Antes de continuar minha peregrinação européia, quero falar um pouco sobre minha passagem pelo Festival de Cinema de Brasília, onde estive entre os dias 25 e 28 de novembro (os quatro últimos do evento).
Foi legal, até pq foi minha primeira vez neste que é o evento cinematográfico mais antigo do país. E também interessante para perceber as diferentes deste com o Festival de Gramado. Enquanto na Serra Gaúcha é tudo festa e glamour, na Capital Federal o lance é bem mais sisudo, compenetrado. Nestes quatro dias consegui assistir a apenas 3 filmes (os premiados "Batismo de Sangue", melhor diretor para Helvécio Ratton, e o grande vencedor "Baixio das Bestas", de Cláudio Assis, além de "Hércules 66", documentário exibido fora de competição), mas deu para sentir que lá o negócio é mais embaixo. Não que seja melhor ou pior do que Gramado: é apenas outro foco. Na verdade, penso que um bom festival deveria conseguir reunir o melhor destes dois mundos: discussões sérias e muita atenção aos filmes em competição, como também bons momentos para o público, com artistas, celebridades e muita badalação.
Brasília é uma cidade muita estranha. Ninguém caminha nas ruas lá. Tudo é feito de carro, já que todos os lugares ficam muito distantes uns dos outros. Sendo assim, o Festival tinha que acontecer dentro de lugares fechados - no Hotel Nacional, onde fiquei hospedado e onde se encontrava tb praticamente TODO mundo que estava na cidade em função do festival, e no Cine Brasília, onde eram exibidos os filmes da mostra competitiva. Acho que, se eu encontrasse algum transeunte no outro lado da calçada e lhe perguntasse "Quando acontece o Festival de Brasília?", provavelmente a resposta que eu teria seria "Que festival?". Ou seja, o evento é só para os interessados, não para o grande público.
Confirmando isso, só estavam por lá os integrantes dos filmes concorrentes. Não tem aquele festival de celebridades e "membros da 'Malhação'", como acontece em Gramado. Como estava realizando a cobertura jornalística, para uma edição especial do Programa de Cinema (foi ao ar na última semana, com edição de Daniel Bacchieri, vcs assistiram?), tive a oportunidade de conversar com praticamente todos mundo que estava lá: Dira Paes, Matheus Nachtergaele, Cássio Gabus Mendes, João Miguel, Heitor Dhalia, Helvécio Ratton, Cláudio Assis, Caio Blat, Evaldo Mocarzel, Vladimir Carvalho, Silvio Tendler. Nenhuma surpresa, enfim. O Assis e o Blat foram os mais difíceis - o primeiro parecia estar sempre numa realidade paralela, enquanto que Blat era considerado "difícil" pela assessoria de imprensa (foi acusado de não comparecer a nenhuma das entrevistas pré-agendadas), mas consegui dois minutos com ele na noite da premiação - afinal ele é protagonista dos dois filmes mais premiados, "Batismo" e "Baixio".
Sobre os filmes? Olha, "Batismo" é bastante relevante, sério, intenso. Baseado no livro homônimo do Frei Betto, é sobre a participação de alguns frades no movimento guerrilheiro anti-militar na época da ditadura. Tem ainda no elenco Cássio, Daniel de Oliveira, Murilo Grossi, além dos gaúchos Júlio Andrade e André Arteche. Isso pq parte do filme se passa no RS - mesmo não tendo sido filmado no Sul. Mas os diálogos são muitos ruins, as cenas de tortura são em demasia e a trama demora um pouco para se fixar no que realmente interessa, que é a trajetória do Frei Titto (Blat). Mas merece ser visto. Já "Baixio" é para um público bem restrito. Tanto que, quando se anunciou o prêmio de Melhor Filme, metade da sala aplaudia e metade vaiava. Assis exagera no seu retrato da podridão humana no interior nordestino, e passa do ponto tão preciso que havia atingido em seu filme anterior, o excelente "Amarelo Manga". Algumas cenas de nudez, sexo e violência são gratuitas, enquanto que outras apresentam uma contundência por vezes revoltante, mas não menos necessária. Um longa para dividir opiniões e gerar polêmica, o que talvez afaste a discussão do que lhe verdadeiramente interessa.
Como não conhecia Brasília, valeu também pelo turismo. Com o carinho e a ajuda dos meus grandes amigos Adriana Timmers e Rafael Mônaco, pude conferir o melhor da cidade. Monumentos belíssimos, lógicas aparentemente estapafúrdias e muitos km de táxi marcaram minha passagem por lá. Ah, e tb a carne de sol, prato típico que encontrou em mim um apreciador. Quem sabe no ano que vem eu não repito a dose?
Um comentário:
Olá Robledo,
Sou o Tom, de Recife, lembra?
Achei seu blog e adorei o que rola por aqui.
Estou morando em Brasília, e na sua passagem por aqui, o Daniel me avisou de sua presença na cidade e eu até cheguei a te ligar, mas por qualquer motivo, o celular deu desligado.
Brasília é uma cidade meio louca mesmo... Hehe... Mas depois que nos acostumamos com essa "lógica" carteziana, logo a gente pensa: "Meus Deus! Como eu vivia sem essa organização???"!! Hahahahaha.
Bom achar o seu espaço. Está convidado para me visitar!
Abraços,
Tom
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