Chega a ser impressionante como tanta coisa pode dar errada em INESQUECÍVEL! Isso porque estamos falando de uma trama aparentemente comum aos cinéfilos e cineastas nacionais - o triângulo amoroso, vide o clássico DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS ou o recente PRIMO BASÍLIO - e de um elenco minimamente competente, além de outros requisitos técnicos de destaque, como o roteirista e a produtora. Mas, sob o comando de Paulo Sérgio de Almeida, tudo combinado se põe diante o público como um dos maiores desastres da cinematografia brasileira recente, um produto previsível e constrangedor que afunda vergonhosamente em suas próprias ambições.
INESQUECÍVEL é dividido em três atos, cada um com aproximadamente 30 minutos de duração. O primeiro - o mais bem sucedido de todos - se passa em Buenos Aires e mostra o amor fulminante que surge entre o fotógrafo Guilherme (Caco Ciocler, perdido e sem direção) e a estilista e ex-modelo Laura (a esforçada estreante Guilhermina Guinle, incrivelmente a melhor do trio protagonista). Ela vai numa exposição dele, em seguida estão um na cama do outro e quando se percebe ela está num avião de volta para o Brasil e ele, desesperado, partindo em sua busca. Os dois voltam a se reecontrar no Rio de Janeiro, já na segunda etapa da história - quando as coincidências, e absurdos, começam a se proliferar: ela está de casamento marcado com o ator Diego (Murilo Benício, vergonhoso), que é o melhor amigo de Guilherme. Os três estão sempre juntos, e o ciúme do noivo passa a corromper as relações entre eles, até um final trágico. Mas o pior ainda está por vir, numa conclusão que pode ser, na melhor das hipóteses, classificada como risível: um dos vértices do triângulo, mesmo falecido, continua a atormentar a vida dos dois sobreviventes, levando-os praticamente à loucura.
Insano mesmo deve ser o espectador que tentar buscar alguma lógica neste embaralhado de referências ao cinema noir, ao suspense psicológico e ao romance como detonador de desgraças. Tudo é muito falso - os cenários, as atuações, os enquadramentos, os acontecimentos - e nada soa natural e convincente. Paulo Sérgio de Almeida, diretor de obras populares como SONHO DE VERÃO (1990), com as Paquitas, e POPSTAR (2000), XUXA E OS DUENDES (2001) e XUXA E OS DUENDES 2 (2002), todos estrelados pela 'rainha dos baixinhos', parece ter levado à sério demais o universo da apresentadora infantil, acreditando que tudo possa ser resolvido como num conto de fadas - ou, no caso, de terror inconsequente.
Benício, que já foi considerado um dos melhores atores nacionais de sua geração, com desempenhos elogiados em filmes como OS MATADORES (1997), AMORES POSSÍVEIS (2001) e O HOMEM DO ANO (2003), parece estar empenhado em confirmar que SEUS PROBLEMAS ACABARAM (2006), o filme que ele fez com a turma do Casseta & Planeta, talvez não seja uma exceção em sua carreira. Ele está sempre com a mesma expressão dura, fechada e quase cômica - de tão bizarra! Já o habitualmente interessante Caco Ciocler, de OLGA (2004) e QUASE DOIS IRMÃOS (2004), fica o tempo inteiro na procura por um registro, por uma orientação que nunca chega. Mas nada se compara ao roteiro estapafúrdio e esburacado de Marcos Bernstein, que nunca chega aos pés de seus trabalhos mais conhecidos: CENTRAL DO BRASIL (1998) e O OUTRO LADO DA RUA (2004). O enredo, baseado no conto "O Espectro", de Horácio Quiroga, nunca mostra a que veio e o que pretende, perdido entre dilemas inexistentes e em soluções fáceis e clichês. Nem a mão geralmente firme de Mariza Leão, produtora de sucessos como ZUZU ANGEL (2006) e GUERRA DE CANUDOS (1997) parece ter sido capaz de algum efeito positivo.
Com um visual televisivo, nada ousado, que a todo instante revela uma ausência total de criatividade ou planejamento, só nos resta torcer que INESQUECÍVEL cumpra o que o título promete. Dessa forma, talvez sirva de alerta para que outros cineastas nacionais evitem alguns dos desastres aqui muito bem exemplificados.
Inesquecível, Brasil, 2007
(nota 3)
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