"Marie Antoinette" é o terceiro filme da diretora e roteirista (e, felizmente, ex-atriz) Sofia Coppola. A primeira vez que a filha de Francis Ford Coppola chamou atenção do mundo artístico foi em sua desastrada participação no elenco de "O Poderoso Chefão 3", no papel da filha de Michael Corleone (Al Pacino), personagem, aliás, que fora recusado por Winona Ryder. Até hoje ela é apontada como uma das principais causas do fracasso do terceiro episódio da saga dos Corleone (nem a acho tão ruim assim... mas enfim...). Depois deste vexame, nada melhor do que se reinventar. E ela assim o fez, dedicando-se a carreira de roteirista e realizadora cinematográfica de culto. A estréia foi em 1999, com o ótimo "As Virgens Suicidas". Depois veio o superestimado "Encontros e Desencontros" (Lost in Translation), um filme que até hoje não entendo como pode ter sido tão bem recebido pela crítica que se diz especializada, além de ser objeto de culto para uma legião de fãs. Pois bem, com o lançamento de "Marie Antoinette" percebe-se que a exceção na carreira de Sofia foi o primeiro longa, e não o segundo. "Marie Antoinette" é tão chato - se não ainda mais - do que "Encontros e Desencontros".
A história é baseada na biografia escrita por Antonia Fraser da mais controversa rainha francesa de todos os tempos. Austríaca de nascimento, ela foi enviada para a França ao fazer parte de um acordo político para desposar o príncipe Louis XVI (Jason Schwartzman, filho de Talia Shire, primo de Sofia e de Nicolas Cage e sobrinho de F.F.Coppola). Antes mesmo dos 18 anos ela acaba virando rainha, e se vê no meio das intrigas da corte, da obrigatoriedade de gerar herdeiros, das frivolidades do reino e do pouco caso com o povo. Como todos sabem, Maria Antonieta entrou para a história ao dizer a frase "Se o povo reclama por não ter pão, que lhes dêem brioches!" (suposição contestata no próprio filme). Foi o reinado dela e de Louis XVI que terminou com a Queda da Bastilha, com a revolta do povo e com suas cabeças rolando na guilhotina. Mas a jovem Coppola não se preocupa muito em revelar o contexto político e social da época, se fixando mais nas inquietações pessoais da rainha, no cotidiano dela e em devaneios oníricos, que até rendem imagens bonitas, mas estão longe de resultarem num filme interessante.
"Marie Antoinette" corre o risco de nem ser lançado comercialmente nos cinemas brasileiros, devido o fraco desempenho da obra internacionalmente. Talvez saia em fevereiro, março, ou mesmo direto em dvd. Aqui em Portugal não ficou muito tempo em cartaz. Ao estrear, durante o Festival de Cannes, chegou cheio de expectativas, mas após a exibição já gerava controvérsias, entre os que adoraram e - a maioria - os que o qualificaram como "grande perda de tempo". Eu, sinceramente, fico neste segundo grupo. Além de longo (quase 130 minutos...), é também 'pseudo-moderno', com uma aura pop que não se confirma - além da trilha sonora roqueira, com canções do New Order, Strokes, Air e The Cure, há somente um insólito par de tênis Converse All Star no meio dos sapatos da rainha, e mais nada. O resto é por demais empolado, com um figurino exagerado e cenários impressionantes, mas nada diferente do que já se viu em diversas produções similares. Ou seja, é mais do mesmo.
Kirsten Dunst, a protagonista, repete a parceria com Sofia (esteve tb em "As Virgens..."), mas sem o encanto e o empenho vistos anteriormente. Ela parece dormente, muito distante da imagem que temos dela e da própria personagem que está interpretando. Jason é outro que aparece bastante distante do tipo esquisito e interessante visto em filmes como "A Garota da Vitrine", "Huckabees" e "Rushmore". No resto do elenco, é interessante constatar o desperdício das participações de Judy Davis ("Separados pelo Casamento") e Steve Coogan ("Finais Felizes"), dois atores que certamente poderiam ter rendido muito mais do que aqui presenciamos.
"Marie Antoinette" é longo, chato, enfadonho e nada instigante. Como um grande videoclipe, se perde em cenas intermináveis, e pequenas tramas que a nada levam e em nada acrescenta e uma figura histórica tão relevante como a retratada. Mais do que um desserviço, é sim um desperdício de oportunidade, que, se não chega a afetar os envolvidos no elenco (Kirsten, afinal, vem aí em "Spiderman 3"), talvez sirva para enterrar outras ousadias pretensiosas da caçula dos Coppola.
Marie Antoinette, EUA/FRA/JAP, 2006
(Nota 4)
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Um comentário:
pô, como assim tu não esperou ayé o final de março pra ver no brasil???
hahahaha.
ai ai.
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