dos mais improváveis astros do cinema hollywoodiano. O cara penou anos como coadjuvante em comédias bobinhas até emagrecer muito quilos e ser notado numa pequena participação em CORAGEM SOB FOGO (1996). Depois vieram trabalhos com diretores conceituados, como Francis Ford Coppola (O HOMEM QUE FAZIA CHOVER, 1997) e Steven Spielberg (O RESGATE DO SOLDADO RYAN, 1998), até a consagração em GÊNIO INDOMÁVEL (1997), de Gus Van Sant, pelo qual concorreu ao Oscar de Melhor Ator e levou a estatueta dourada na categoria de Melhor Roteiro Original. Desde então, nesta última década ele vem alternando obras engajadas (SYRIANA, O BOM PASTOR), desempenhos elogiados (OS INFILTRADOS, O TALENTOSO RIPLEY), campeões de bilheteria (a trilogia ONZE HOMENS E UM SEGREDO) e alguns percalços (LIGADO EM VOCÊ, OS IRMÃOS GRIMM). Mas o melhor dele - atuação, carisma, empenho - pode ser encontrado apenas em três filmes: a trilogia BOURNE, composta por este ULTIMATO e pelos anteriores IDENTIDADE (2002) e SUPREMACIA (2004).

Se no primeiro filme fomos apresentados a um espião secreto desmemoriado que buscava salvar sua pele de assassinos profissionais e no segundo presenciamos o início da luta por vingança, agora ele está mais perto do que nunca da sua própria história, relembrando fatos cruciais e prestes a revelar os culpados pelo destino trilhado até este momento. O melhor é que esta é uma série absurdamente concisa. Cada episódio foi feito, pensado e elaborado separadamente um do outro, e em alguns casos não tendo nada além do título como semelhança aos livros originais de Robert Ludlum. E, mesmo assim, tudo faz muito sentido! É um material novo, sintonizado com a modernidade, ágil e muito bem realizado. Doug Liman (SR. E SRA. SMITH) dirigiu o primeiro filme e produziu os dois seguintes, que tiveram como diretor Paul Greengrass, indicado ao Oscar neste ano por VÔO UNITED 93. Os dois delinearam um caminho muito seguro, e tudo segue exatamente de acordo com o proposto, mesmo que nunca previsível ou corriqueiro: inovação e ousadia são palavras-chave na produção, e quem mais ganha é o espectador.

Tramas como agentes secretos são quase um subgênero dentro do cinema norte-americano. Mas poucos são tão sérios e, ainda assim, empolgantes quanto os filmes BOURNE. Tudo que Jason Bourne (Damon, encarnando com precisão o personagem, por mais surpreendente que isto possa parecer) faz, suas atitudes e decisões, são absolutamente naturais e convincentes, como se estivéssemos refletindo cada novo problema ao lado dele. Os traumas que ele enfrenta, os perigos superados e as conquistas almejadas são vivenciadas pela platéia em igual intensidade, tornando cada filme uma jornada única.

O ULTIMATO BOURNE é, sem sombra de dúvida, o melhor blockbuster da temporada de férias nos Estados Unidos. HOMEM-ARANHA 3, PIRATAS DO CARIBE 3, SHREK 3, TREZE HOMENS E UM NOVO SEGREDO, QUARTETO FANTÁSTICO 2, HARRY POTTER 5, DURO DE MATAR 4.0, TRANSFORMERS, OS SIMPSONS, RATATOUILLE... alguns foram mais bem sucedidos do que outros, mas em geral todos acabaram decepcionando em algum ponto. Com exceção deste aqui, perfeito em praticamente todos os quesitos. Com um elenco coadjuvante impressionante (Joan Allen, David Strathairn, Albert Finney, Julia Stiles, Daniel Brühl, Scott Glenn, Paddy Considine), um diretor plenamente consciente de sua história e das possibilidades à disposição e um protagonista em sua melhor forma, este BOURNE 3 consegue combinar entretenimento, lógica, inteligência e diversão como poucos. Um mérito cada vez mais raro, e que merece ser reconhecido.

The Bourne Ultimatum, EUA, 2007
(nota 9)

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